8 de dezembro de 2011

Comentário de Jim Rogers sobre a economia brasileira

Keene: E o que dizer da economia brasileira, com PIB praticamente estagnado? Isso é mais que uma pausa para os mercados emergentes, não é?

Jim: Pois é, é uma pena, porque sempre que as commodities vão bem, o Brasil vai bem. Aí chega a queda e eles começam a improvisar nas medidas econômicas, começam a cometer erros. Desta vez a mulher começou a errar mesmo antes do mercado desaquecer. Controles no câmbio, novas tarifas. Tarifas contra os chineses, os maiores clientes dela. Então eles já começaram a errar. É quase impossível para estrangeiros comprarem terras no Brasil. Estão improvisando com a economia, e não deveriam.


Um de meus gurus econômicos.

18 de outubro de 2011

14 de outubro de 2011

A bola de neve da educação superior americana

Este infográfico trata da história do crédito estudantil nos EUA. É mais um monstro criado por pessoas bem intencionadas para atender uma necessidade real, e no final é um remendo atrás do outro e uma verdaderia bola-de-neve.

Como diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio.

http://www.healthcareadministration.com/college/

23 de setembro de 2011

O erro crasso do general genovês

A medida dificultando o hedge cambial foi duramente criticada nos mesmos dias em que foi anunciada, por gente que entende do assunto. Mas o que interessa?

Os usurpadores do trono não ouvem a ninguém, atiram nos mensageiros e declaram guerra sem antes consultar aos estrategistas.

Seguem apenas o conselho de um certo general genovês, da escola de guerra heterodoxa, que não aguentando o clima de paz entediante sobre o reino, abriu a barriga do pombo e rufou os tambores da guerra.

Logo na primeira batalha, cometeu mais um de seus erros CRASSOS.

Achou que o inimigo jamais chegaria pelo outro lado, dispensou a cavalaria porque não gostou do odor do que os cavalos dos mercenários exalavam. Era um grande problema. Para que precisamos desses mercenários, que lutam por dinheiro e uma hora estão de um lado e outra do outro?

Abriu nosso flanco. A tempestade chegou e nas primeiras saraivadas o real foi trucidado.

Sem poder contar com os mercenários, começou a sangrar imediatamente a cavalaria da reserva oficial, tentando parar aos gritos a debandada das tropas. O forte do general genovês é a improvisação. Vamos ver nos próximos dias mais episódios desta batalha

25 de agosto de 2011

Carta a Paul Krugman, o penetra de Jackson Hole

Caro Krugman,

Bernanke te decepcionou. Obama te decepcionou. Não dá para confiar nos seres humanos. Os alienígenas nos esqueceram e não vão nos atacar, como você sugeriu.

Ninguém dá mais bola para o que você fala. Os políticos chamam suas soluções de ‘açúcar’. O público fanático e ignorante descobriu que economistas como você não servem para absolutamente nada. Nem mesmo as marmotas monetárias que se reúnem em Jackson Hole te mandam um convite.

Então confie nas forças da natureza para gerar a demanda agregada que você tanto espera, para que essa contração ‘se resolva em 18 meses’.

Você, que ao contrário dos ‘fanáticos, ignorantes’ em economia, celebrou os poderes curativos do terremoto japonês sobre a economia mundial, e acredita incondicionalmente no poder da vidraça quebrada, veja que até mesmo o terremoto desta semana te decepcionou.

Vocês estão mesmo em baixa, não é fácil ser Keynesiano hoje em dia, hein?

Vamos esperar então para que o furacão Irene cause bastante morte e destruição quando chegar nos EUA, porque com isso diminui o desemprego, aumentam os gastos com a reconstrução. Vamos torcer para que cause milhões de desabrigados, e assim reativar o setor imobiliário americano.

Já que o furacão keynesiano não veio, torça pelo Irene. Aumento garantido no PIB, e especialmente do PIB per capita.

22 de agosto de 2011

Rebeldes com causa e sem causa

Como eu gostaria que à frente desse movimento Tea Party estivesse o Ron Paul. Mas a política sendo o que é, veremos no Tea Party uma mistura de temas para agradar ao eleitorado mais conservador, inclusive itens da agenda religiosa e conservadora, o que vai atrair algumas críticas fáceis.

Agora, o que interessa para a recuperação é saber se austeridade e equilíbrio de contas sem aumento de impostos continuará no pacote desse movimento ou não, uma vez sentidos os efeitos. Porque assistencialismo também pode fazer parte da agenda religiosa e conservadora.

Mesmo assim, vejo mesmo no Tea Party dos EUA algo muito mais próximo da atitude cívica de um cidadão adulto do que um monte de 'indignados' com o término dos programas sociais, culpando bodes expiatórios ( FMI, Merkel, Banco Mundial ) e cantando hinos em praça pública.

Rumo, eles não tem. Se soubessem algo sobre mercado de trabalho, exigiriam, por exemplo, a redução dos entraves trabalhistas espanhóis. O tipo de proposta que não causa a mínima excitação nestes grupos.

Ao contrário, exigem empregos e assistencialismos, de maneira não muito diferentes dos rioters do Reino Unido, que 'exigem' um gadget ou um produto, sendo que estes já não chamam isso de democracia, e simplesmente quebram a vidraça e pegam o que querem.

Mas revolta e energia de sobra eles tem, e no pior caso isso pode levar para a Europa agitações violentas como a das capitais da primavera árabe. Se formos ver o perfil social da primavera árabe, jovens, formados, confusos e sem futuro, veremos que a Europa não está tão longe assim dessa realidade.

Apesar disso, os tea-parties, com propostas reais e organizando reuniões em seus quintais é que vão ser chamados de fanáticos.

16 de agosto de 2011

Krugman: os que EUA precisam é de uma invasão alienígena

Paul Krugman é um economista keynesiano proeminente, e como todo keynesiano, tem grande apreço pela falácia da vidraça quebrada.

O grande economista francês Frédéric Bastiat já se batia contra esta e outras falácias há muito tempo atrás.


É claro que gastar dinheiro com atividades inúteis, do tipo cavar e tapar buraco, vai movimentar os negócios dos empregados por estas atividades. Este é o lado visível do fenômeno.

O lado que não é visível é que enquanto abrem e fecham buracos, uma economia já com dificuldades vai precisar manter o sustento destes trabalhadores, que com certeza não vão satisfazer suas necessidades ao modo keynesiano, simplesmente imaginando ou não-imaginando que estão de barriga cheia, que estão sob um teto, que estão relaxando depois de tapar buracos assistindo a uma televisão tela plana. Não. Consumirão recursos reais, produzidos pela economia real, em troca de dívida que não vai ser paga no futuro por eles, mas por todos.

