31 de maio de 2010

COMO REAGIR À CRISE: POLÍTICA FISCAL

Excelente artigo, ainda que antigo, de 2008 (se é que se pode dizer antigo com essa data), porém, muito atual diante da "nova" crise que experimentamos recentemente.

COMO REAGIR À CRISE: POLÍTICA FISCAL

Beny Parnes
Ilan Goldfajn

A qualidade da reação brasileira à grave crise internacional irá determinar não só a extensão do impacto na economia brasileira nos próximos meses, mas também o seu futuro mais distante. Caso consiga atravessá-la mostrando consistência, com reações que não destruam as bases para o crescimento sustentado, inevitavelmente conquistará espaço no cenário internacional. Nesse caso, o Brasil faria jus à sua participação no BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), conjunto de economias emergentes que determinarão, em boa parte, o futuro da economia mundial.
Mas para isso é necessário que não se considerem apenas os efeitos imediatos das medidas de política econômica a serem adotadas no combate à crise. Em particular, a capacidade futura de crescimento não pode ser comprometida por ações cujo benefício é limitado ao curto prazo, mas que têm efeitos negativos para o crescimento de longo prazo.
Sob a ótica da reação à crise no âmbito da política fiscal, tema desta nota, é sedutor reagir à desaceleração doméstica do nível de atividade com uma política expansionista. Mas há que se considerar também preservar a capacidade de crescimento futuro do Brasil. Um país que tem elevado de forma sistemática os gastos correntes do governo -- financiados hoje com aumento da arrecadação que já atinge quase 40% do PIB (após esgotar o financiamento inflacionário e o da dívida crescente), e comprimindo o espaço dos gastos privados, oferecendo em troca à sociedade serviços ineficientes e investimentos públicos reduzidos -- tende a limitar sua própria capacidade de crescimento. Exacerbar essa tendência pode mais do que compensar os ganhos de curto prazo.
O período recente de bonança na economia mundial ofereceu oportunidades únicas para os países em desenvolvimento. Numa época de forte crescimento mundial, financiamento abundante e ganhos nos termos de troca, é natural esperar melhora nos indicadores do País. De fato, a relação do Brasil com o exterior melhorou substancialmente a partir de 2003, quando houve aumento rápido do preço das exportações brasileiras, do comércio mundial e melhoria nas condições financeiras externas. Esses fatores, combinados com a manutenção de políticas econômicas responsáveis, resultaram em aumento das exportações e dos influxos de capital, redução do endividamento externo, recomposição de reservas e manutenção do superávit em conta corrente. O combate à inflação também avançou consideravelmente nesse período. Sob o regime de metas, o Banco Central teve êxito em reduzir consistentemente a inflação, mantendo-a controlada mesmo sob impacto das crises, depreciações cambiais e outras ameaças inflacionárias.
O avanço na área fiscal foi bem mais limitado. Esperava-se mais esforço do governo, acumulando estoques a serem utilizados nos momentos de crise. Houve aumento considerável da arrecadação tributária, conseqüência do crescimento do PIB e da formalização da economia. Esse aumento de arrecadação associado à regra fiscal baseada em uma meta pré-determinada de superávit primário permitiu o contínuo aumento de gastos nos últimos anos, a uma média de 10% ao ano acima da inflação. É importante notar que, apesar da grande expansão do gasto, o investimento público como proporção do gasto total permaneceu baixo. Na América Latina, como um todo, essa relação encontra-se no menor nível dos últimos 30 anos!
A arrecadação elevou-se consideravelmente, mas o aumento do superávit primário foi limitado. Com isso, a queda da dívida pública foi menor do que deveria ter sido: a relação dívida/PIB alcançou 40%, nível equivalente ao de 1998. A dívida ainda se beneficiou da melhora na situação do balanço de pagamentos, com a acumulação de reservas e exposição positiva ao dólar. A depreciação que acompanhou a virada na situação internacional reduziu a relação dívida/PIB para 36%.
Para frente é de esperar uma retração da economia brasileira em função da reversão simultânea dos preços de exportação, da piora das condições de financiamento externo e do aumento da percepção de risco soberano. O ajuste no cenário externo vai exigir redução na demanda agregada.
Nesse cenário é provável ocorrer uma queda da arrecadação tributária. No último ciclo de expansão, o crescimento da arrecadação foi muito dependente de fatores específicos, como o crescimento do crédito, dos lucros financeiros, da expansão do consumo (principalmente de bens duráveis) e do emprego. À medida que, no quadro que se avizinha, esses fatores não mais estejam presentes, o crescimento da arrecadação tributária deve se reduzir no biênio 2009-2010. Isso trará desafios inéditos para a administração da política fiscal e imporá limites à expansão de gastos.
Nesse sentido, podemos concluir que a política fiscal tem tido um comportamento pró-cíclico. Faz poucos anos, no primeiro mandato do governo Lula, houve a louvável proposta de instituir metas de longo prazo, limitando gastos correntes, gerando um superávit fiscal estrutural de forma a reduzir o endividamento público e remover o obstáculo fiscal ao crescimento da economia. Infelizmente, a proposta não avançou, batizada de “rudimentar” por olhar o futuro de forma simples e clara.35
Cabe perguntar se este seria o momento de iniciar uma política fiscal anticíclica em reação à crise internacional de 2007/8. Normalmente, recomenda-se iniciar uma política anticíclica nos momentos de expansão econômica, para ajudar a criar credibilidade. Há sempre a desconfiança baseada no histórico brasileiro e latino-americano de o excesso de gastos no período de necessidade não ser acompanhado por sua redução nos períodos de bonança. O comportamento recente das economias justifica esse temor. Assim sendo, há o risco de o aumento de gastos anticíclicos gerar temores quanto à sustentabilidade fiscal.
Dessa forma, o limite imposto pela situação fiscal ao crescimento de longo prazo, assim como o risco de renascerem dúvidas quanto à sustentabilidade fiscal, não ecomendariam uma política fiscal expansionista como reação à crise financeira internacional.
Apesar da recente melhoria da relação dívida/PIB, decorrente da posição credora em moeda estrangeira, a grande incerteza e a volatilidade que permanecem nos mercados de ativos trazem o risco de que mudanças na percepção dos agentes sobre a condução da política fiscal possam provocar deslocamentos bruscos nos preços dos ativos e nas condições de financiamento.
É relevante questionar em que condições os benefícios de curto prazo de uma política fiscal expansionista no combate à desaceleração no Brasil mais do que compensariam as contra-indicações acima? E, neste caso, qual é a forma adequada de gerir a política fiscal?
O ajuste na política fiscal deve depender da natureza e da intensidade dos choques que atingirão a economia brasileira. Num cenário de choque internacional moderado (onde os preços dos ativos e das commodities não sofram quedas ainda mais bruscas, mesmo que permaneçam em níveis bem inferiores àqueles verificados no início do ano), a economia brasileira deverá se ajustar à nova realidade, preservando seu balanço de pagamentos através da redução da demanda agregada. Nesse cenário, não é benéfico adotar uma política fiscal anticíclica (principalmente se for baseada na expansão do gasto corrente), sob o risco de suscitar dúvidas sobre o crescimento futuro ou sustentabilidade fiscal.
Nesse cenário moderado, caso a menor demanda agregada aumentasse o hiato do produto de forma que a inflação ficasse abaixo do centro da meta, o ajuste fino de demanda poderia ser levado a cabo pela política monetária.
Nesse sentido, caso haja um aumento de gastos públicos, poderia não haver espaço para a utilização da política monetária como instrumento anticíclico, o que significaria exacerbar a pressão sobre os gastos privados (investimento, consumo) num período em que estes naturalmente já se retraem.
Apenas num cenário extremo de depressão mundial, onde o ajuste via política monetária não fosse suficiente, recomendaríamos a redução do superávit primário como instrumento contracíclico de política econômica. Esse cenário seria caracterizado domesticamente por aumento da aversão a risco e piora das expectativas de renda, implicando queda significativa dos componentes da demanda agregada, como investimento e consumo privado e exportações, e/ou contração da oferta de crédito doméstico e dificuldade sistemática de financiamento para empresas e consumidores.
Nesse caso, é consenso que se deve tentar amortecer os efeitos do choque sobre o investimento - seja público ou privado -, que provavelmente deve se reduzir dadas as piores expectativas de rentabilidade futura. O ajuste deveria recair no consumo privado e/ou no gasto público. O consumo privado se ajustará naturalmente, seguindo expectativas de evolução de emprego e renda e da taxa de juros.
Nesse cenário mais pessimista, a execução da política fiscal deveria ser baseada na redução da meta de superávit primário para: (i) expansão do investimento público em infra-estrutura de forma a aumentar a oferta agregada e a produtividade total dos fatores; e/ou (ii) redução nos impostos do setor corporativo, melhorando as expectativas de rentabilidade, incentivando a manutenção do emprego, o crescimento do investimento privado e reduzindo a demanda por crédito.

"Chantagistas sociais" em ação

A liberdade de expressão e de informação é a grande inimiga desses "chantagistas sociais":
Centrais sindicais e movimentos sociais pretendem, com dois vultosos eventos no início desta semana, aprovar reivindicações para cobrar respostas dos presidenciáveis. Sem um alvo preferencial entre os que postulam o Palácio do Planalto, elegeram como inimigo “o principal partido de direita” no País – “os conglomerados privados de mídia” (SIC).
Amanhã, a Coordenação dos Movimentos Sociais (SIC), composta por CUT, UNE, MST e mais 25 entidades, deve, além de desferir golpes contra a imprensa, ratificar um documento-base a ser apresentado a Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina
Silva (PV). Intitulado Projeto Nacional e Popular dos Movimentos Sociais, o texto elogia os “avanços” da gestão petista e classifica a crise do mensalão no governo federal como “tentativa de golpe contra Lula em 2005”. (Estadão, 31/05/2010).

28 de maio de 2010

Guerra entre Coréias é iminente

A prova está aqui: O pequeno irmão do norte já realizou os preparativos essenciais para a guerra. Importou uma fábrica de cerveja da Inglaterra, e a tem expandido continuamente.

E o ocidente se preocupando com o tráfico de armas nucleares...

http://www.kcna.co.jp/item/2010/201005/news27/20100527-12ee.html

27 de maio de 2010

Depois da visão eurocêntrica, a visão afrocêntrica do MEC

Os liberais em geral acompanham com grande apreensão o movimento de doutrinação educacional realizado pela esquerda ao longo de décadas. Este é um movimento mundial. E não há nada de novo no uso da educação para a propagação de ideologias. Só muda a ideologia que busca controlar de forma maquiavélica a doutrinação das mentes frescas das crianças.

