28 de fevereiro de 2011

A punhalada Líbia

Golpe duro para o coronel Gaddafi, o ditador amigo do peito de Tony Blair e Berlusconi, assim como de Chávez e Lula. Recebe de um subordinado notícias do conflito.

'Coronel, o exército nos abandonou'.

Esses traidores. Ainda bem que contratamos mercenários. Não precisamos deles.

'Coronel, os rebeldes tomaram os poços de petróleo e as empresas de petróleo abandonaram suas instalações. Nossos recursos esão acabando'.

Malditos capitalistas. Reclamam quando nacionalizamos a propriedade deles e a abandonam quando aparece qualquer probleminha. Mas isso não importa, vai ser melhor sem eles.

'Coronel, a situação é pior ainda. Os rebeldes estão armados e a poucos quilômetros da nossa base.'

Isto também não é importante. Você não entende? Uma guerra se ganha hoje em dia com diplomacia. Precisamos continuar pressionando as nações amigas para que nos apóiem moralmente. Qual é a nossa posição no cenário internacional?

'Coronel, más notícias. Nossos antigos aliados estão dando declarações contra o nosso governo. E, o pior, Coronel...'

Fale logo!

'Coronel, fomos expulsos do conselho de direitos humanos da ONU!'.

Inconsolável e magoado com esse golpe mortal, o coronel recolhe-se a sua tenda.

21 de fevereiro de 2011

Primeiros malabarismos fiscais

O governo Dilma segue na tradição do chefe e começa seus primeiros malabarismos fiscais para burlar as restrições ao crescimento do gasto estatal. Para injetar uns bilhões a mais de capital na Caixa, aquele banco estatal que coincidentemente perdeu alguns bilhões no caso Panamericano, e enterrar mais uns bilhões no BNDES, o maior banco de desenvolvimento estatal do mundo.

A maneira encontrada desta vez, que deveria dar arrepios no pessoal da esquerda, se os mesmos entendessem algo de finanças, foi repassar a estes bancos ações da petrobrás e eletrobrás para que possam ser vendidas no mercado ou dadas de garantia.

Se o governo então tiver grana, compra de volta estas ações. Mas se o pior acontecer estas ações vão ser liquidadas, o que significa uma diminuição da fatia estatal na Petrobras. Isto coloca um risco de baixa de preço na petrobrás se Caixa e BNDES e Gov. federal tiverem problemas de caixa nos próximos anos, o que parece uma boa aposta.

E o pessoal anti-privatização? Ah, esses estão bem contentes com as atuais 'boquinhas', e celebram mais este avanço do governo Dilma.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=147795

17 de fevereiro de 2011

Efeitos colaterais dos aumentos reais no salário mínimo

“Se me dissessem há 14 anos que o salário mínimo iria dobrar em termos reais e que a taxa de desemprego ia cair de 15% para 7%, eu não ia acreditar” Samuel Pessoa

A constituição de 88 entre outros problemas a longo prazo para o país estipulou que o SM serve para indexar o programa de auxílio a quem jamais contribuiu no sistema de previdência. Isto não é pensão, mas sim caridade estatal (LOAS), e deveria ser sujeita a outros critérios e reajustada de acordo com as possibilidades, e não indexada. É uma quantia bastante elevada, mesmo comparando com a quantia equivalente oferecida em países da Europa.

A outra distorção é o aumento do valor mínimo das pensões do INSS. O camarada pagou 300 R$, mas recebe 500 R$, obviamente não há possibilidade alguma de um sistema desses absorver sucessivos aumentos reais do SM. Como os pensionistas do INSS sabem bem, se a sua pensão é acima de 1 SM os reajustes não são automaticamente indexados ao SM, assim como na economia real o SM não faz diferença para aquelas áreas acima do SM, e apenas serve para destruir vagas formais de emprego abaixo do SM. Qualquer economista sério sabe o efeito do SM na economia, e porque os sindicatos curiosamente se preocupam tanto com ele, já que seus membros ganham acima do SM.

A famosa frase do Samuel Pessoa eu leio assim: se me dissessem há 14 anos que o Brasil ia entrar na bolha econômica mundial e ia poder pagar por tudo isso durante algum tempo, eu também não iria acreditar. O governo Dilma está obviamente limpando o lixo tóxico que o chefe deixou e se preparando para o pior. Porque o Brasil seria apenas mais um país em crise fiscal caso sejamos surpreendidos pelos desenlaces da crise mundial, caso nada seja feito agora. E eles sabem que nessa situação a popularidade despenca tão rápido quanto subiu.