Em suma, é como se fosse mais um imposto sobre o setor produtivo sem nada em troca.

Enquanto participam destas atividades econômicas inúteis, os envolvidos nada mais são que parasitas econômicos.

Rogoff é mais fiel ao Keynes original, cujo emaranhado de idéias, apesar de controversas e confusas, faziam bem mais sentido do que as de seu posterior séquito de economistas medíocres que vieram 'interpretar o mestre'. Rogoff defende o gasto em infra-estrutura, mesmo que através de endividamento, receita que de fato funcionaria, se bem que não no caso americano com a construção de pontes para lugar algum, mas ao menos em algum país com déficit nessa área, como no Brasil.

Mas este exemplo é deixado no chinelo por um cada vez mais lunático Paul Krugman, exemplificando ao máximo o absurdo de si mesmo e desta teoria. Disse na CNN que, assim como na segunda guerra mundial, tudo o que os EUA precisam para sair da recessão é de uma 'invasão alienígena'. Palavra de 'Nobéu'. É de se admirar que seguindo conselhos econômicos destes charlatães tenhamos entrado em uma crise mundial?

11 de agosto de 2011

A escalada da pirâmide

Vamos fazer uma pequena conta.

Uma jovem se casa e ingressa no esquema do INSS pagando 5% de contribuição de 1 SM.

Se este dinheiro fosse investido - O QUE NÃO É - teríamos o acúmulo de juros sobre juros.

Uma quantia X depositada anualmente ( para simplificar ) ao longo de N anos e recebendo juros r se multiplica em:

X * ( ( (1+r)^N - 1 )/(r) )

Se este capital recebesse juros reais acima da inflação de 5%, teríamos ao final de 30 anos de contribuição o montante de 70x a contribuição, aproximadamente.

A contribuição é pequena, de 1/20 de um SM, e dá direito a 1 SM.

Se isto fosse investido e recebesse juros - o que seria o melhor caso POSSÍVEL - seria suficiente para 3.5 anos de pagamento de 1 SM.

O dinheiro continuaria rendendo juros, mas convenhamos, economias representando 3.5 x um pagamento anual de 1 SM não levariam uma aposentadoria muito longe.

A expectativa de sobrevida do sexo feminino aos 60 anos é de 20 a 22 anos, dependendo da região do país e das condições.

Agora o pior : essa dona-de-casa pode já se 'aposentar' aos 50 ANOS!

Agora o pior : o INSS é um esquema de Ponzi, não há sequer acúmulo de juros. O que entra tem que igualar o que sai. O resto o estado tira por impostos ou inflação para tapar o inevitável rombo.

Para sustentar uma dona de casa em 2040 será necessário a entrada de 20 donas de casa no 'mercado de trabalho'. Obviamente o que bota mesmo dinheiro no sistema é a contribuição das empresas, da ordem de 20%. Mesmo assim não evita uma quebra, porque uma pirâmide sempre quebra, a menos que vire uma corrente, o que obviamente ninguém quer, porque não ofereceria vantagem alguma a quem é 'contemplado' nesse esquema.

Além de donas-de-casa temos várias classes de isenção de empresas do Simples, e em geral a tendência é prometer benefícios futuros e arrecadar agora para rolar a pirâmide mais um pouco, aos que certamente serão um peso no futuro.

A medida foi aprovada e aplaudida no congresso por membros de todos os partidos.


Entenderam agora porque um colapso total das contas públicas é tanto inevitável quanto necessário?

UPDATE: sem comentários, dois anos de 1/20 de SM vão aposentar uma geração de donas de casa.

Mais outra brecha:

Isso já virou uma bagunça tão grande que não é possível que dure 10 anos desta forma. Talvez nem durante essa crise estas regras se mantenham. Ao menos uma coisa vai ser bonito : ver os petistas se enforcando com a própria corda que eles mesmos passaram em seu pescoço. Dona Dilma vai ter que vetar ou quebrar.

A dose não foi o suficiente

O que era comentado apenas em blogs e por observadores econômicos se confirmou, e os mercados subitamente se deram conta das implicações da insustentabilidade fiscal dos países ricos e da incapacidade do Fed de produzir qualquer poção mágica que não involva inflação.

Isto já vem sendo defendido pelos grupo dos keynesianos irresponsáveis. Paul Krugman usa o termo 'grupo de pessoas muito sérias' para desmerecer os que exigem austeridade fiscal. Eu uso o termo 'grupo dos keynesianos irresponsáveis' para me referir a Krugman, Bernanke, Rogoff, Stigliz e outros panacas com diplomas e títulos mas com total incapacidade e vontade de abrir mão de sua teoria econômica furada.

Se a cobaia não ressucita, é porque a dose não foi suficiente. Esse é o mantra.

2 de agosto de 2011

No fundo eles sabem que funciona, mas quem vai tapar o rombo?

O governo deve estar mesmo desesperado com a deterioração da economia. Porque quando eles estão realmente muito, muito desesperados eles mostram que sabem que só tem uma coisa que funciona : corte de impostos, desoneração, redução do custo-Brasil.

Claro que isso contrasta com todas as promessas que eles fazem ao outro lado, mas por um tempo eles querem ter as duas coisas.

Eles estão para baixar mais um de seus decretos hoje que isenta setores da indústria intensivos em mão-de-obra de pagar a 'contribuição patronal' do INSS de 20%, um dos maiores entraves para a criação de empregos e para a competitividade do Brasil de um modo geral.

Imagine o progresso que teríamos no Brasil se esta peso enorme fosse retirado da nossa economia. Apenas podemos imaginar o que seria a economia desse país se este e outros entraves fossem removidos.

Claro que o decreto contém inúmeras outras medidas, mas o que realmente interessa é essa aí, e por isso o governo teve que obter o consentimento de sindicatos antes de anunciar.

Com isso o INSS deixa de ser uma pedra no pé apenas de alguns setores selecionados, mas tem um 'pequeno' probleminha, vai ser certo o crescimento de um rombo no INSS, que segundo a notícia, 'será coberto com dotações do tesouro'. Hum, interessante...