Na minha época de estudante em colégio de freiras, passamos por um forte controle católico sobre o currículo. Certos fatos históricos desconfortáveis eram abordados rapidamente, e fazia parte da educação um grande número de aulas de 'ensino religioso', em geral ministradas por alguma beata com mentalidade pré-renascentista. Eu sempre me incomodei bastante com estas aulas. Mas, até mesmo uma criança é capaz de ver que educação física, a antiga 'educação moral e cívica' e ensino religioso não se comparam às disciplinas do núcleo, como matemática, ciências e língua portuguesa.

A educação básica já faria muito, especialmente neste país de ignorantes diplomados, se conseguisse diminuir um pouco nossa situação de analfabetismo funcional e matemático. Muitos estudantes brasileiros que buscam ingressar em uma universidade são incapazes de entender um texto ou realizar uma conta simples. Muitos aprendem a pensar logicamente quando chegam na universidade. Um desperdício de tempo. Alguns, nem mesmo lá...

Em particular, nos departamentos de pedagogia, onde são definidos os caminhos educacionais dos pequenos, impera o obscurantismo dos beatos da esquerda, e agitadores políticos tem conseguido continuamente colocar novos assuntos na pauta educacional, sempre com algum objetivo político e com grande ódio à diversidade de currículo.

Como boa parte do Brasil teve uma forte influência africana, estes ditadores de currículos decidiram introduzir 'estudos africanos' no currículo brasileiro.

Isto é especialmente patético no nosso estado, Santa Catarina, onde a população de origem negra é minoria, e de origem alemã, italiana, polonesa e açoriana é maioria. Claro que o estudo da África enriquece a educação das crianças. Mas meses a fio? Mas porque não estudar o Japão? Ou, dependendo do professor, estudar mais os países vizinhos? Não é melhor para um professor no Amazonas estudar mais sobre os diferentes grupos indígenas? Não é melhor no Rio Grande do Sul estudarem mais sobre os povos platinos? Não é esse o desejo do MEC.

Graças ao MEC, nossos alunos recebem uma cantilena de estudos africanos, que se somam ao já extenso currículo sobre povos indígenas. Nosso filho na escola deve estar estudando temas da escravidão e África há uns dois meses já. Virou tema do semestre inteiro, já que a escola decerto quer 'fazer bonito' com o MEC.

A África, que para o Brasil é quase sempre África ocidental, é retratada sob as lentes do relativismo cultural. Textos de lendas africanas são usados como ferramenta de estudo das culturas africanas, e para transmitir experiências de vida, assim como Andersen e Esopo, agora fora de moda, eram usados no passado.

Na fábula que li ontem para ele, o herói da estória, uma aranha sempre envolvida com tramóias, dá um jeito de enganar o porco, para não ter que nunca mais pagar uma dívida com ele.

Em outra estória, o herói inventava uma maneira de roubar as terras do vizinho camaleão mentindo para o juiz.

As estórias são divertidas, mas são evidentes nestas lendas 'valores' africanos como a vontade de levar vantagem, também comum à tradição ibérica, e a crença na superstição e na magia. Bom, pelo menos às vezes o herói trapaceiro se dá mal...

Os negros no Brasil são retratados, como sempre, no eterno papel de escravos oprimidos, o que na minha opinião não contribui em nada para relaxar as tensões étnicas, e apenas reinforça o 'coitadismo'.

Os avós dessas crianças catarinenses trabalhavam como burros de carga e também não tiveram uma vida nada fácil. Eram ignorantes e pobres.

Mas ninguém ficará repetindo eternamente na escola que os imigrantes catarinenses eram uns coitados mortos-de-fome vindo da Europa como refugiados para se instalar no meio do nada.

Já as crianças descendentes de africanos precisam escutar até a exaustão que seus antepassados eram escravos, o quanto sofriam, o quanto eram explorados, e o quanto elas se diferenciam das outras crianças por causa destes acontecimentos históricos.

No questionário para o meu filho a professora escreve:

"Hoje em dia não há mais escravos. Mas será que a escravidão acabou?"

Não tenho dúvidas que a escola não terá problemas com o MEC.

26 de maio de 2010

Eles previram a crise: Peter Schiff was right


Peter Schiff, da Euro Pacific Capital, é um investidor e analista financeiro que fez várias aparições na televisão americana alertando para a crise que se avizinhava. Alertou para as distorções causadas por juros baixos, para a deterioração dos fundamentos da economia americana, para a grande irresponsabilidade na concessão de crédito imobiliário para pessoas sobre-alavancadas, ou sem estabilidade e sem garantia de renda, para a deterioração dos ativos bancários e possível risco de colapso de grandes instituições.

Frequentemente os outros debatedores riam e ridicularizavam as opiniões de Schiff, sem aprensentar entretanto qualquer argumento convincente, e dando conselhos do tipo 'compre ações do setor financeiro', ou 'o setor imobiliário está forte'. Vale a pena conferir a série de vídeos de Peter Schiff no YouTube, especialmente o debate com Arthur Laffer, conhecido ex-conselheiro do governo Reagan.

Peter Schiff was right
http://www.youtube.com/watch?v=2I0QN-FYkpw

Schiff segue fortemente a escola austríaca. Como outros investidores 'do contra, ele sistematicamente aposta no colapso da moeda fiat, especialmente o dólar. Só que após a crise houve uma grande valorização do dólar, e Schiff perdeu muito dinheiro para seus clientes.

Também após a bolha do Nasdaq, Schiff preveu uma grande recessão. O Fed, entretanto, abaixou tanto os juros que o mercado foi varrido por uma liquidez jamais vista que precipitou o grande boom entre 2001-2008. Schiff corrigiu suas previsões em 2002 e 2003. O mundo entraria em uma fase de crescimento induzido por crédito sem precedentes na história.

As coisas levam tempo. O bom investidor tem que saber medir suas certezas no tempo. Schiff é um investidor idealista. Sabendo da total bagunça em que se encontram as finanças americanas e que o país está caminhando em direção a um colapso financeiro, e sabendo da ignorância dos 'especialistas' econômicos, PhDs em economia das maiores universidades americanas que falam as maiores barbaridades, Schiff decidiu se candidatar ao senado americano.

Resumindo, Schiff é sempre uma voz incômoda que repete até a exaustão conceitos completamente ignorados por especialistas do mainstream, como a teoria dos ciclos austríaca, o caminho da moeda fiat para uma hiperinflação e um eventual retorno a uma moeda lastreada, com consequente perda de posição geopolítica e econômica para os Estados Unidos, uma vez que o dólar deixe de ser considerado moeda de reserva. Concordo com Schiff e acho que este caminho é inevitável. Só que ninguém sabe como será o timing. Mas as chances de aparecer algum Volcker como no passado e elevar os juros para 20% nos EUA e realinhar uma economia bêbada com a realidade parece fora de questão. Porque houve uma mudança profunda do comportamento econômico do americano. De formigas, passaram a ser cigarras, e as cigarras jamais vão aprovar uma reforma monetária feita pelas formigas...

25 de maio de 2010

Coréia do Sul afunda honra da República Democrática da Coréia do Norte


Em solidariedade com o pequeno irmão da Coréia do Norte e contra a agressão dos fantoches capitalistas da Coréia do Sul, que sem nenhuma evidência afundaram a honra da gloriosa República Democrática Norte-Coreana com seus ataques infundados, estamos publicando o endereço das notícias oficiais norte-coreanas, onde pode-se obter informações verdadeiramente confiáveis e acompanhar o dia-a-dia do grande pequeno líder, Kim Jong Il, farol radiante da nossa revolução.

http://www.kcna.co.jp/index-e.htm

A esquerda não quer a reforma agrária

A Senadora Kátia Abreu é uma das poucas vozes ativas na política brasileira. Segue artigo seu no Estadão (25/05/10):
Nada obsta mais a reforma agrária no Brasil que a manipulação político partidária que dela se faz. A estratégia criminosa de invasões de terras é a ponta de lança desse processo. Transforma o produtor rural em vilão e o invasor em vítima, numa espantosa inversão de valores. A entidade que tudo patrocina, o Movimento dos Sem-Terra (MST), inexiste juridicamente, o que impede reparações judiciais.
O governo, que deveria garantira segurança dos contribuintes, faz vista grossa, emite declarações simpáticas aos invasores e chega ao requinte deproduzir um decreto, o PNDH-3, em que os considera parte a ser ouvida antes de o invadido recorrer à Justiça para reclamar a reintegração de posse.
Pior: financia os invasores, via ONGs constituídas com a única finalidade de gerir uma entidade abstrata, embora concreta em seu objetivo predatório. Acumulam-se aí ilícitos: além da invasão, há o ato irregular governamental, denunciado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, de financiar entidades que burlam a lei.
Quanto já foi gasto – sabe-se que são centenas de milhões de reais–a pretexto da reforma agrária, em dinheiro repassado a essas ONGs? E o que de concreto foi
feito para realizá-la? Qual a produtividade dos assentamentos do MST? São perguntas sem resposta, que justificaram a instalação de uma CPI mista no Congresso Nacional, sistematicamente sabotada pela maioria governista.
Em vez de respondê-las, os agentes partidários, travestidos de funcionários públicos, empenham-se em difundir a infâmia de que a maioria dos produtores rurais
ou é predadora do meio ambiente ou escravagista.
A manipulação de causas contra as quais ninguém, na essência, se opõe é um dos truques de que se vale uma certa esquerda fundamentalista, adversária da livre-iniciativa, para manter como reféns os produtores rurais,difamando-os. Nenhuma pessoa de bem – e a imensa maioria dos produtores rurais o é – é a favor do trabalho
escravo ou da destruição do meio ambiente. Mas isso não significa que concorde com qualquer proposta que se apresente apretexto de defender tais postulados. Não basta pôr na lei punições contra o “trabalho degradante”. É preciso que se defina o que é e o que o configura concretamente, princípio elementar da técnica jurídica.
A lei não pode ser meramente adjetiva, o que a torna, por extensão, subjetiva, permitindo que seja aplicada conforme o critério pessoal do agente público. Foi esse o ponto que me fez, como deputada federal e depois como senadora, exigir emendas a uma proposta legislativa de punição por trabalho escravo. Não o defendo
e o considero uma abjeção inominável. Quemo promove deve ser preso e submetido aos rigores da lei, sem exceção, sem complacência.
Mas tão absurdo e repugnante quanto o trabalho escravo é manipulá-lo com fins ideológicos. O que se quer é o fim da livre iniciativa no meio rural, pela sabotagem ao agronegócio, hoje o segmento da economia que mais contribui para o superávit da balança comercial do País.
A fiscalização das propriedades rurais está regulada pela Norma Regulamentar n.º31 do Ministério do Trabalho (MT), que tem 252 itens e desce a detalhes absurdos, como estabelecer a espessura do pé do beliche e do colchão.
Afirmei, em razão desses excessos, ser impossível cumpri-la em sua totalidade e que havia sido concebida exatamente com essa finalidade. Tanto bastou para que fosse acusada de defender o trabalho escravo, recusando-me a cumprir práticas elementares, como o fornecimento de água potável e condições básicas de higiene. Desonestidade
intelectual pura. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), que presido, tem sido bem mais eficaz que o Estado na fiscalização trabalhista nas propriedades rurais. Basta conferir os números: os grupos móveis de
fiscalização do MT percorreram, em sete anos – de 2003 até hoje –, 1.800 fazendas. A CNA, em 90 dias, percorreu mil fazendas e já está promovendo o circuito de retorno,
para averiguar as providências tomadas.
(...)
É preciso que se saiba que 80% dos produtores rurais brasileiros são de pequeno emédio portes e não suportam economicamente esse tipo de sabotagem, que se insere no rol de crimes contra o patrimônio, de que as invasões de terras são a ponta de lança.
Em quase todos os casos, os enquadrados como escravagistas não são processados. E por um motivo simples: não o são. As autuações trabalhistas que apontam
prática de trabalho escravo são insuficientes para levar o Ministério Público a oferecer denúncias pela prática de infrações criminais.
O resultado é que, enquanto isso não ocorre, o produtor tachado de escravagista fica
impedido de prosseguir em seu negócio e acaba falido ou tendo de abrir mão de sua propriedade.
A agressão, como se vê, não é somente contra o grande proprietário, mas também contra a agricultura familiar, cuja defesa é o pretexto de que se valem os invasores
e difamadores. Diante disso tudo, não hesito em afirmar que se hoje o processo de reforma agrária não avançano País a responsabilidade é dessa esquerda fundamentalista, que manobra o MST, consome verbas milionárias do Estado e proclama a
criminalização dos movimentos sociais. Não há criminalização: há crimes, com autoria explícita. O MST,braço rural do PT, não quer a reforma agrária, mas sim a tensão agrária, de preferência com cadáveres em seu caminho, de modo a dar substância emocional a um discurso retrógrado e decadente. Reforma agrária não é postulado
ideológico, é imperativo do desenvolvimento sustentado. Por isso a CNA a apoia. Por isso o MST e a esquerda fundamentalista não a querem.

