29 de abril de 2011

América Latina em direção à crise

Uma análise lúcida e bastante negativa para o futuro da região nos próximos meses.
http://video.ft.com/v/922925950001/Latin-America-could-be-heading-for-a-crisis

26 de abril de 2011

Definindo inflação para os camponeses

Krugman anda bastante irritado com os economistas de pijama, os inúmeros diletantes que tem obtido uma visão diferente e resgatado princípios básicos da ciência econômica, geralmente passando bem longe da versão oficial dele e de outros economistas laureados. Ele ficou particularmente irritado com esta de chamar inflação a uma expansão no crédito. Ele ignora, ou finge ignorar, que esta era a definição original. Em dicionários antigos ainda se encontra.

A confusão entre a inflação no sentido atual ou clássico pode ser facilmente remediada diferenciando entre inflação monetária e inflação de preços.

Um preço é simplesmente uma razão de troca entre uma coisa e outra. Sempre foi mais prático adotar algum produto como sendo o padrão de troca. Disto vem a moeda. Isto é tão velho quanto a humanidade, e existiu bem antes do processo ter sido sequestrado por um grupo de alquimistas.

É bem fácil de entender. Quando há mais moeda do que produto, o preço, ou quantidade de moeda dada em troca do produto, aumenta. Pura lei da oferta e da procura. Se a produção aumenta, aumentando a moeda na mesma proporção o preço se mantém mais ou menos constante.

É também compreensível o sequestro do termo. Ao redefinir inflação como aumento em um índice de preços, conceito sem base bem definida e que pode ser redefinido a qualquer momento, o governo, o sistema financeiro e os adeptos do crédito fácil podem criar verdaderias fortunas DO NADA, ludibriando as pessoas que trabalham na economia real. Porque obviamente alguém teve que otimizar processos produtivos ou trabalhar mais para aumentar a produção de algo em 10%, enquanto aos alquimistas do Fed não é trabalho nenhum criar 10% a mais de dinheiro na economia. Criar dígitos é um trabalho bem mais leve do que tirar metal de uma mina ou puxar uma enxada.

Este é o mundo em que vivemos, e este sistema é assim hoje no mundo todo.

É como se o senhor feudal, ao ver que a colheita dos seus servos aumenta 10% todo ano, tomasse estes 10% para 'capitalizar' a sua corte. Quando confrontado com uma turba revoltosa, chama seu bobo da corte e guru econômico favorito para explicar:

'Notem que não houve queda do padrão de vida médio do trabalhador. Temos estabilidade de produção. É o cenário ideal.'

Os camposeses ainda não estão convencidos.

'Isso não é justo. Quero minha produção extra! Já pagamos 1/5 em impostos!'.

Estes eram outros tempos, e 1/5 era um nível muito elevado para um servo. Por isso a necessidade de se 'capitalizar' de outra maneira. A carga de impostos só poderia ser dobrada posteriormente com a invenção da URNA, que fica para outra estória.

Mas, voltemos ao instante em que o nosso bobo, que não era nada tonto, teve uma idéia genial.

Cada saca de grão será armazenada no silo real, e trocada por um cupom com a cara do rei. Um saco custará um papel hoje. Mas isto não pode ser assim para sempre, meus caros campônios ( começa a desenhar figuras em um quadro ).

Vejam que como em alguns anos podemos ter mais produção e em outros menos, O preço do saco de grão será, huhum, regido por simples leis econômicas.

Mas, não se preocupem, o reino se compromete a perseguir uma meta de inflação, o que evitará que o número de cupons por saca aumente muito de um ano para outro.

É com isso que vocês camponeses deveriam se preocupar, ao invés de estudar economia ortodoxa pré-keynesiana ou querer saber quantas sacas foram produzidas e por quem.

E o melhor: com isso o nosso reino vai ter juros mais baixos! Nossa prosperidade está garantida. Agora voltem para os campos e façam o ‘nosso’ PIB aumentar.

Este raciocínio parecia bastante com economia de verdade. Enganou os camponeses direitinho. Os desenhos que ele fez no quadro foram impressionantes. Ninguém entendeu, pois ninguém sabia ler, mas este bobo obviamente é um gênio.

E isto garantiu 10% de grão extra para a corte ano após ano, vivendo felizes para sempre.

7 de abril de 2011

O combustível das ilusões

Quando o mercado sofre intervenção econômica do governo, as pessoas leigas não sabem disso, e tendem a aceitar o resultado como um retrato da realidade. Governos sempre tentam usar este fato a favor deles.