A realidade é que em algum momento nosso país vai ter que encarar este problema de frente, e quero ver os políticos na televisão tentando explicar aos 'segurados' enfurecidos do INSS que o sistema não passa de um esquema de pirâmide, que os brasileiros pegaram e conseguiram piorar ainda mais com suas aposentadorias precoces. Isto só vai acontecer quando o país for colocado contra a parede pelos seus financiadores, como acontece com alguns países da Europa.

Claro, esta mensagem ninguém vai querer ouvir. Então esta medida é positiva em dose dupla, primeiro por nos dar um gosto do que seria um setor industrial que não fosse obrigado a sustentar um esquema de pirâmide que os governos passados prometeram aos brasileiros, segundo porque é mais uma volta que a corda dá no próprio pescoço do atual governo, que está se enforcando bonito no próprio legado da era Lula que eles mesmos criaram.

28 de junho de 2011

Breve em um país próximo da sua casa

TAXATION

  • Taxes will increase by 2.32bn euros this year, with additional taxes of 3.38bn euros in 2012, 152m euros in 2013 and 699m euros in 2014.
  • A solidarity levy of between 1% and 5% of income will be levied on households to raise 1.38bn euros.
  • The tax-free threshold for income tax will be lowered from 12,000 to 8,000 euros.
  • There will be higher property taxes
  • VAT rates are to rise: the 19% rate will increase to 23%, 11% becomes 13%, and 5.5% will increase to 6.5%.
  • The VAT rate for restaurants and bars will rise to 23% from 13%.
  • Luxury levies will be introduced on yachts, pools and cars.
  • Some tax exemptions will be scrapped
  • Excise taxes on fuel, cigarettes and alcohol will rise by one third.
  • Special levies on profitable firms, high-value properties and people with high incomes will be introduced.

PUBLIC SECTOR CUTS

  • The public sector wage bill will be cut by 770m euros in 2011, 600m euros in 2012, 448m euros in 2013, 300m euros in 2014 and 71m euros in 2015.
  • Nominal public sector wages will be cut by 15%.
  • Wages of employees of state-owned enterprises will be cut by 30% and there will be a cap on wages and bonuses.
  • All temporary contracts for public sector workers will be terminated.
  • Only one in 10 civil servants retiring this year will be replaced and only one in 5 in coming years.

SPENDING CUTS

  • Defence spending will be cut by 200m euros in 2012, and by 333m euros each year from 2013 to 2015.
  • Health spending will be cut by 310m euros this year and a further 1.81bn euros in 2012-2015, mainly by lowering regulated prices for drugs.
  • Public investment will be cut by 850m euros this year.
  • Subsidies for local government will be reduced.
  • Education spending will be cut by closing or merging 1,976 schools.

CUTTING BENEFITS

  • Social security will be cut by 1.09bn euros this year, 1.28bn euros in 2012, 1.03bn euros in 2013, 1.01bn euros in 2014 and 700m euros in 2015.
  • There will be more means-testing and some benefits will be cut.
  • The government hopes to collect more social security contributions by cracking down on evasion and undeclared work.
  • The statutory retirement age will be raised to 65, 40 years of work will be needed for a full pension and benefits will be linked more closely to lifetime contributions.

PRIVATISATION

  • The government aims to raise 50bn euros from privatisations by 2015, including:
  • Selling stakes this year in the betting monopoly OPAP, the lender Hellenic Postbank, port operators Piraeus Port and Thessaloniki Port as well as Thessaloniki Water.
  • It has agreed to sell 10% of Hellenic Telecom to Deutsche Telekom for about 400m euros.
  • Next year, the government plans to sell stakes in Athens Water, refiner Hellenic Petroleum, electricity utility PPC, lender ATEbank as well as ports, airports, motorway concessions, state land and mining rights.
  • It plans further sales to raise 7bn euros in 2013, 13bn euros in 2014 and 15bn euros in 2015.

http://www.bbc.co.uk/news/business-13940431?print=true

10 de junho de 2011

Efeitos colaterais do welfare state

O Brasil começa a apresentar alguns sintomas típicos do welfare state Europeu. Pessoas deixando o emprego para abaixar a renda, famílias se separando. Precisamos parar este monstro enquanto ainda não se firmou por aqui.

3 de junho de 2011

Produto interno bruto incompreendido

O PIB originalmente é uma medida de produção, e se essa produção toda está se movimentando por aí com base em endividamento, por passe de mágica, ou se está sendo gerada por alistamento forçado em uma guerra, ou mesmo uma grande gincana para produzir coisas 24h por dia e lotar caminhões de containeres para afunda-los no mar, não faz a mínima diferença para a fórmula.

Dentro da definição, OK, o PIB é mais um indicador de produção. Deve ser analisado com outros indicadores. Por exemplo, a dívida em relação à produção deveria mostrar se este movimento econômico todo é sustentável ou não.

Até como indicador de produção ele é um indicador bem questionável, porque um bem comprado pelo orçamento de uma família, ou um bem comprado pelo governo, ou uma passagem aérea comprada por uma empresa, todos contam igual. Geralmente a gente observa que uma empresa gasta pior do que uma família, e um governo pior ainda, porque o dinheiro não é dele mesmo.

Uma casa de praia comprada pelo diretor de uma empresa ou uma nova máquina que geraria mais capacidade de produção, novamente, conta igual. Um cara recebendo um cheque de 500 R$ em seu primeiro emprego ou recebendo 500R$ de um programa assistencialista que vai mantê-lo em casa assistindo TV, novamente conta igual.

Umas vaquinhas produtoras de leite que são vendidas em um mês de pindaíba para fazer churrasco, ou uma máquina qualquer que foi derretida para ser usada como objeto decorativo em um museu, ou mesmo a inteira floresta amazônica cortada e vendida como carvão. Tudo isso também aumenta o PIB, que não contabiliza depreciação de capital. Isto seria calculado no produto interno líquido, que a gente quase nunca ouve falar.

10 de maio de 2011

Como evitar a inflação da era Lula

Pensei que demoraria alguns meses até chegarmos a este tipo de sugestão, extraído de um comentário do blog do Kupfer:

http://blogs.estadao.com.br/jpkupfer/o-preco-dos-servicos/comment-page-1/#comment-32677


"Na componente da inflação provocada por serviços vejo pouco a fazer pelo governo. Depende mais é da mentalidade da população. Nem sequer serve de desculpa para aumento da tx Selic.

O(a) sujeito(a) vai precisar admitir cortar o cabelo sem aquela lavagem extra com os aditivos etc. ou então procurar um outro salão ….mais em conta.