Parceria com o atraso

Pochmann vai à Venezuela para inaugurar escritório do Ipea
O Brasil deve inaugurar ainda neste ano o escritório do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) na Venezuela. O presidente do instituto, Márcio Pochmann, viaja para o país nesta semana para se encontrar com o presidente Hugo Chávez, com quem definirá os termos da parceria.
(...) Uma das demandas internacionais feitas ao instituto é a capacitação de técnicos para atuar na formulação e avaliação de políticas públicas (SIC).

24 de maio de 2010

O pensamento liberal na atualidade

Roubei do blog do Prof. Orlando Tambosi:
O escritor peruano Mário Vargas Llosa e o filósofo basco Fernando Savater discutem, em mesa redonda, "O pensamento liberal na atualidade". Bons esclarecimentos para os latino-americanos, em geral, pois jamais viveram uma cultura liberal. Aqui no Brasil, por exemplo, passamos do autoritarismo positivista da pós-monarquia ao getulismo e, depois, ao marxismo difuso que nos fez chegar ao lulopetismo. Destaco um trecho da fala de Savater, que serve como uma luva para o Grotão sob a letargia ideológica lulista. (http://www.letraslibres.com/index.php?art=14661)
Em artigo também publicado no mesmo caderno do Letras Libres, o sociólogo Alan Wolfe, do Boston College, discorre sobre "Um liberalismo", comentando seu livro O futuro do liberalismo. Concordo com ele: o liberalismo é um só - aquele que não respeita apenas a liberdade econômica, mas as liberdades individuais clássicas: direito de ir e vir, liberdade de expressão, de imprensa etc. (http://www.letraslibres.com/index.php?art=14662)

20 de maio de 2010

Do que tem medo os ditadores?

A agência Ogilvy & Mather fez esta campanha chamada 'ditadores medrosos' para a International Society for Human Rights.

http://www.softwaretimes.com/files/dictators+are+afraid+of+th.html

Um irmão morando na Grécia

Tenho um irmão morando em Creta e abaixo ele descreve um pouco do impacto da crise por lá:
Os impactos ainda não chegaram a fazer tanta diferença, pois tentamos viver de modo econômico, comprando as coisas mais baratas possíveis no supermercado e etc. Além disso meu pagamento do Brasil não é afetado e os adicionais que recebo por aqui também não devem ser enquanto os projetos não terminarem.
Mudanças que já estamos sofrendo mesmo antes deste último pacotão:
- Academia está mais cara;
- Faz cerca de um mês a gasolina foi de cerca de 1,3 euros para 1,6 euros, e com as novas taxas deve chegar a 2 euros em breve. Na baixa do preço do barril, chegamos a pagar 90 centavos por litro.
- Contas de água e energia elétrica já vieram com 2% a mais de imposto (e não está claro para mim se o imposto vai aumentar mais ou não). A próxima conta de telefone deve vir com 2% de imposto a mais também.
- Alguns produtos do supermercado (principalmente de marcas) já aumentaram de preço, mas ainda não foi para valer. As marcas do próprio supermercado ainda não aumentaram. Tudo deve aumentar a partir de junho por causa das novas taxas.
- Várias lojas no centro encerraram as atividades e não há sinal de que alguém vá iniciar um novo negócio no mesmo lugar.
- Paralizações de 24 h acontecendo com mais frequencia. A Ana teve que deixar Creta mais cedo quando foi para o Brasil por causa de greve. Hoje tem greve.
- RU aumentou um centavo de euro.
- Logo no início da crise fizeram algumas reformas no serviço público (para inglês ver), e logo no primeiro dia da reforma tive que fazer um exame médico. Tive que esperar 15 dias para conseguirem descobrir onde os alunos da universidade devem solicitar a autorização para realizar o exame médico. Ninguém sabia.
- Nossa vizinha teve a carga horária dela reduzida em uma escola particular e vários pais estão inadimplentes.
- Como fico abaixo do mínimo na declaração de IR, o governo retem na fonte acho que 21% do que eu recebo (daqui da Grécia) e depois devolve 18%. A partir de maio eles vão reter mais (não sei quanto) e vão devolver menos (acho que ficarão com 6% ao invés de 3%). Por sinal, a devolução deste ano não sei se vem nem quando vem.

19 de maio de 2010

O especulador: essa ave de mau-agouro

Em geral chamam aos investidores de especuladores quando estes são portadores de más notícias, ou apostam contra o consenso estabelecido...

As pessoas agora se perguntam se existiram alertas antecipados sobre a Grécia, sobre os problemas do euro, sobre a crise imobiliária.

Claro que sim. Sempre existem alguns analistas que exercem o papel essencial no capitalismo de apostar contra o consenso, e que avisaram sobre o alto endividamento e a baixa competitividade das economias do sul, sobre o desprezo aos critérios de Maastricht, sobre a inviabilidade do euro sem maior controle europeu sobre os orçamentos.

Como sempre acontece, estes mensageiros são encarados como "estraga-prazeres"... Ninguém irá parar o agradável baile para ouvir a ladainha deles.

É como se o cara acreditasse fortemente que o Brasil não tem a mínima chance de ganhar a próxima copa, mesmo que este não seja o resultado que ele deseja, mas por causa disso e daquilo. Ninguém vai querer escutar esta opinião, mesmo que ele tenha toda a razão.

Assim como no mercado de apostas, a solução para esse dilema é o "do contra" casar dinheiro em suas previsões ( put your money where your mouth is) , apostando em um evento que, pela opinião majoritária, refletida pelo mercado, é altamente improvável.

Já ao colocar sua aposta, o 'do contra' está colocando no sistema o sinal de que este evento não é tão improvável assim, corrigindo um otimismo exacerbado. Talvez outros especuladores se animem a 'entrar junto', pois também desconfiam, ou querem simplesmente arriscar.

Se certos em sua análise, a ação dos investidores ‘do contra’ coloca as probabilidades e os riscos no radar e com o preço certo. Ele antecipa as crises e força os agentes públicos ou privados a lidarem com o problema.

Se errados, perdem suas fichas e saem deste negócio de especulação econômica. Se não forem bons nisso, saem desse jogo para sempre.

Especulação é uma palavra que para os leigos soa bastante pejorativa. Mas quem estudou economia ou já pensou um pouco sobre isso sabe como ela é absolutamente essencial para nos ajustarmos ao futuro, sempre incerto.

Infelizmente em um mercado com forte intervenção estes investidores tem uma ação mais limitada do que no mercado de apostas. Temos na última hora a intervenção de governos para salvar bancos podres, refinanciar empreendimentos infrutíferos, injetar liquidez em buracos de dinheiro, levando o ‘do contra’ a ter que lidar com fatos completamente arbitrários fora de suas previsões.

Quando o ambiente piora, vemos até mesmo decretos banindo suas estratégias de investimento, ou declarações públicas ameaçando financeiramente e até fisicamente os especuladores.

É como apostar em uma partida de futebol no time que está perdendo, mas sabendo que o juiz pode anular gols, pegar a bola e encerrar a partida a qualquer hora. Aí o mercado de apostas não funciona mais, e já não seria confiável nos basearmos nele.

O problema é que sem a ação do mercado, e a informação que tiramos dele, estamos no escuro. No escuro, em um carro sem farol, onde é proibido ligar a lanterna, e provavelmente ladeira abaixo...

Pior que ataque do Godzilla : A dívida pública japonesa

Como se diz 'quantitative easing' em japonês?

Entrevista do Armínio Fraga na TV Estadão

Armínio Fraga da Gávea Investimentos e ex-presidente do BC brasileiro dá sua análise de especialista sobre a crise européia.

Corte de 10bi é piada

Leandro Roque no site "do Mises" (www.mises.org.br) já havia alertado que o corte de R$ 10 bilhões anunciado pelo governo era "uma empulhação grotesca":
"A vigarice funciona assim: no ano passado, a despesa total foi estimada em R$ 1.664.747.856.320,00. Para esse ano, o orçamento previsto é de R$ 1.832.823.010.022,00. Ou seja: um aumento de módicos R$ 168.075.153.702 de um ano para o outro.
E o que o governo está dizendo? Que vai cortar 10 bilhões desse aumento de 168 bilhões. Ou seja: o tão propalado corte de gastos significa na verdade um aumento de gastos um pouquinho menor que o previsto. E a mídia cai na conversa!"