5 de fevereiro de 2011

Quem vai alimentar o Egito?

Gostei muito deste artigo do Huffington Post:

Hoje o mundo se pergunta quem irá dominar o Egito. Amanhã perguntará, quem irá alimentá-lo. Porque independente de qual seja a facção que emerja vitoriosa da luta pelo poder, terá de alimentar uma população completamente dependente de trigo importado e de programas de subsídio de compra de comida. E isso não será tarefa fácil.


http://www.huffingtonpost.com/robert-walker/who-will-feed-egypt_b_816495.html

Não será tarefa fácil, porque o sistema de subsídios deve ter distorcido completamente o setor agrícola deles, e o aumento do preço do trigo no mercado internacional impacta diretamente o orçamento do governo. É como se o benefício de um salário-mínimo que se paga no Brasil dependesse de uma variável externa fora do controle do governo.

Aqui o estado se mantém no poder dando dinheiro, e lá dando pão, em uma situação de pobreza já bem diferente da situação brasileira. Se o estado falhar por causa de crises políticas e incapacidade de rolar sua dívida, a população tem o subsídio removido de uma hora para a outra, e deixa de pagar de 4 a 6 vezes menos e passa a pagar o preço real do produto.

Pior ainda, se o país quebrar completamente e não tiver recursos para importar os alimentos que mantém o status-quo por lá há décadas. Nenhum exportador de trigo vai embarcar o produto sem pagamento antecipado, e milhões de pessoas vão morrer de fome por causa da rapidez de desmoronamento destas políticas.

http://www.nationmaster.com/graph/agr_gra_whe_imp-agriculture-grains-wheat-imports

Temos muitos outros países na mesma situação. Iraque, Cuba, Iêmen, Tunísia, Jordânia.

http://www.nationmaster.com/plot/agr_gra_whe_imp_percap-grains-wheat-imports-per-capita/eco_gdp_percap-economy-gdp-per-capita/peo_pop

2 de fevereiro de 2011

A revolução da tecnologia

Se está comentando muito o efeito que as redes sociais estão tendo na política em face aos protestos no norte da África. Tanto nas sociedades democráticas quanto nas autoritárias a tecnologia está mudando as regras do jogo. Podemos apostar que um dos temas caros ao governo este ano será como 'regular' este novo mundo, e evitar que mobilizações políticas apareçam do nada e se multipliquem em dias, e ameacem o status quo.

Este é um tema sobre o qual absolutamente todos os governos se debruçam. Porque todo governo possui por natureza uma imensa vontade de auto-preservação, acima de qualquer outra consideração. Desde os países autoritários que, como o Egito, chegam a desligar serviços de comunicação, passando pela China, que busca usar tecnologia para vigiar eletronicamente seus cidadãos, Europa e EUA que buscam fazer um cordão de isolamento aos novos movimentos políticos, e punir exemplarmente episódios tais como os dos hackers do WikiLeaks, e, finalmente, Brasil e outros emergentes no meio do caminho entre autoritarismo e democracia, que buscam seduzir grandes e pequenos a entrarem no jogo oficial, usando a justiça para reprimir o livre direito à informação, porém tentando manter as aparências e evitando proibições e outras medidas drásticas.

Governos de emergentes como Rússia, Brasil e China são bastante caros à pratica de manter meios de comunicação oficiais camuflados na internet, pagos por baixo dos panos com verbas públicas ou do partido para dar a aparência de um autêntico movimento político, e servindo de válvula de escape ao radicalismo em suas organizações.

Existe hoje tecnologia suficiente sob controle dos governos mais atualizados em tecnologia que permite vasculhar a internet, buscando, por exemplo, pedófilos e criminosos eletrônicos. Mas o carro-chefe destas tecnologias é a busca de informações que podem levar à prisão de esquemas de pedofilia.

Pois bem, exatamente estes mesmos equipamentos, usados para o bem, mas sob os quais não se faz muito controle, poderiam ser usados tranquilamente para a espionagem política. Diria até que isto já está acontecendo em estágio avançado no nosso país.

Mas da mesma maneira que os criminosos, grupos políticos de oposição na internet podem também usar ferramentas de tecnologia que evitam o escrutínio do crescente aparato de vigilância eletrônica. É um jogo de gato-e-rato, uma verdadeira corrida armamentista nas tecnologias de comunicação.