Se o dentista está cobrando muito mais caro ele não tem motivos mesmo que use material importado pois o dólar está baixo ….será exploração mesmo! Ídem ao médico que nem material usa…."

...

Não compre o adiável e quero ver como o médico, dentista, etc. vão pagar o aluguel do consultório, da secretária, condomínio, etc. Vão ter que baixar.

Quanto a profissões como mecânicos, eletricistas, etc…vale a concorrência e a pechincha.


____________________________________________________________________________________

O corte de cabelo de 10R$ entrou para a história, assim como o frango de 1 R$ e a nota de 1 Barão?

Sem problemas! Pegue a tesoura que o seu filho usava na aula de artes antes do aperto do orçamento doméstico. Você apenas precisa comprar um espelhinho na Casa China por apenas 5R$ e treinar na frente dele o seu próprio corte de cabelo!

Demora um tempo para ficar direito nas primeiras vezes, mas neste momento em que especuladores conspiram para trazer de volta o dragão da inflação, é justificável reduzir gastos com aparência e com serviços supérfluos.

Para que gastar com dentista? Com um rolo de barbante de 2R$ da Casa China você tem estoque o suficiente para muitas consultas! Basta usar uma maçaneta, um veículo, tente várias combinações, improvise, e se surpreenderá com o resultado.

Também serve para reduzir os custos de manutenção com o automóvel. Um pouco de Super-Bonder ( versão genérica da casa China ) e uns esparadrapos, e o seu carro zero comprado na era Lula vai funcionar por muitos anos! Talvez você até use ele, para se locomover até o banco e pagar a última prestação.

Alguma parente de idade avançada faleceu e você precisa de serviços funerários? Dado o atual panorama macroecônomico, que apesar de absolutamente sob controle sofre a ação de alguns oportunistas, o que que poderia criar um quadro inflacionário pressionado por maior demanda, não estivesse o governo tão vigilante, não seria o caso de esperar uma oferta melhor para enterrar a velhinha como ela merece?

Vá até a casa dela. No quartinho dos fundos você vai encontrar um artefato muito utilizado pelas famílias brasileiras nos anos 80. Se chama FREEZER HORIZONTAL CONSUL. As famílias brasileiras usavam este dispositivo para armazenar mantimentos no início do mês.

Coloque a velhinha dentro e diga com orgulho : TEM QUE DAR CERTO ! EU SOU FISCAL DO SARNEY!

5 de maio de 2011

Margin call nas commodities

Está sendo atribuído aos maus resultados da economia americana a recente queda nas commodities. Vou explicar porque não compro esta explicação, e indicar o verdadeiro responsável pelos movimentos do mercado nos últimos dias.

Em primeiro lugar, do jeito que funciona o mercado futuro, o investidor, seja um produtor ou comprador que usa o mercado futuro como garantia de preço, ou um especulador que assume um risco e tenta se antecipar à tendência de preços, não precisa depositar o valor total do contrato na bolsa de futuros. Ele deposita uma quantia 'de boa-fé', que na prática permite ao investidor se alavancar bastante.

No caso dos contratos futuros de prata, cujo contrato mais negociado é da Comex nos Estados Unidos, o colateral era cada vez menor em razão dos aumentos diários de até 5% no preço da prata. Isto atraiu grande número de especuladores que estavam brincando alavancados.

Muitos rumores e teorias conspiratórias se espalharam na Internet, alguns com um fundo de verdade. Nos anos 70 alguns especuladores quase quebraram o Comex nos EUA porque ao final do contrato quem está comprado tem a opção de receber a mercadoria, e quem está vendido e passar da data também tem a obrigação de entregar a mercadoria.

Em condições normais uma pequena percentagem destes contratos chegam à maturidade, coisa em torno de 2% ou 3%.

Mas se boa parte dos que estão comprados resolverem receber a prata física, o Comex teria um grande problema. Por ser alavancado, este mercado demandaria quantidades imensas de prata, que não poderiam ser supridas mesmo em mais de um ano de produção.

Portanto a Comex mantém um estoque de prata registrada para realizar estas entregas. O vendedor paga o pato, ou a prata, e o Comex entrega ao comprador do seu estoque.

Os irmãos Hunt quase levaram o Comex abaixo de forma não muito diferente do que uma corrida bancária. Não havia prata no mercado à vista. Mas o Comex e o governo americano, como era de se esperar, mudaram as regras do jogo: entraram no campinho, deram um soco no goleiro do time adversário e roubaram a bola do jogo. Acusaram justa ou injustamente os irmãos Hunt de terem conspirado e manipulado o mercado.

Quando especuladores encontram estas falhas a coisa sempre rompe do lado mais fraco. Os especuladores sempre são acusados de crimes, reais ou imaginários, nem que as leis sejam passadas especialmente para isso.

Os irmãos Hunt foram auxiliados por um operador Libanês-brasileiro bastante famoso por aqui chamado Naji Nahas. Um dia quero entender melhor a estória deste mega-especulador que quebrou a Bolsa do Rio, quase quebrou a de São Paulo, e foi tratado como criminoso o resto da vida.

Desta vez, não tínhamos um alvo em potencial para acusar de manipular o mercado da prata. Tínhamos uma multidão. Sua ascenção meteórica decorria do fato de que a prata sempre foi o 'ouro do pobre', sendo bastante acessível a compra de moedas de prata em alguns países como México, Canadá, EUA, Austrália.

A demanda por moedas bullion, ou moedas de investimento, aumentou muito. E, silenciosamente aumentam os seguidores de pontos de vista políticos-econômicos semelhantes ao desse blog: descrentes das autoridades monetárias, conscientes da manipulação em massa exercida por governos, e sabedores da necessidade de buscar uma saída individual para a crise em que estamos, apesar das tentativas oficiais de tentar escondê-la.

Pois isto somado à inexperiência, à ganância e ao alavancamento deu ao Comex uma estratégia completamente válida para esmagar os novos especuladores em prata do mercado futuro. Os garotos mais velhos deram uma surra nos moleques.

Alguns dizem pela Internet que a Comex temia uma corrida à prata, como a dos irmãos Hunt. Mas a verdade é que poucos destes especuladores caseiros dispunham de 250K$ para pagar 100% de apenas um contrato de 5000 oz de prata.

Mas o fato é que pela forma que a bolsa de futuros opera, estava ridículo exigir menos de 5% de colateral. Só que como a prata subiu muito rápido, a resposta da Comex também veio rápida, e quebrou o mercado. A partir de segundo de maio, curiosamente bem depois do feriado, começaram a aumentar dia após dia as margens de segurança nos contratos de prata. E foi uma quebra atrás da outra.