Hoje o ex-presidente do BC, Affonso Pastore, vai no mesmo ponto e afirma que o corte "é insuficiente para esfriar a economia".
Estadão: O Banco Central se atrasou?
Sem dúvida. Antes dos últimos dados, um ciclo de alta de três pontos porcentuais da Selic (taxa básica) era consenso de mercado. Hoje o pessoal já pensa em quatro pontos porcentuais, e também em que se mexa de novo nos compulsórios, para cima. Então o BC errou em não começar a subir a Selic em março, mas começou a corrigir.
O BC é independente e erros acontecem. Mas agora tem de bater firme em cima da inflação e eu acho que isso vai levar a um ciclo de aperto monetário que, infelizmente, é longo.

18 de maio de 2010

Buraco negro entre governo e sociedade

A frase iluminada de Jucá mostra-nos que há uma fenda secular, um abismo entre sociedade e governo, que há uma inversão de valores ? o governo tem vida própria e a sociedade existe apenas para legitimá-lo.

Artigo de Arnaldo Jabor

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100518/not_imp553098,0.php

Quando a ideologia cala o debate

Matéria antiga, publicada pela revista Época, porém, muito utilizada pelos membros do Governo Lula até hoje.

IBGE também não deve fugir dessa "mão ideológica", o que é triste para institutos responsáveis por divulgações de dados tão importantes para o País.


Revista Época, ano 2008

Quando a ideologia cala o debate

Como os novos dirigentes do Ipea estão transformando um dos principais institutos de pesquisa do país num centro de intolerância

Uma reunião do grupo de conjuntura na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Rio de Janeiro, há duas semanas, discutia a alta recente da inflação. A certa altura, o coordenador Miguel Bruno defendia teses que foram contrariadas pelos colegas, com base em argumentos técnicos. Bruno, segundo o relato de testemunhas, teria trocado, então, o debate econômico pelo ideológico. Teria dado um murro na mesa e bradado, em tom de voz alterado:

– Quero saber quem é neoliberal aqui!

Bruno nega ter dito a frase. Também nega que a cena descrita pelas testemunhas tenha se passado assim. Mas têm se tornado cada vez mais freqüentes os relatos de comportamentos intolerantes com opiniões divergentes nas salas e nos corredores do Ipea, um dos mais importantes e tradicionais centros de pesquisa e pensamento econômico do país. Esses relatos começaram no ano passado, quando o Ipea passou a ser dirigido pela dupla de economistas Márcio Pochmann – da Universidade de Campinas, ligado ao PT – e João Sicsú – da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ), assessor do senador Marcelo Crivella (PRB). Pochmann é o presidente do Ipea e Sicsú o diretor de Macroeconomia.

O Ipea foi fundado em 1964 pelo economista João Paulo dos Reis Velloso, a pedido do então ministro do Planejamento, Roberto Campos. O objetivo era criar um centro de pesquisa acadêmica capaz de elaborar políticas públicas para o futuro. Ele sempre foi vinculado ao Ministério do Planejamento e, tradicionalmente, teve atuação independente das políticas do governo. Isso começou a mudar quando o instituto passou a responder ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, do ministro Roberto Mangabeira Unger, e a diretoria foi trocada.

Pochmann e Sicsú inauguraram sua gestão com o afastamento de quatro pesquisadores de reconhecida capacidade – Fábio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Régis Bonelli –, alegando “motivos burocráticos”. Além deles, outros cinco pesquisadores tomaram o caminho da rua de lá para cá. Armando Castelar, co-autor de um livro sobre o crescimento econômico com Giambiagi, trocou o Ipea pela Gávea Investimentos, administradora de recursos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Paulo Tafner e Ronaldo Seroa da Motta foram para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Estevão Kopschitz trocou a pesquisa por cargo executivo numa empresa do bilionário da energia Eike Batista. Mérida Medina, uma das maiores especialistas do país no cálculo do Produto Interno Bruto, deixou o Ipea após 12 anos para trabalhar no Instituto Pereira Passos, no Rio, especializado em estudos urbanísticos. “Quando as coisas começaram a acontecer, preferi sair”, diz Mérida. Cláudio Ferraz, especialista em regulação, deixa o instituto no fim do mês para se tornar professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). “Há fuga e expulsão de cérebros”, diz o economista Edmar Bacha, do banco Itaú BBA, ex-pesquisador do Ipea e um dos formuladores do Plano Real.

Há duas semanas, Sicsú e o coordenador Miguel Bruno anunciaram que o Ipea não divulgaria mais previsões trimestrais sobre inflação e outros índices econômicos. Afirmaram que elas serviam antes para alimentar as especulações do mercado finaneiro. Foi uma medida que, de acordo com os críticos, teve uma motivação política. O país vive um momento de forte pressão inflacionária, e não divulgar os índices favorece o interesse do governo. Para a diretoria do Ipea, a iniciativa está ancorada nos preceitos iniciais do instituto: planejar o Brasil do futuro e não se ocupar de análises mais imediatas. “A missão do Ipea é elaborar um projeto para o país, concentrando suas energias em pesquisas de cunho estratégico”, afirma Sicsú. “O Ipea não foi criado para tratar de conjuntura e fazer previsões”, diz seu fundador, Reis Velloso.

A questão ideológica está no centro da disputa em curso no Ipea. Pochmann e Sicsú pertencem a uma escola de pensamento conhecida entre os economistas como heterodoxa. Defendem o aumento dos gastos públicos e a maior presença do Estado na economia. Eles se opõem aos economistas da linha chamada ortodoxa, que defende a menor intervenção estatal e o controle de gastos públicos. No meio acadêmico, é freqüente a disputa entre economistas das duas linhas. “A economia não é uma ciência exata”, afirma o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp. “Essas disputas ideológicas sempre vão existir. O que não pode é desqualificar o outro.”

A intransigência ideológica com o debate acaba prejudicando o próprio Ipea. Além daqueles pesquisadores que saíram, há talentos “encostados” por não pertencer à turma heterodoxa. O caso mais notório é o do economista Ricardo Paes de Barros, conhecido como PB. Autor de estudos clássicos sobre desigualdade e miséria, PB é tido como um dos maiores especialistas do mundo em sua área. “É um economista brilhante”, afirma Bacha. PB voltou há pouco de uma temporada na Universidade de Chicago, a maior usina mundial de prêmios Nobel de economia. Perdeu o cargo de coordenador de sua área e não é chamado a participar das decisões. “Puseram o PB na geladeira”, diz um colega. Prova disso é a ausência de seu nome nos planos para criar um curso de pós-graduação no Ipea que contemplaria o desenvolvimento e a área social, especialidades de PB. “A intenção é aproveitarmos a excelência da instituição e seus técnicos para criar um centro de difusão de idéias e de debates sobre a questão do desenvolvimento em seus diferentes aspectos”, disse Pochmann em resposta por escrito, enviada por sua assessoria. PB não fala no assunto.

Outro foco de atrito é a revista Pesquisa e Planejamento Econômico (PPE) , considerada uma das três mais importantes publicações acadêmicas em economia do país. Publicar um artigo nela conta pontos para os pesquisadores obterem financiamentos para pesquisas. Algumas universidades pagam prêmios de R$ 15 mil a quem consegue passar pelo rigoroso crivo da PPE. No fim do ano passado, a nova direção do Ipea afastou Otávio Tourinho, editor da PPE havia dez anos. Dois dias antes de sua saída, Tourinho recebeu uma ligação de Renault Michel, adjunto de Sicsú, para falar do futuro da revista. “É para você transferir a edição da PPE a alguém que vamos indicar”, disse Michel. Tourinho fugiu da conversa. Mais tarde, encontrou Michel e Sicsú e disse que não deixaria que “bagunçassem” a revista. “A revista não será bagunçada, porque a gente quer colocar o Sicsú como editor”, teria dito Michel. “Nunca me reuni com o antigo editor da PPE. Nunca pensei em ser editor da PPE”, disse Sicsú em resposta por escrito.

‘‘O embate de idéias não pode se transformar em embate do poder ’’
EDMAR BACHA, economista, um dos pais do Plano Real e ex-pesquisador do Ipea


Tourinho teria dito a Michel que o regimento interno da revista estabelece que o editor tem de ser do corpo editorial e escolhido pelo diretor do Ipea a partir de uma lista tríplice. A revista está sem editor desde a saída de Tourinho. A lista foi enviada a Sicsú em dezembro. Até agora ele não decidiu. “O novo editor não será indicado por mim, mas sim pela diretoria colegiada do Ipea”, afirma Sicsú.

O grupo de conjuntura, antes coordenado por Giambiagi, foi o mais atingido pela nova gestão. Seus seminários semanais, antes concorridos e freqüentados pelos diretores, foram esvaziados. “A atual direção do Ipea age como se a instituição fosse propriedade privada dela”, diz Giambiagi, agora diretor do BNDES. “Querem transformar o Ipea em um bunker de defesa do governo.”

O conflito de idéias, mesmo virulento, é saudável e fundamental em instituições como o Ipea, que vivem de estudos e debates. “O que não pode é transformar um embate de idéias em um embate de poder”, diz Bacha. “Não se pode ficar com posição ideologicamente motivada e cercear o livre debate de idéias.” Isso não combina com a história do Ipea. Na década de 1970, em pleno regime militar, o Ipea foi o responsável por levantar a discussão sobre o problema da distribuição desigual de renda no Brasil. O tema incomodava os militares, mas eles não incomodaram os pesquisadores por seu trabalho. A independência do Ipea não poupou de críticas nem mesmo seu fundador, Reis Velloso. Quando já estava fora do instituto e de volta ao governo como ministro do Planejamento do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), ele era responsável por tocar o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). “O primeiro artigo atacando o PND, implantado por mim, foi publicado pelo Ipea”, afirma Reis Velloso. Os autores foram Régis Bonelli e Pedro Malan, ex-ministro de FHC e, na época, um técnico ligado ao MDB (hoje PMDB), de oposição aos militares.