A gasolina aqui sempre foi cara. A nossa carga tributária só perde para a de alguns países europeus, como Turquia, Reino Unido e Alemanha. Estamos perto destes, cobrando uns 3$ em impostos por gallon, mais ou menos 50% do preço é imposto. Por isso é natural aos brasileiros pensar que a gasolina aqui é cara.

Só que para aumentar o controle social no país e a sensação de bem-estar, o governo Lula, ao invés de desonerar, em algum momento não muito definido decidiu controlar o preço da gasolina para que esse não estivesse mais aos sabores das variações do petróleo no mercado internacional. Um dia diziam que o barril ia cair, que era temporário. No outro dia diziam que iam manter por algum tempo à mais, fazer uma média. Quase ninguém ia achar ruim, não é mesmo? Aí quando a ficha cai você se dá conta: estamos sob controle de preços. E todo preço falso introduz distorções na economia.

Subsidiar combustíveis é um ítem manjado na agenda do político populista, muito usado em republiquetas mundo afora. É a velha política de pão e circo acrescida de gás, eletricidade e gasolina. Uma onda de prosperidade falsa tomou o país, e com o mercado aquecido com cortes de impostos, aumentamos nossa frota de carros para 38 milhões.

Produzi este gráfico com alguns dados do site da ANP, produção e consumo de derivados de petróleo.



A curva azul é a do consumo de combustíveis. A curva vermelha, por baixo, é a da produção de derivados do petróleo. O álcool fazia a diferença.

Só que com o maior preço do açúcar, a cana virou açúcar e não etanol.

O plano do governo para manter o estado de aparências é extraordinário. A Petrobrás importa gasolina e até mesmo etanol de milho, e enquanto a empresa diz que pode repassar aumentos do petróleo, nosso czar econômico ministro Mantega diz que não.

Enquanto este estado de negação da realidade persistir, mais intervenção e mais improvisação por parte do governo. Poderiam, por exemplo, a qualquer momento taxar o açúcar para obrigar os produtores de cana a venderem a produção para usinas de etanol. Os Kirchner obviamente fizeram escola entre os dirigentes petistas. A Argentina mostra o caminho do que vai se tornar este país com o agravamento da crise nos próximos meses.

Veja no gráfico da reportagem a disparidade de preço entre a gasolina e o álcool diminuindo ao longo do tempo, graças à intervenção estatal, que agora cobra seu preço. E será que tem algum brasileiro que pensa que aqui a gasolina está mais barata do que deveria ser seu preço real de mercado? É difícil encontrar alguém que entenda isso. Aí é quando a miragem se volta contra um governo.

Com uma frota maior, com o petróleo mais caro e sem capacidade de produção de gasolina, a única saída para o governo é o etanol.

Voltando ao nosso parágrafo inicial, quando as pessoas leigas enxergam os preços do mercado, elas não sabem o que está por trás, se há intervenção ou não. Elas assumem que é o preço de mercado. Os preços da gasolina no Brasil estão muito mais baratos do que seriam caso os preços estivessem livres, considerando a mesma carga de impostos, que obviamente é a última coisa que o governo iria mexer.

Os brasileiros ficarão furiosos nos próximos meses quando os controles no preço de gasolina forem abaixo, seja por causa de filas em postos e possíveis racionamentos, seja quando alguém no governo com um pouquinho mais de bom senso resolver deixar a Petrobrás desmontar a miragem da gasolina, para que a empresa possa equilibrar a oferta com a demanda, e o consumo comece a cair.

De alguma maneira, alguma coisa vai ceder, e espero que a experiência ajude para acordar os brasileiros da enorme ilusão que foi o governo Lula.

4 de abril de 2011

A fábrica de ilusões

Ainda corremos o risco de ver em um futuro próximo uma Vale loteada, falida e, pior, re-estatizada com a bênção dos controladores, recebendo subsídios do governo federal para manter siderúrgicas produzindo aço brasileiro em um mercado pós-China em retração para o minério e com um excesso enorme de capacidade no aço.

Pagaremos para produzir um produto para manter o interesse dos políticos, sindicatos e empregados da empresa, e que encherá de orgulho verde-amarelo o coração dos ufanistas babacas, que acreditarão que produzir aço a um custo maior do que preço de venda no mercado internacional seja 'agregar valor'.