Subiram as margens 5 vezes seguidas, e agora está em torno de 21K$ iniciais para um contrato, e uns 16K$ de margem mínima de manutenção. Isto corresponde a uns 8.4% do contrato de prata a 50$, mas 12% de um contrato de prata a 35$.

Esta sequência de aumentos de margem causou o mercado a desabar, com muitos especuladores vendendo tudo que podem para cobrir a margem e segurar seus contratos. É um movimento de curto-prazo, e não esta queda geral das commodities que muitos economistas pró-establishment querem acreditar, com seus óculos cor-de-rosa.

É temporariamente uma grande destruição de dinheiro alavancado, o que leva os preços abaixo.

É verdade que há uma percepção que os mercados emergentes pouco possam fazer para evitar aumentos de juros, porque se passarem aumentos de preços para seus eleitores, estão arriscando perder a cabeça.

Mas nos EUA, Europa e outros não há nenhuma vontade muito grande de sair aumentando juros. Este sim, seria a única coisa que fundamentalmente faria as commodities voltarem a um nível mais baixo.

Quando o governo culpa os especuladores por aumentos de preços, eles sempre se esquecem que para cada especulador comprado tem um vendido, ou seja, eles se cancelam. O que não é tão fácil de cancelar é o consumo maior das classes emergentes da China, Índia, Brasil, que demandam mais e mais e sem aumento de produção equivalente pressiona os preços.

29 de abril de 2011

América Latina em direção à crise

Uma análise lúcida e bastante negativa para o futuro da região nos próximos meses.
http://video.ft.com/v/922925950001/Latin-America-could-be-heading-for-a-crisis

26 de abril de 2011

Definindo inflação para os camponeses

Krugman anda bastante irritado com os economistas de pijama, os inúmeros diletantes que tem obtido uma visão diferente e resgatado princípios básicos da ciência econômica, geralmente passando bem longe da versão oficial dele e de outros economistas laureados. Ele ficou particularmente irritado com esta de chamar inflação a uma expansão no crédito. Ele ignora, ou finge ignorar, que esta era a definição original. Em dicionários antigos ainda se encontra.

A confusão entre a inflação no sentido atual ou clássico pode ser facilmente remediada diferenciando entre inflação monetária e inflação de preços.

Um preço é simplesmente uma razão de troca entre uma coisa e outra. Sempre foi mais prático adotar algum produto como sendo o padrão de troca. Disto vem a moeda. Isto é tão velho quanto a humanidade, e existiu bem antes do processo ter sido sequestrado por um grupo de alquimistas.

É bem fácil de entender. Quando há mais moeda do que produto, o preço, ou quantidade de moeda dada em troca do produto, aumenta. Pura lei da oferta e da procura. Se a produção aumenta, aumentando a moeda na mesma proporção o preço se mantém mais ou menos constante.

É também compreensível o sequestro do termo. Ao redefinir inflação como aumento em um índice de preços, conceito sem base bem definida e que pode ser redefinido a qualquer momento, o governo, o sistema financeiro e os adeptos do crédito fácil podem criar verdaderias fortunas DO NADA, ludibriando as pessoas que trabalham na economia real. Porque obviamente alguém teve que otimizar processos produtivos ou trabalhar mais para aumentar a produção de algo em 10%, enquanto aos alquimistas do Fed não é trabalho nenhum criar 10% a mais de dinheiro na economia. Criar dígitos é um trabalho bem mais leve do que tirar metal de uma mina ou puxar uma enxada.

Este é o mundo em que vivemos, e este sistema é assim hoje no mundo todo.

É como se o senhor feudal, ao ver que a colheita dos seus servos aumenta 10% todo ano, tomasse estes 10% para 'capitalizar' a sua corte. Quando confrontado com uma turba revoltosa, chama seu bobo da corte e guru econômico favorito para explicar:

'Notem que não houve queda do padrão de vida médio do trabalhador. Temos estabilidade de produção. É o cenário ideal.'

Os camposeses ainda não estão convencidos.

'Isso não é justo. Quero minha produção extra! Já pagamos 1/5 em impostos!'.

Estes eram outros tempos, e 1/5 era um nível muito elevado para um servo. Por isso a necessidade de se 'capitalizar' de outra maneira. A carga de impostos só poderia ser dobrada posteriormente com a invenção da URNA, que fica para outra estória.

Mas, voltemos ao instante em que o nosso bobo, que não era nada tonto, teve uma idéia genial.

Cada saca de grão será armazenada no silo real, e trocada por um cupom com a cara do rei. Um saco custará um papel hoje. Mas isto não pode ser assim para sempre, meus caros campônios ( começa a desenhar figuras em um quadro ).

Vejam que como em alguns anos podemos ter mais produção e em outros menos, O preço do saco de grão será, huhum, regido por simples leis econômicas.

Mas, não se preocupem, o reino se compromete a perseguir uma meta de inflação, o que evitará que o número de cupons por saca aumente muito de um ano para outro.

É com isso que vocês camponeses deveriam se preocupar, ao invés de estudar economia ortodoxa pré-keynesiana ou querer saber quantas sacas foram produzidas e por quem.

E o melhor: com isso o nosso reino vai ter juros mais baixos! Nossa prosperidade está garantida. Agora voltem para os campos e façam o ‘nosso’ PIB aumentar.

Este raciocínio parecia bastante com economia de verdade. Enganou os camponeses direitinho. Os desenhos que ele fez no quadro foram impressionantes. Ninguém entendeu, pois ninguém sabia ler, mas este bobo obviamente é um gênio.

E isto garantiu 10% de grão extra para a corte ano após ano, vivendo felizes para sempre.

7 de abril de 2011

O combustível das ilusões

Quando o mercado sofre intervenção econômica do governo, as pessoas leigas não sabem disso, e tendem a aceitar o resultado como um retrato da realidade. Governos sempre tentam usar este fato a favor deles.

A gasolina aqui sempre foi cara. A nossa carga tributária só perde para a de alguns países europeus, como Turquia, Reino Unido e Alemanha. Estamos perto destes, cobrando uns 3$ em impostos por gallon, mais ou menos 50% do preço é imposto. Por isso é natural aos brasileiros pensar que a gasolina aqui é cara.