Ficar dócil ao governo pode ser a morte para um centro produtor de idéias e pensamento. “Quando há um cientista a favor de um governo, não há mais um cientista”, afirma o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Bacha conta uma história interessante para ilustrar a impetuosidade e a democracia reinantes no Ipea em seu tempo. Em 1972, a direção discordava de uma tese sua. As discussões se alongaram por meses, até que se decidiu pela publicação do trabalho num livro com artigos de diretores discutindo a tese. Essa história sugere ter havido mais tolerância com as idéias divergentes dentro do Ipea na ditadura do que existe hoje, em plena democracia.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI7378-15223,00-QUANDO+A+IDEOLOGIA+CALA+O+DEBATE.html

17 de maio de 2010

Frase da Semana

"Estou certo de que os tucanos, estivessem no governo, não teriam feito, NA ECONOMIA, nada muito diferente do que fizeram os petistas. Mas estou igualmente certo de que, estivessem os petistas no lugar dos tucanos em 1995, e hoje nós seríamos o mais ocidental dos países africanos."

Retirado do artigo do Reinaldo Azevedo.

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/querem-comparar-governos-entao-vamos-civilizar-os-botocudos/

E AGORA COMO FICAMOS ?

Recebi esse artigo por e-mail e gostaria de compartilhar com vocês. Tenho formação também em Economia como o autor do artigo, porém, não entendo como um Economista e professor Universitário consegue lançar uma artigo desse tipo. Uma análise totalmente emocional e simplista, uma análise de paixão cega. A militância esta trabalhando.....forte, nas universidades, para as eleições de 2010.

Divirtam-se, ou não, com essa leitura e tirem suas próprias conclusões. Advirto, não caiam em tentação, mas livrai-nos de todo o mal.
Amém

E AGORA COMO FICAMOS ?

Pedro Lima
(Economista e Professor da UFRJ)

FHC, o farol, o sociólogo, entende tanto de sociologia quanto o governador de São Paulo, José Serra, entende de economia. Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores; e que também não entende de economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda empresta algum aos ricos.
Lula, o analfabeto, que não entende de educação, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos [14 universidades públicas e extendeu mais de 40 campi], e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio milhão de bolsa para pobres em escolas particulares].
Lula, que não entende de finanças nem de contas públicas, elevou o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.
Lula, que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG-Partido da Imprensa Golpista, que entende de tudo, diga que não.
Lula, que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior programa de energia alternativa ao petróleo do planeta].
Lula, que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].
Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama, Evo etc. Bobo que é, cedeu a tudo e a todos.
Lula, que não entende de mulher nem de negro, colocou o primeiro negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo de primeira ministra, e que pode inclusive, fazê-la sua sucessora.
Lula, que não entende de etiqueta, sentou ao lado da rainha (a convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.
Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir; hoje o PAC é um amortecedor da crise.
Lula, que não entende de crise, mandou baixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como também na linha branca de eletrodomésticos].
Lula, que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times e outros...].
Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha empatia e relação direta com George Bush notada até pela imprensa americana - e agora tem a mesma empatia com Barack Obama.
Lula, que não entende nada de sindicato, pois era apenas um agitador;.. é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO - American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...]e entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto com o Tio Sam lá, nos "States".
Lula, que não entende de geografia, pois não sabe interpretar um mapa é autor da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história].
Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.
Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado, dentro e fora do Brasil.
Lula, que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para dialogar com Israel.
Lula, que não entende nada de nada;.. é bem melhor que todos os outros...!

Pedro Lima * | Economista e professor de economia da UFRJ

Gary North explica como funciona o sistema

O establishment econômico usou a ganância dos eleitores para criar uma árvore de dinheiro para os bancos. E tem funcionado da seguinte maneira, desde um pouco antes da primeira guerra.

Os políticos prometem distribuir aos seus eleitores a renda retirada dos mais ricos. Os eleitores recebem promessas de emprego público, subsídios governamentais para sindicatos e para um generoso sistema de pensões. O estado do bem-estar cresce.

Os políticos sabem que não é possível aumentar os impostos o bastante para honrar estes compromissos. Eles passam a usar um sistema contábil "pay-as-you-go": A conta nunca fecha, mas é passada automaticamente às gerações futuras, através da rolagem da dívida pública e do sistema previdenciário.

Os governos se endividam. Os investidores compram a dívida pública, porque é garantida pelo governo. Estes investimentos são considerados livres de risco.

Estouram guerras. Os governos se endividam ainda mais. Esta dívida jamais será paga. Ela sempre aumenta. A dívida velha é rolada indefinidamente.

Os governos continuam vendendo promessas ainda maiores aos seus eleitores, que acreditam que estas promessas irão render frutos algum dia.

Quando começam tempos mais difíceis, os bancos centrais compram dívida pública com moeda fiat. Eles mantém a dívida rolando, e aumentando.

Qualquer ameaça de moratória derruba o sistema financeiro. Quando chega a crise, governos e o banco central assumem as perdas dos maiores bancos comerciais.

Os eleitores não fazem nada, pois eles mesmos estão completamente afundados em dívidas. Não possuem mais economias. Eles vivem de promessas governamentais. Não desejam uma quebra geral.

(...)

Este arranjo está agora caindo aos pedaços. O alto nível de endividamento está criando oportunidades, onde os especuladores expõem as mentiras dos governos e dos bancos centrais. Há lucros enormes a serem realizados no final deste espetáculo.

Artigo original no contexto dos PIIGS pode ser encontrado aqui:

Comento: O artigo original trata da exaustão do estado de bem-estar social. Alguns liberais mais exaltados, ligados aos Austríacos e às correntes anarquistas, se precipitam ao enterrar vivo o estado de bem-estar social. Esquecem que o norte da Europa vive sob este sistema, já passou por crises, e já o reformou, removendo entraves burocráticos e criando portas de saída dos programas estatais.

O norte da Europa hoje paga pela conta do sul, e está longe de um colapso financeiro, embora as mudanças de comportamento econômico resultantes de um sistema de bem-estar social sejam em geral negativas no longo prazo.

Concordo que estamos vendo uma espécie de colapso deste sistema. Mas a conta chega bem antes nos países sem uma cultura de seriedade no trato das contas públicas.

North também fala de uma 'moratória' da dívida. Tal moratória é impossível nos EUA. O estado simplesmente controla a moeda fiat, coisa que não acontece na Grécia, e que não aconteceu nas crises de dívida externa na América Latina e na Ásia. Só quem pode imprimir dólar é, justamente, o Fed americano.

Portanto, o que acontece na sequência de uma dívida impagável não é moratória, e sim a monetização da dívida, que resulta em uma inflação ou hiper-inflação. As perdas bancárias americanas não foram em títulos da dívida. Não é um comportamento irracional de mercado considerar a dívida pública como baixo risco. É realmente baixo risco, pois bancos, banco central e estado realmente tem a maquininha na mão.

Mas é extremamente verdadeira e sinistra a observação sobre o endividamento privado. Uma situação nos países ricos onde a maioria da população possui dívidas pode se tornar ainda pior do que a situação dos países em desenvolvimento, onde grande parte do eleitorado vota em demagogos pois não tem nada a perder. Porque escravos por dívidas não tem muita capacidade de resistir ao avanço dos que tem o poder de cancelar a dívida de alguns e levar outros à falência.

Princípios democráticos e republicanos são compatíveis apenas com uma sociedade livre. É necessário que a maioria da população possua liberdade, informação, propriedade privada. Caso contrário ninguém tem nada a perder e a demagogia reina solta. Nos aproximamos da tirania.

Euro fraco? Bom para os exportadores alemães.

Estava ontem ouvindo mais uma excelente análise do Peter Schiff no YouTube, em que ele comentou o provável caminho de desvalorização do euro, a monetização da dívida pública, termo técnico que descreve o processo de venda de títulos públicos bancados principalmente por 'compras' do banco central, prática conhecida popularmente como 'imprimir dinheiro'. Falou sobre 'moral hazard' e ressaltou que no final a sociedade inteira paga pelas perdas de terceiros, ao ter sua riqueza roubada pela inflação resultante de uma política de relaxamento monetário.

O BCE acenou para esta possibilidade ao garantir que aceitará como colateral, independente de fundamentos, títulos gregos, portugueses e demais títulos de governos europeus. Dizem as leis econômicas, ou melhor, diz o bom senso, que diante desta possibilidade, todos os bancos da Europa vão depositar tantos títulos podres quanto for possível debaixo da asa do BCE.

Mas, pensemos agora, qual será o efeito de um euro fraco para a Europa, dados os fundamentos econômicos dos países-membros? Será que a economia da Grécia vai se beneficiar a curto prazo com um euro fraco? Pode até ser, mas os fundamentos econômicos deste país não vão se alterar significativamente por causa disso. Porque a Grécia não possui tantas exportações, embora seja muito forte no trasporte marítimo. Por outro lado, a Grécia depende bastante do fluxo de turistas, que em sua maioria são provenientes da zona do euro.

Já a Alemanha é um dos maiores exportadores do mundo, e que por causa de sua produtividade maior, é tanto o principal exportador europeu quanto o maior 'exportador' para o mercado interno europeu. Alemães sempre pagaram preços menores na UE, por terem uma disponibilidade maior e mais competitiva de produtos de qualidade. Quem tem parentes ou amigos morando na Alemanha pode comprovar isso na prática.

Na prática o euro na Alemanha em termos de poder de compra sempre valeu uns 10% a mais. E na Espanha, Irlanda, Portugal, uns 20% a menos. É quando a realidade começa a entrar em choque com as hipóteses de mobilidade de produtos, empresas e mão-de-obra que os economistas assumem válidas na união monetária...

Resumindo, até agora a Alemanha foi a locomotiva da Europa, com grande exportação de produtos de alto valor agregado, como máquinas industriais. Este é um setor que se contrai bastante em uma crise, pois está mais distante de produtos finais na estrutura de produção. Mas a queda do euro vai efetivamente estimular este setor, bem como outros setores exportadores da Alemanha.

Alguns comentaristas apontaram que haverá deflação forte pela primeira vez na Espanha, Grécia. Isto é verdade. Mas não estou convencido que o pacote seja tão deflacionário assim. Porque precisamos ver o que vai acontecer com a oferta de crédito na Alemanha e outros países do centro. Se durante a fase de fundação do euro o crédito saiu do centro para o sul da Europa, agora é provável que este crédito invista mais nos países do centro, bem como nos mercados emergentes.

O sul da Europa teve seu maior influxo de capital em décadas. De agora em diante é só aperto para eles.

A Grécia é o Brasil amanhã

Governo Lula deu reajustes de até 576%
Ao longo de seus dois mandatos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou os servidores públicos de mal remunerados a invejados pelo mercado. Em alguns casos, o reajuste ao longo dos últimos oito anos chegou a 576%. É o caso dos pesquisadores em topo de carreira do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que iniciaram 2003 com salário de R$ 1.959,00 e hoje ganham R$ 13.249,00.
O alto salarial foi fruto de um acordo fechado em 2008 com várias categorias, que deixarão ao sucessor de Lula uma fatura de gastos adicionais com folha de R$ 35 bilhões só em 2011. Ainda assim, Lula chega ao fim de seu último ano enfrentando uma onda de greves que pode aumentar esta semana. O Inep é um dos órgãos atualmente parados. (Estadão, 17/05/10).