Só que para aumentar o controle social no país e a sensação de bem-estar, o governo Lula, ao invés de desonerar, em algum momento não muito definido decidiu controlar o preço da gasolina para que esse não estivesse mais aos sabores das variações do petróleo no mercado internacional. Um dia diziam que o barril ia cair, que era temporário. No outro dia diziam que iam manter por algum tempo à mais, fazer uma média. Quase ninguém ia achar ruim, não é mesmo? Aí quando a ficha cai você se dá conta: estamos sob controle de preços. E todo preço falso introduz distorções na economia.

Subsidiar combustíveis é um ítem manjado na agenda do político populista, muito usado em republiquetas mundo afora. É a velha política de pão e circo acrescida de gás, eletricidade e gasolina. Uma onda de prosperidade falsa tomou o país, e com o mercado aquecido com cortes de impostos, aumentamos nossa frota de carros para 38 milhões.

Produzi este gráfico com alguns dados do site da ANP, produção e consumo de derivados de petróleo.



A curva azul é a do consumo de combustíveis. A curva vermelha, por baixo, é a da produção de derivados do petróleo. O álcool fazia a diferença.

Só que com o maior preço do açúcar, a cana virou açúcar e não etanol.

O plano do governo para manter o estado de aparências é extraordinário. A Petrobrás importa gasolina e até mesmo etanol de milho, e enquanto a empresa diz que pode repassar aumentos do petróleo, nosso czar econômico ministro Mantega diz que não.

Enquanto este estado de negação da realidade persistir, mais intervenção e mais improvisação por parte do governo. Poderiam, por exemplo, a qualquer momento taxar o açúcar para obrigar os produtores de cana a venderem a produção para usinas de etanol. Os Kirchner obviamente fizeram escola entre os dirigentes petistas. A Argentina mostra o caminho do que vai se tornar este país com o agravamento da crise nos próximos meses.

Veja no gráfico da reportagem a disparidade de preço entre a gasolina e o álcool diminuindo ao longo do tempo, graças à intervenção estatal, que agora cobra seu preço. E será que tem algum brasileiro que pensa que aqui a gasolina está mais barata do que deveria ser seu preço real de mercado? É difícil encontrar alguém que entenda isso. Aí é quando a miragem se volta contra um governo.

Com uma frota maior, com o petróleo mais caro e sem capacidade de produção de gasolina, a única saída para o governo é o etanol.

Voltando ao nosso parágrafo inicial, quando as pessoas leigas enxergam os preços do mercado, elas não sabem o que está por trás, se há intervenção ou não. Elas assumem que é o preço de mercado. Os preços da gasolina no Brasil estão muito mais baratos do que seriam caso os preços estivessem livres, considerando a mesma carga de impostos, que obviamente é a última coisa que o governo iria mexer.

Os brasileiros ficarão furiosos nos próximos meses quando os controles no preço de gasolina forem abaixo, seja por causa de filas em postos e possíveis racionamentos, seja quando alguém no governo com um pouquinho mais de bom senso resolver deixar a Petrobrás desmontar a miragem da gasolina, para que a empresa possa equilibrar a oferta com a demanda, e o consumo comece a cair.

De alguma maneira, alguma coisa vai ceder, e espero que a experiência ajude para acordar os brasileiros da enorme ilusão que foi o governo Lula.

4 de abril de 2011

A fábrica de ilusões

Ainda corremos o risco de ver em um futuro próximo uma Vale loteada, falida e, pior, re-estatizada com a bênção dos controladores, recebendo subsídios do governo federal para manter siderúrgicas produzindo aço brasileiro em um mercado pós-China em retração para o minério e com um excesso enorme de capacidade no aço.

Pagaremos para produzir um produto para manter o interesse dos políticos, sindicatos e empregados da empresa, e que encherá de orgulho verde-amarelo o coração dos ufanistas babacas, que acreditarão que produzir aço a um custo maior do que preço de venda no mercado internacional seja 'agregar valor'.

31 de março de 2011

Banco Central de volta para o passado

O BCB inaugura uma nova fase: uma volta para um passado não muito distante em que os políticos mandavam, eles obedeciam, e o dragão da inflação saia da toca, devorando sem piedade os camponeses do lado de fora, mas fazendo a alegria daqueles que se cercavam pelas muralhas do palácio real ou eram bons em finanças e sabiam se proteger.

Os analistas e palpiteiros econômicos que acreditam que um pouco de inflação seja bom para o crescimento estão vibrando com esta notícia. Bem como aqueles partidários que acham que a missão do atual governo é elevada demais para ser abortada por problemas de caixa. Frequentemente, estes dois conjuntos se intersectam.

Conseguiram o que sempre pediram: taxas reais negativas. Veja manchete do estadão hoje, inflação supera todos os investimentos no trimestre.
http://economia.estadao.com.br/noticias/suas-contas+brasil,inflacao-supera-investimentos-no-ano,not_60986,0.htm

Eles acreditam que a missão do BC não é parar de imprimir dinheiro, e sim deixar a máquina rodando 24 horas por dia e irem se preocupar com outras coisas. Para que meta então? É uma mudança total no rumo do BC, que efetivamente saiu da frente dos planos políticos do governo, rasgando uma credibilidade adquirida recentemente a um custo elevado.

O IGP-M está em 11% e mesmo o 'core inflation' do BCB se continuar como está chega o final do ano em 10%. Mas aí eles aumentam o salário mínimo em 12% e fica tudo por isso mesmo. Vão empurrando com a barriga até o país quebrar.

Os brasileiros leigos - e bota leigos nisso - ACREDITAM em um governo de picaretas, que obviamente atropelou o BC. Ministros sem nenhuma seriedade como este Sr. Mantega conseguiram o que tanto queriam: que o Brasil e o Real entrassem na 'guerra monetária' onde os governos irresponsáveis e seus eleitores infantilizados se recusam a admitir a péssima situação em que suas nações se encontram, e sem poder encarar a crise de frente, querem desvalorizar e destruir a credibilidade de suas moedas ainda mais rápido do que os seus pares.

Nós não precisávamos disto. Mas o governo sim.

Quando os preços começarem a aumentar, eles vão culpar o mercado, os especuladores, os lojistas, etc. Isto tudo é bem repetitivo, é sempre a mesma coisa. Se bobear vão até colocar o Banco Central e a Fazenda para vigiar preços e microgerenciar o mercado. Aliás, não podemos esquecer o controle governamental sobre o preço da gasolina, que não deixou que o aumento do petróleo chegasse no IPCA. Porque com o reajuste da gasolina o índice já teria batido nos 7%.