Comento: Um dia o Brasil vai pagar caro por essa bonança da nova burguesia do dinheiro alheio. Uma turma que arrota o discurso "social", mas que na verdade defende apenas os seus privilégios, ano após ano, greve após greve. São salários incompatíveis com a realidade brasileira, gratificações, planos de carreira, e toda a sorte de penduricalhos que custam e custarão cada vez mais caros ao resto da população.
O serviço público, seja ele municipal, estadual ou federal, é hoje um dos principais fatores de desigualdade no Brasil. Cada servidor, em geral, improdutivo, e muitas vezes corrupto, suga o esforço de centenas de brasileiros. Além disso, se sentem donos do bem público ("Isso aqui é nosso", ouvi numa repartição pública) e aposentados no primeiro dia de trabalho. E o pior, viram chantagistas sociais. Se portam de representantes do povo, quando na verdade são os sanguessugas da população.

Lembrei: Uma das categorias que mais recebeu aumentos acima da inflação foram os correios. Qual o resultado? A piora flagrante na qualidade dos serviços. A empresa e a categoria foram aparelhadas. Os Correios hoje são uma vergonha. Mas isso não é um problema, afinal, ganharam aumentos significativos sem méritos. "Pra quê" se esforçar?

15 de maio de 2010

Lembrando - Encontro na Saraiva - Iguatemi Florianópolis

Os seguidores do blog "Trilha Liberal" trocam idéia na Livraria Saraiva (Shopping Iguatemi - Florianópolis) na segunda que vem (17/05) as 19h.

14 de maio de 2010

O ataque dos lobos especuladores

Na figura acima, vemos dois líderes europeus mostrando como é possível domesticar estes animais tão arredios.

Paul Volcker dá sua opinião sobre o euro

Paul Volcker, o conselheiro 'durão' de Obama, responsável por salvar o dólar e curar a duras penas os EUA da estagflação dos anos 80, deu seu comentário sobre o euro hoje em uma entrevista.

Salientou a falta de incentivo que os países-membros possuem de seguirem em um caminho de austeridade fiscal, o que aumenta o risco de uma desintegração do euro.


13 de maio de 2010

'Ficha Limpa não é do governo'

Em um comentário bizarro que mostra a verdadeira relação de submissão entre o nosso legislativo e o Rei, digo, presidente, o líder do governo no Senado afirmou que 'o ficha limpa não é prioridade' porque 'é um projeto da sociedade'. Já o governo tem como prioridade projetos do pré-sal.

É a prova definitiva que para o executivo, o legislativo é apenas um procedimento para validar as canetadas que eles mandam do palácio. Não é de hoje que o governo trabalha com uma 'pauta' de projetos que precisam ser analisados com urgência pelo legislativo. Não tenho conhecimento profundo sobre o assunto, mas isto me cheira bastante ao modo de governo do período militar. Os decretos eram baixados, e para manter uma aparência democrática, precisavam ser julgados pelo legislativo em um certo prazo. Desnecessário dizer o quanto os políticos da redemocratizazão acharam conveniente este modo de trabalhar...

Rumo aos Estados Unidos da Europa

Um blog da Economist que monitora a UE publicou a melhor análise até agora, na minha opinião, sobre o pacote europeu.

A parte mais interessante dá uma noção do que está reservado para o futuro da Europa.

As autoridades francesas principalmente, e com alguma relutância as alemãs, concordaram em criar um 'veículo de crédito especial' - Não chame de fundo do euro, ou os alemães vão ficar muito irritados, diz a revista - que dará garantias aos títulos com problemas. Mas a idéia é começar a oferecer no mercado uma espécie de 'título da dívida européia', embalado, para que os 'lobos' investidores não separem os mais fraquinhos do bloco para a carnificina. Vão ter que brigar agora com 'mamãe europa', uma criatura mítica de origem frango-belga-germânica.

Está sendo uma briga para ver que órgão vai controlar este fundo.

Foi realmente baseado no artigo 122 sobre catástrofes e outros 'eventos fora do controle'.

O texto original menciona também a criação de um imposto global sobre transações no mercado financeiro. O ranço anti-mercado está ficando muito forte.

O mercado financeiro, muito atacado pelas autoridades européias, é chamado de 'lobo especulador' quando aposta contra o euro, e é chamado de 'mercados internacionais' quando colabora, e, por exemplo, investe neste novo euro-fundo. Estão se organizando rapidamente para patrocinar uma agência de avaliação de risco européia, para que possa ser controlada com mais facilidade do que Moody's e Standard & Poors.

A conclusão política disso tudo é sinistra para a Europa. As autoridades da UE se recusam a reformar o euro de maneira que possa ser usado por nações autônomas e soberanas. Se recusam a ouvir os mercados. Se recusam mesmo a encarar seus defeitos. Na opinião deles, o euro é perfeito, pois o objetivo destas elites políticas é a formação dos Estados Unidos da Europa.

A Grécia perdeu sua soberania fiscal e será uma espécie de protetorado europeu, no que tange seu orçamento. O mesmo acontecerá com outros estados com problemas. Isso é algo extremamente controverso.

Durante muitos anos a UE propiciou muitas vantagens para os europeus, principalmente por causa do mercado comum e da moeda comum. Mas acredito que a grande maioria dos europeus não deseja uma UE mais forte do que os estados membros, e é exatamente isso que eles vão acelerar agora.

Se um país-membro não concordar com as novas condições, estará 'livre' para abandonar o euro e entrar em colapso fiscal.

Já posso imaginar multidões daqui há alguns meses marchando contra as reformas da UE, queimando bandeiras azuis, vilificando a UE da mesma maneira que o FMI, com muito menos razões, foi vilificado na América Latina por impor contrapartidas de austeridade fiscal a quem recebia seus empréstimos.

Outra reação possível é na Alemanha, com a população se recusando a sustentar os países com problemas apenas para satisfazer as ambições políticas sem limites dos euro-políticos.

12 de maio de 2010

Sugestão de leituras

Amigos colaboradores e seguidores deste BLog.

Como economista, sou suspeito em indicar esse sítio, mas é um bom "local" para ler artigos de grandes economistas brasileiros, pessoas que eu particularmente admiro, dentre os colaboradores desse sítio estão: Armínio Fraga Neto, André Lara Resende, Edmar Lisboa Bacha, Persio Arida e outros grandes nomes.

http://www.iepecdg.com/

o Link é do Instituto de Estudos de Política Econômica - Casa das Garças

Indico também a compra do livro (COMO REAGIR À CRISE? (POLITICAS ECONOMICAS PARA O BRASIL)). Excelente compilação de artigos desses "monstros" da economia brasileira.

abraços

11 de maio de 2010

A Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos: Uma Breve Explanação

Por Dan Mahoney (Ph.D em matemática, trabalha para a Mirant-Americas)

A solução favorita - e completamente equivocada - da mídia para todos os declínios econômicos é que o Banco Central vá diminuindo a taxa básica de juros até que a economia comece a mostrar alguma revigorada. O que há de errado com essa abordagem? Imprimir dinheiro - que é o que significa reduzir as taxas de juros para níveis abaixo do mercado - é uma maneira artificial de se recuperar de uma recessão que foi causada por um crescimento econômico artificial; um boom de prosperidade que não teve qualquer fundamento real. Esse ponto, no entanto, é completamente desconhecido por quase todos os comentaristas, porque eles não têm a menor compreensão da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos.

O presente artigo faz um breve resumo da teoria, que fornece uma explicação sobre os recorrentes períodos de prosperidade e recessão que parecem assolar como uma praga as sociedades capitalistas. Como Salerno (1996) argumentou, a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos é de muitas maneiras a quintessência da economia austríaca, pois ela integra várias idéias que são singulares àquela escola de pensamento, tais como a estrutura do capital, a teoria monetária, o cálculo econômico e o empreendedorismo. Assim sendo, seria impossível explicar adequadamente uma teoria tão rica em tão curto espaço. (Ver Rothbard, America's Great Depression, para maiores detalhes). Entretanto, será feita aqui uma tentativa de mostrar como essas idéias relevantes se combinam para formar uma estrutura unificada.

A Teoria

O homem está sempre lidando com um mundo em que há escassez física. Isto é, nem todos os nossos desejos e necessidades, que são praticamente ilimitados, podem ser satisfeitos. Fora do Jardim do Éden, temos de produzir para poder consumir, e isso significa que temos de combinar o nosso trabalho a quaisquer que sejam os recursos da natureza que nos sejam disponibilizados. Como um ser inerentemente racional, o homem descobriu várias maneiras de resolver esse problema, tais como a cooperação pacífica sob a divisão do trabalho - o que leva a um aumento da produtividade -, e os direitos sobre a propriedade privada, que permitem o cálculo econômico de modo que diferentes trajetórias de ação possam ser comparadas de maneira significante.

(Isso não significa que o homem tem uma presciência perfeita e está sempre antecipando corretamente os resultados, bons ou ruins, de suas ações; significa apenas que o homem age propositalmente - ele sempre julga ex ante qual a linha de ação que supostamente melhorará a sua situação - e é capaz de distinguir o sucesso do fracasso, e agir de acordo).

Entretanto, será de grande auxílio considerar a trajetória do desenvolvimento econômico através de um exemplo simplificado, aquele de um "Robinson Crusoé" isolado em uma ilha. A circunstância ilustrada aqui é que uma pessoa deve de alguma forma combinar o seu trabalho com os recursos disponíveis na natureza para que ela possa produzir bens para seu consumo (tipo comida, abrigo, etc.). Por exemplo, eu posso colher frutas com a minha mão, o que vai me permitir um certo nível de consumo. Entretanto, se eu quiser ter um nível maior de consumo, eu terei de criar algum meio de aumentar minha coleta de frutas - por exemplo, construindo uma vara com a qual arrancar as frutas dos arbustos, e uma rede para coletá-las enquanto elas caem.

A menos que esses meios já me sejam dados prontos, eu terei de construí-los por conta própria, e isso vai tomar tempo - tempo durante o qual eu não poderei coletar e consumir frutas utilizando o meu velho método. Assim, durante o tempo em que eu estiver criando o meu novo - e presumivelmente mais eficiente - método, eu tenho de continuar me sustentando de alguma forma. E isso só será possível se eu tiver poupado (isto é, me abstido de consumir) uma quantia suficiente de frutas no passado, de forma que eu possa me concentrar em outros afazeres agora e, ao mesmo tempo, poder continuar me alimentando. (Para mais sobre esse processo, ver Rothbard, Man, Economy, and State, capítulo 1).

Sejamos claros sobre o que está acontecendo: essa pessoa não está simplesmente mudando do consumo para a produção; ela está mudando de uma forma de produção para outra forma de produção. Ela não pode consumir uma coisa até que esta tenha sido produzida, o que significa que todos os processos de produção devem anteceder o consumo. A questão, no entanto, é o que deve ser feito para que se possa mudar para um meio de produção supostamente mais efetivo.

É óbvio que se o sistema de vara e rede, presumivelmente mais produtivo, tivesse requerido a mesma quantidade de tempo para ser construído do que o método manual de coleta, eu já teria utilizado-o desde o início. Mas é claro que esse não é o caso. E dado que adquirir um aumento de produtividade tem um custo - a saber, o tempo que era gasto utilizando o método antigo passa a ser gasto na criação de meios para se facilitar a produção e, consequentemente, o consumo -, deve haver algum meio de se pagar esse custo.

É claro, nem todos os processos de produção mais extensos são mais produtivos. Mas em qualquer tempo e lugar, o homem sempre vai escolher aqueles processos de produção que podem produzir uma determinada quantidade de produto para consumo no menor período de tempo. Um processo que tome mais tempo para chegar ao seu estágio final somente será adotado se for analogamente mais produtivo. Na concepção austríaca, uma maior poupança permite a criação de processos de produção mais "indiretos" - isto é, processos de produção cada vez mais distantes de seu produto acabado. Esse é o papel da poupança, e podemos perguntar o que determina um nível particular de poupança.

A preferência temporal é o grau em que as pessoas valoram o consumo presente em relação ao consumo futuro. Quanto maior a preferência temporal, maior o valor dado ao consumo presente. O ponto chave da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos é que intervenções no sistema monetário - e há algum debate sobre qual forma essas intervenções devem ter para gerar o processo de expansão-recessão - criam um descompasso entre as preferências temporais do consumidor e os julgamentos dos empresários em relação a essas preferências temporais.

Retornemos ao exemplo do Crusoé acima, e consideremos algumas tentativas de se construir meios mais produtivos para a extração de frutas. O que me restringe nesse empreendimento é o meu nível de preferência temporal. Se eu aprecio o consumo presente de tal maneira que a idéia de um aumento no consumo futuro não é capaz de me fazer deixar de comer algumas frutas hoje, meu sistema de vara e rede não será construído. E mesmo se houvesse um sistema bancário de reservas fracionárias, a criação (impressão) de notas de papel (ticket-fruta) não poderia mudar esse fato.

Como exemplo numérico, considere o caso em que a coleta manual me garante doze frutas por dia e que eu simplesmente não esteja disposto a consumir menos de dez frutas por dia. Suponha também que minha preferência temporal diminua, de tal forma que esteja disposto a poupar duas frutas por dia durante sete dias (ignoremos questões como perecibilidade, que obviamente não se aplica a uma economia monetária). Assim, eu terei então uma reserva de catorze frutas. Feita essa poupança, assuma que eu passe a trabalhar durante um quarto do dia desenvolvendo meu novo método de produção e gaste os restantes três quartos do dia coletando frutas utilizando a minha técnica antiga. Esse velho método vai me garantir nove frutas por dia (em um dia inteiro eu colhia doze, em três quartos do dia um vou colher nove), e eu posso usar uma fruta da minha poupança para satisfazer minhas necessidades de consumo atuais (não aceito consumir menos do que dez frutas por dia).

Se eu puder finalizar o sistema de vara e rede em catorze dias (a durabilidade das minhas reservas), então tudo estará bem, e eu poderei curtir os frutos do meu trabalho (sem trocadilho). Entretanto, se eu calcular mal e o processo me tomar mais do que catorze dias, eu terei de suspender temporariamente a produção (ou ao menos atrasá-la) para poder financiar meu consumo atual (alimentação), já que, como assumido, eu valorizo mais um determinado nível de consumo atual do que um consumo futuro maior (sendo essa a essência da preferência temporal). O ponto é que deve existir propriedade (frutas) suficiente para alongar a estrutura de produção, e essa propriedade só pode advir da poupança. Se a minha preferência temporal não gerar propriedade em quantidade suficiente para criar esse processo de produção, meus esforços redundarão em fracasso.

Para que esse exemplo não seja tido como artificial, consideremos uma situação em que as minhas necessidades são de nove frutas por dia. Seria plausível imaginar que eu ainda poderia trabalhar durante um quarto do dia na minha nova técnica sem a necessidade de ter poupado uma provisão de alimentos, já que os remanescentes três quartos do dia, nos quais eu coleto frutas utilizando o método antigo, satisfarão minhas necessidades. No entanto, duas coisas devem ser observadas. Primeiro, minha preferência temporal deve diminuir de um consumo diário de doze frutas para um de nove. Segundo, e esse é o ponto principal, caso eu tivesse poupado previamente, eu poderia gastar ainda mais tempo na criação do novo método, o que me traria um aumento da coleta de frutas mais rapidamente. A poupança ainda permanece o aspecto chave desse processo de construção de capital, e a poupança é guiada pela preferência temporal. Na verdade, a preferência temporal se manifesta através da poupança.

Esse mesmo processo de se utilizar a poupança para financiar a produção atual de bens que serão consumidos no futuro é igualmente válido para economias mais complexas. (É claro, a introdução de mais de indivíduo torna possível o reconhecimento do aumento da produtividade inerente à divisão do trabalho, o que consequentemente tira o homem do seu atual estado de subsistência e ainda por cima torna possível a criação de um conjunto de poupanças). Em qualquer momento, os indivíduos de uma sociedade estarão envolvidos em um processo de produção cujo objetivo final é saciar algum "nível" de necessidade de consumo. Para que possa haver processos de produção mais longos - e, assim, mais produtivos - é necessário que alguns indivíduos tenham se abstido de consumir no passado para que outros indivíduos possam ser financiados e auxiliados na construção dessa nova estrutura, durante a qual eles não podem produzir - e, portanto, não podem consumir - bens de consumo utilizando os métodos da estrutura antiga.

A base da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE) é que a inflação do crédito distorce o processo acima descrito, fazendo aparentar que existem meios abundantes para a produção atual, quando, na verdade, os meios existentes são muito menores do que aparentam e, portanto, não sustentáveis (ao menos em algumas interpretações; vide Hülsmann [1998] para uma exposição "não-padrão" da TACE).

Dado que isso é na verdade uma ilusão (imprimir notas fiduciárias [Banco Central] ou criar empréstimos tendo como lastro depósitos a vista [sistema bancário de reservas fracionárias] significa meramente inflação, e de maneira alguma representam uma genuína poupança ou propriedade sobre alguma coisa; vide Hoppe et al. [1998]), os esforços dos empresários em criar uma estrutura de produção que na realidade não reflete as atuais preferências temporais do consumidor (manifestadas na poupança real disponível para a compra de bens de produção) vão terminar em colapso.

Qualquer tipo de economia que esteja acima do estágio mais primitivo já não faz mais uso do escambo, é óbvio; ela utilizará o dinheiro como meio de troca para superar o problema da ausência de uma dupla coincidência de desejos (se A está vendendo ovos e B tem um par de sapatos, como eles vão transacionar se A quiser uma gravata? Não está havendo aí uma dupla coincidência de desejos. Assim, apenas o dinheiro pode satisfazer ambas as necessidades, pois representa um meio indireto de troca). Deve-se enfatizar, no entanto, que além desse papel único, o dinheiro também é um bem em si, o bem mais comercializável que existe. Para que não haja dúvidas, o dinheiro será valioso até o ponto em que as pessoas estiverem dispostas a aceitá-lo numa troca. Ademais, o dinheiro deve primeiramente ter se originado como um bem diretamente aproveitável antes de se tornar um bem indiretamente aproveitável (i.e., dinheiro). Essa é a base do teorema da regressão de Mises (Mises [The Theory of Money and Credit]; Rothbard [Man, Economy, and State], capítulo 4).

Como em qualquer outra troca, uma pessoa pode achar, depois do ocorrido, que esta não foi do seu agrado; por exemplo, ela pode descobrir que o bem utilizado como dinheiro não é mais aceito pela "sociedade". Nesse aspecto, não há nada de único em relação ao dinheiro. O que há de único no dinheiro é o seu uso no cálculo econômico. Dado que todas as trocas são, em última instância, trocas envolvendo propriedade, uma unidade em comum que compare tais trocas é indispensável. Em particular, a quantidade de dinheiro na forma de poupança representa uma "medida" da quantidade de propriedade disponível para os processos de produção. (De fato, mesmo manter uma dada estrutura de produção requer alguma abstinência de consumo, para que a produção dedicada à manutenção ao invés de ao consumo seja efetuada).

Guardar dinheiro (na sua carteira, em uma lata de estanho no quintal, debaixo da cama, etc.) não é uma forma de poupança. O saldo de caixa - ou o efetivo disponível - pode aumentar sem que as preferências temporais tenham diminuído, que é o que ocorre quando se poupa. (Com efeito, uma pessoa poupa porque sua preferência temporal diminui). É possível que uma pessoa aumente seu efetivo disponível diminuindo seu gasto com consumo E TAMBÉM com bem bens de produção. Poupar, por outro lado, significa diminuir o gasto com bens de consumo e aumentar o gasto com bens de produção.

O fato de que poupar normalmente envolve um intermediário (i.e., um banco) que vai permitir que uma outra pessoa gaste com bens de produção em nada altera essa questão. O dinheiro é inerentemente um bem presente; guardá-lo significa que se está "comprando" alívio em relação a uma atual inquietação quanto a um futuro incerto. (Vide Hoppe [1994] e Hoppe et al. [1998] para uma discussão sobre a natureza do dinheiro). Fazer empréstimos que têm como lastro depósitos a vista (dinheiro de terceiros que, teoricamente, pode ser sacado a qualquer momento) não pode facilitar a compra de bens de produção (para a criação de bens futuros em detrimento de bens presentes) - e olhe que ainda nem estamos fazendo qualquer consideração quanto aos aspectos jurídicos envolvidos. (Clique aqui para ler sobre a ilegitimidade do sistema bancário).

O aspecto crucial em relação ao dinheiro é que ele permite o cálculo econômico, a comparação entre as receitas esperadas advindas de uma ação e os seus custos potenciais, tudo isso baseando-se em uma unidade comum. Ou seja, uma pessoa adquire propriedade em troca de outra propriedade tendo por base seu julgamento quanto ao futuro, e isso seria impossível - ou, mais ainda, sem sentido - caso não houvesse uma unidade comum para comparar as alternativas. Dinheiro é propriedade, e em um sistema monetário que faz parecer que existe mais propriedade para a produção do que de fato há, o colapso é inevitável.