26 de março de 2011

Governo quer aumentar IOF em compra no exterior para mais de 6%

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,compras-no-exterior-terao-iof-maior,not_60192,0.htm

"O governo monitora e adota medidas se perceber distorções e excessos", disse ontem o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel.

Distorções e excessos por parte de quem? Porque o governo não cuida de suas contas e nos deixa em paz? Se eles estão com medo de uma vulnerabilidade maior das contas deles por causa dos fluxos externos, porque não equilibram suas contas? Como sempre, eles preferem controlar as nossas.

Parece ser uma medida bastante confusa, porque se desestimulam o consumo do brasileiro no exterior - incluindo aí, não esqueçamos, todo o comércio online com lojas no exterior - como é que o real vai parar de se fortalecer em relação ao dólar? Não é outra das intervenções favoritas do governo?

Aí eles inventam outra medida para 'corrigir excessos', por exemplo, pegando todos estes os bernankinhos que estão entrando a rodo e dando para seus industriais preferidos comprarem empresas no exterior. Aí pode, não é sr. Tulio Maciel?

Mas, enquanto a gente discute, previsão de mais 400 milhões nos cofres do governo, que é o que interessa pra eles.

24 de março de 2011

Austeridade, melhor agora do que tarde.

Ao ler algumas das declarações sobre a queda do primeiro-ministro e o agravamento da crise em Portugal, por um momento chegamos a pensar que entramos no túnel do tempo e chegamos ao Brasil em um futuro nada distante.

http://economico.sapo.pt/noticias/30-reaccoes-a-um-portugal-sem-governo_114193.html

Seguem abaixo alguns dos tickers para os títulos de 10 anos de alguns países europeus com problemas. Repare que já pagam juros reais bem acima do que se paga aqui no Brasil. Só não se sabe até quando.

http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GGGB10YR:IND
http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GIGB10YR:IND
http://www.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GSPT10YR:IND
http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GSPG10YR:IND
http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GBTPGR10:IND

22 de março de 2011

A Vale mais perto de suas origens

O governo esta semana retorna a um dos objetivos estratégicos de sua 'agenda secreta', que é exercer o controle da Vale. O atual presidente da empresa ousou contrariar os interesses do atual partido no governo, e agora paga um preço pesado.

Hoje ele foi sabatinado pela Previ, um dos maiores fundos de pensão brasileiros. Como sabemos, o capitalismo tupiniquim é financiado em grande parte pelo cofrinho dos funcionários públicos, com seus volumosos fundos, que são curiosamente gerenciados por pessoas indicadas pelo governo ou por sindicatos através também de pressões políticas.

Por aqui, coisa normal, e não causa nenhum espanto. Assim como não causa espanto um ministro pedindo a cabeça de um executivo de uma empresa privada em uma bandeja.

Não sou especialista em Vale, mas quando esta empresa ainda não tinha começado sua história de sucesso, era mais um buraco de dinheiro público entre os tantos que existem no nosso país.

Uma empresa estatal típica investe não apenas pelo lucro, mas para oferecer emprego em uma determinada região, aumentar a produção de aço, ter o melhor time de futebol do país, e para satisfazer objetivos políticos através do investimento em setores estratégicos.

O lucro e a eficiência são evitados, afinal, porque o objetivo da empresa estatal não é apenas o lucro, e sim produzir 'valor social'. Ou seja, é a tradução em um vocabulo progressista do as pessoas entendem vulgarmente por produção de 'tetas' e 'cabides'.

No final, as empresas estatais investem tanto por outros motivos que acabam por se tornar empresas que apresentam péssimo resultado financeiro. Não é raro que se tornem deficitárias, mesmo operando com baixa competição, e, em alguns casos, mesmo sob monopólio.

Imagine você, o pagador de imposto pagando para a Petrobrás tirar o petróleo da terra ou a Vale para cavar o minério. Inimaginável?

Bom, quando essa estória começou nosso país era mais estatizado do que hoje, e não havia a enorme fome por commodities chinesa. A situação deficitária era normal no setor de mineiração. As estatais produziam algo que, em termos simples, ninguém queria comprar pelo preço que à eles custava produzir. Aí o estado intervia, e enterrava dinheiro público nestes investimentos por causa do 'valor inestimável, etc'.

Aí tivemos a onda de privatizações, este tsunami benigno que mudou as bases economômicas de muitos países na nossa região, que saíram de uma base mais estatista para um sistema misto.

E o que a Vale fez após sua privatização? Começou a desfazer o emaranhado de negócios auxiliares que ocupavam o capital da empresa.

Ninguém no momento sabe quais são os planos do governo para a Vale. Mas acredito que envolvam um retorno às origens, à presença maior da empresa em várias outras frentes em que uma análise financeira diria que seria melhor não investir.

A China como descrevemos em um post anterior vive uma bolha de contrução e investimento em infra-estrutura, o que beneficiou bastante a Vale nos últimos anos. Mas o futuro, ninguém sabe. Talvez quando mais precisará de agilidade e de 'destruição criativa', a Vale se envolverá em um jogo político, tendo que tocar projetos para agradar a seus controladores, ou será apenas usada dentro de um plano estratégico político e econômico.

Assustam, por exemplo, declarações de um funcionário do governo revelando que o governo inveja a Vale por seu poder de barganha com a China. Ou seja, acreditam que este poder estaria melhor neles mesmos, para ser usado como moeda de troca.

16 de março de 2011

Dollar loses its safe-haven status

The events on the last weeks proved for the first time since at least WWII that the dollar lost its safe-haven status. Not only to the yen but also to the swiss franc, on record heights against the dollar. Well done, Mr Bernanke!

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Os eventos das últimas semanas revelaram pela primeira vez desde pelo menos o pós-guerra que o dólar perdeu o status de 'safe haven', aquela moeda para a qual todos correm no meio da volatilidade e da incerteza de uma crise. Não apenas o iene, mas também o franco suíço estão fortes em relação ao dólar em níveis jamais vistos. Parabéns, Mr Bernanke!

Dollar breaks record low against the Yen

Breaking news:

The dollar today reached new lows against the yen, at some moment being traded at 76.3 yen for the dollar, a level never seen on last decades. Strong money flows are going back in Japan from foreign subsidiaries in order to have adequate cash provisions for the reconstruction, and a possible carry-trade unwinding may be adding to the problem. The yen may strengthen in the short term and experience very high volatility.