Não é preciso tentar imaginar se os empresários "lêem" corretamente as taxas de juros ou não. Empresários fazem julgamentos sobre o futuro e, é claro, podem sempre estar potencialmente errados; o sucesso não pode ser sabido de antemão. Entretanto, os julgamentos sempre serão errados quando uma pessoa se defrontar com a ilusão de que há um maior conjunto de poupança do que as atuais preferências dos consumidores podem de fato justificar. Essa é exatamente a situação estabelecida pelo sistema bancário - como intermediários entre poupadores e produtores, ou "investidores" - atualmente no Ocidente. Esse sistema garante que haverá erros, não obstante não impeça o sucesso; daí a existência de um genuíno crescimento econômico ao lado de vários maus investimentos.

Essa análise não é uma insistência moralista para que a economia seja basicamente fundada em algo "real". É um reconhecimento de que meros desejos subjetivos não podem transformar em realidade mais propriedades do que as que já existem. Caso um sistema monetário dê a ilusão de que as preferências temporais dos consumidores - como fornecedores de propriedade para propósitos de produção - são menores do que realmente são, então a estrutura de produção construída sobre tal sistema é inerentemente equivocada. Quaisquer planos que aparentem ser plausíveis durante a fase inicial da expansão econômica (boom), inevitavelmente revelar-se-ão errados devido a uma insuficiência de propriedade (poupança real). Esse é o ponto mais importante da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos.

Artigo retirado do sítio mises.org.br

Problemas de família

Sabe aquele seu primo enrolado que vive precisando de dinheiro?

Durante uns anos ele recebeu mesada da família para estudar, viajar, se especializar. Os outros membros da família, que sempre trabalharam desde jovens, queriam que este primo tivesse melhores oportunidades na vida. Ninguém sabia direito como é que ele ganhava a vida, mas durante um tempo parecia que ele estava indo bastante bem.

Mas aí veio a crise, e ele perdeu o emprego e não consegue mais financiamento para sustentar o padrão de vida ao qual estava acostumado.

Sem ter a quem recorrer, ele propôs que você assine como fiador do apartamento dele e das contas dele, e você aceitou, junto com outros membros da família.

Em contrapartida, esse primo se compromete a, de agora em diante, viver com parcimônia, se dedicar a conseguir um bom emprego...

10 de maio de 2010

De onde vem o dinheiro para o pacote europeu?

O Financial Times tem uma apresentação explicando que saem :

440 BN euros de empréstimos bilaterais e garantias dos países da zona do euro que seguram a dívida dos PIIGS em caso de default,

60 BN de euros dos demais países que não adotam o euro mas estão na EU, através do sistema de balanço de pagamentos,

E 250 BN de euros do FMI ( inclusive com uns 150 milhões patrocinados por você, contribuinte brasileiro ).

Então na prática isso quer dizer o seguinte. Governo da França e Alemanha e demais países fizeram uma reunião de cúpula, e em caráter emergencial, sem aprovar isso em nenhum parlamento, entraram como fiadores dos títulos gregos, portugueses, espanhóis, irlandeses... Socializaram o risco dos PIIGS com o pagador de impostos destes países.

Os países do centro do euro tem baixo risco, e podem vender seus títulos no mercado a 3-4%, e agora vão repassar esse custo menor para os outros de alto risco, que conseguiam apenas crédito a 6%,8%,10% ao ano.

Outro efeito deste alto risco dos títulos dos PIIGS é que estes títulos estavam deixando de ser aceitos pelo ECB como colateral no sistema monetário do euro. Isto significa que estes países na prática iam ser cortados do sistema monetário europeu - porque os bancos desses países majoritariamente tem como reservas esses títulos.

Aí o ECB foi pressionado para mudar as regras e aceitá-los na marra. E agora, pelo que entendi, vai aceitá-los para sempre.

Quer dizer, um banco europeu deposita como reservas no ECB títulos de má qualidade, que são tratados da mesma maneira que títulos alemães. É parecido com o que o Fed americano fez, ao se encher de papéis podres dos bancos americanos.

As consequências desse novo arranjo para a Europa são bastante grandes.

Café na Saraiva

Os seguidores do blog "Trilha Liberal" trocam idéia na Livraria Saraiva (Shopping Iguatemi - Florianópolis) na segunda que vem (17/05) as 19h.

Pacote de meio trilhão de euros na União Européia

Os políticos da União Européia concordaram em um plano de emergência improvisado no final de semana para colocar um basta nos 'ataques ao euro' promovidos por 'lobos especuladores'.

Fizeram a única coisa que governos podem fazer numa situação destas: intervenção maciça no mercado, com o propósito de fazer quem apostou contra o euro perder muito dinheiro. Isto será feito com um volume enorme de meio trilhão de euros. E o ECB foi completamente rebaixado no processo, mostrando que quem controla o euro por trás dos panos são mesmo os políticos europeus. Isto abala a confiança no euro no longo prazo. Mas foi uma decisão fácil, pois simplesmente não haveria mais 'longo prazo' para o euro.

Este pacote no contexto da UE não pode ser feito sem muitas gambiarras, que serão contestadas veementemente nos países-membros. Sem poder obrigar os países-membros a pagar a conta de outros, por exemplo, os políticos da EU invocaram o artigo 122, que diz que 'países-membros com desastres naturais ou dificuldades excepcionais além de seu controle' podem receber assistência financeira. Será que uma deterioração fiscal é agora algo além do controle do governo?

Artigo 122 do Tratado de Lisboa

Isto pode causar uma verdadeira ascenção na Europa de políticos nacionalistas. No Reino Unido este movimento é articulado e muito forte. E, como se sabe, o UK não adota o euro. E, acreditem ou não, todos os países serão 'convidados' a botar a mão no bolso e colocar bilhões para ajudar neste fundo. Mesmo os que não usam o euro.

Nigel Farage, do UK indepence party, fazendo troça do aniversário de 10 anos do euro. 'É melhor vocês celebrarem este, porque pode não haver um próximo aniversário de 20 anos'.
http://www.youtube.com/watch?v=5DlVFKBwbuU

Neste discurso, o mesmo líder do UKIP chama o presidente da UE de 'um burocrata bancário de baixo escalão'. O discurso é agressivo, mas correto ao apontar a legitimidade popular precária que estas instituições européias tem para justificar sua preponderância aos círculos políticos nacionais.
http://www.youtube.com/watch?v=bypLwI5AQvY&feature=fvw

A situação do Reino Unido é bastante delicada. As eleições não foram decisivas, com nenhum dos partidos obtendo uma vitória clara. Eles possuem problemas fiscais muito grandes, herança maldita dos governos trabalhistas. Porém, um dos países mais endividados dos PIIGS, como vimos em artigo anterior, é a Irlanda. Certamente vão pensar melhor, pois se a Irlanda quebrar, atingiria em cheio o sistema bancário britânico, mesmo sem estar no euro.

Por aí já dá para termos uma idéia de como o debate político vai esquentar na Europa. E enquanto nos países doadores os políticos serão completamente execrados pela população, na Grécia e outros países, continuaremos vendo protestos nas ruas com grande tensão política, se recusando a abrir mão de direitos adquiridos.

Os porquinhos, por enquanto, fugiram da casinha de palha para a casinha de madeira... Ganharam um tempo. E o vento, quando recomeçar, irá soprar em todo mundo...

9 de maio de 2010

Herança maldita de Lula

Ele deixará déficit recorde na Previdência do funcionalismo (09/05/10) Por Juliana Sofia, na Folha:
O próximo presidente enfrentará no primeiro ano de governo um deficit recorde no regime de aposentadoria dos servidores públicos federais. Projeções do Ministério da Previdência indicam que o rombo no sistema alcançará a marca histórica de R$ 32,4 bilhões em 2011.
(...) A previsão é que até 2035 a situação se deteriore progressivamente e o desequilíbrio atinja R$ 99,8 bilhões.
(...) Especialistas consultados pela Folha avaliam que os aumentos salariais concedidos ao funcionalismo no período 2009-2011 estão entre os motivos para o salto no deficit no ano que vem. Além disso, sustentam que o sistema caminha para a insolvência, comprometendo cada vez mais a política fiscal do governo.

7 de maio de 2010

A teia da dívida européia

O NYT fez um grafo mostrando quem deve para quem no seguinte link

Várias observações saem de uma análise deste gráfico:

- Muitos títulos da Grécia foram comprados em Portugal.
- Mas muito mais títulos portugueses estão nos bancos da Espanha.
- Irlanda e UK tem laços históricos e a Irlanda tem, relativamente, a dívida maior de todas.
- A França investe pesadamente na Itália.

Em cima destes dados, eu montei a seguinte tabela

debtor \ creditor
UK
France
Germany
Italy
Spain
Ireland
Portugal
Greece
Greece
15
75
45
7
1
10
8
0
Portugal
24
45
46
7
86
5
0
0
Ireland
188
60
184
18
16
0
22
1
Spain
144
220
240
31
0
30
28
0
Italy
77
511
190
0
47
46
5
1

Usei os seguintes dados de GDP

Billions of $
UK
France
Germany
Italy
Spain
Ireland
Portugal
Greece
Nominal GDP ($)
2183
2670
3300
2118
1464
227
227
330

E calculei a soma cumulativa do percentual de dívida em relação ao PIB, seguindo a seguinte ordem de default:

Grécia -> Portugal -> Irlanda -> Espanha -> Itália



Percentage on creditor GDP
UK
France
Germany
Italy
Spain
Ireland
Portugal
Greece
Greece defaults
0.69%
2.8%
1.36%
0.33%
0.07%
4.4%
3.5%
-
followed by Portugal
1.79%
4.49%
2.79%
0.66%
5.94%
6.6%
3.5%
0
followed by Ireland
10.4%
6.4%
8.3%
1.51%
7.04%
6.6%
13.22%
0.3%
followed by Spain
15.6%
14.9%
15.6%
2.9%
7.04%
19.8%
25.5%
0.3%
followed by Italy
19.1%
34.1%
21.3%
2.9%
10.25%
40.0%
27.7%
0.6%

A tabela deve ser lida da seguinte maneira: Se a Grécia entrar em default, e causar a quebra de Portugal, a dívida com credores irlandeses representará 6.6% do PIB da Irlanda. Caso a Irlanda quebre, o efeito de todas estas quebras nos credores do Reino Unido será equivalente a 10.4% do PIB britânico.