Update: The trading conditions were very thin, read more on
http://finance.yahoo.com/news/Japanese-Yen-Breaks-to-Record-fxcm-3753720745.html?x=0&.v=1

The puzzling question is how can Japan afford to keep a strong yen given the weak fiscal position of their government. The BOJ will intervene strongly creating trillions of yens on the next days, there are power shortages to persist in the next months, they will be importing materials for reconstruction, and many producers have suffered damages or shut down their plants to save energy.

We give our best wishes to the people affected by this terrible disaster that killed thousands of people and destroyed homes, factories and essential infrastructure. But while its toll in lives is certainly not comparable to, in financial terms there is an even bigger disaster hanging over Japan, which is the man-made disaster of its government record-high debt.

That debt is unsustainable given the prospects of a shrinking population base. All this was known before the tragedy happened. More than half of the japanese budget comes from rolling the debt. They have big saving rates, of course, and everybody knows that. But when a country pays only around 1% interest and still interest payments represent one third of all tax revenue, you see there is a big problem. A mere 3% interest rate and Japan would be broke, using all its tax revenue to roll its debt. On the japanese case, with domestically funded debt, there would be no other alternative than a massive devaluation on the Yen.

Japan will surely handle this nuclear crisis and the reconstruction after the earthquake. Many economists close to the 'broken window' school of economics even claim this is a big opportunity for recovery. Surely it will be a good opportunity for companies in the building and material sector, but for Japan and for the world the net result is obviously negative.

For they will have to spend what they do not have in order to rebuild what they already had. The nuclear power base is going to be reassessed all over the world, and the alternatives will certainly not be cheaper.

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O dólar hoje rompeu um récorde em relação ao iene, sendo negociado por 76.3 ienes por dólar, um nível jamais visto nas últimas décadas. Podemos observar um forte movimento de repatriação de capital em direção ao Japão, com a remessa das filiais estrangeiras para que as matrizes possam fazer caixa para arcar com custos de reconstrução. Há também uma possível reversão dos movimentos de carry-trade que podem estar se compondo a este problema. O iene pode se valorizar no curto-prazo e experimentar altos níveis de volatilidade.

Mas a grande questão no momento é como pode o Japão manter um iene forte dada a frágil posição fiscal de seu governo. O BOJ irá intervir nas próximas semanas como tem feito, criando trilhões de ienes. Teremos racionamentos e cortes de energia, o Japão estará importando matérias primas para a reconstrução, e muitos produtores sofreram danos ou fecharam as fábricas para contribuir com a economia de energia.

Neste momento fazemos votos de solidariendade à população afetada por este desastre terrível, que matou milhares de pessoas e causou a destruição de lares, fábricas e infra-estrutura essencial para o funcionamento de uma sociedade moderna. Mas se o custo em vidas é certamente imcomparável, o custo econômico pode ser maior ainda graças ao desastre ainda maior feito pelo homem, o desastre das contas públicas japonesas.

A dívida pública japonesa entrou em uma situação insustentável para um país com o quadro demográfico do Japão. Tudo isso é bem conhecido mesmo antes do terremoto. Mais da metade do orçamento japonês vem da rolagem dos títulos da dívida. Eles possuem umas das maiores taxas de poupança do mundo, e todos sabem disso. Mas o problema é que quando um país paga apenas 1% de juros em seus títulos, e mesmos assim isto compromete um terço de toda a arrecadação, temos claramente um problema. Meros 3% de juros comprometeriam a totalidade da arrecadação com o pagamento dos títulos da dívida. E quando um país chega a uma situação destas não há outra saída que não seja desvalorizar fortemente a sua moeda.

O Japão vai certamente contornar os problemas desta crise nuclear e realizar com sucesso um grande esforço de reconstrução após este terremoto. Muitos economistas do estilo 'janela quebrada' até mesmo clamam que isto será uma bênção para a recuperação econômica japonesa. Com certeza será uma oportunidade para empresas de contrução e de materiais, mas para o Japão em geral e para o mundo o efeito final é certamente negativo.

Pois o país precisará gastar o que não tem para reconstruir o que eles já tinham antes da catástrofe. A base nuclear do mundo todo será reavaliada em favor de outras alternativas certamente mais caras.

9 de março de 2011

A falível locomotiva chinesa

Esta é mais uma notícia pessimista da série 'notícias que você jamais vai ler no Brasil'.

Uma das razões para o aquecimento da economia brasileira nos últimos anos é a fome chinesa por commodities. Isso todos sabemos. Para construir, precisam de aço. Para o aço, precisam do minério de ferro, e para isso precisam da Vale e das australianas.

O que a nossa imprensa econômica não enfatiza é que a exemplo de várias outras nações após o estouro da crise econômica, a China entrou em um vasto programa de estímulo na área de construção, com o governo mandando os bancos estatais emprestarem bilhões para os mais diversos projetos de habitação e infra-estrutura. Ao mesmo tempo eles estão tendo problemas de super-aquecimento da economia, de inflação, de explosão do crédito imobiliário, problemas estes bastante familiares com os nossos.

Até se lê um pouco sobre os programas de habitação chineses na imprensa nacional. Sabemos que o governo chinês vem restringindo o crédito. Mas sobre o incomparável programa de construção de linhas de trem de alta-velocidade ainda não havia lido nada.

Precisei de um programa do Discovery Channel, elogiando a alta-tecnologia e eficiência do novo sistema, de um feriado de carnaval e do meu desconfiômetro para analisar a experiência chinesa em infra-estrutura, programas de estímulo, e o caminho mais certo para eles se perderem em seu próprio colapso bancário, inteiramente made in China, com sua tradição bem comunista de comando unificado da economia e controle de bancos estatais, enterrando bilhões em cidades-fantasma e projetos ao agrado dos burocratas do partido.

Muitos ocidentais acham que a China é infalível. Alguns acham que eles inventaram um novo sistema. O ocidente já perdeu a superioridade moral, tecnológica e financeira em parte e ao menos simbolicamente. E o esporte favorito do agora humilde observador ocidental é se curvar ao modelo chinês, tanto por admiração pelo supostamente bem-sucedido modelo de comando-e-controle quanto pelo mesmo motivo que os europeus se curvavam aos pés dos imperadores da dinastia Ming, para conseguir concessões e favores dos novos imperadores.

Os americanos tem suas agências estatais de fomento à habitação. Os europeus tem seu falido sistema de bem-estar-social. Os brasileiros tem seu INSS e seu BNDES, suas empresas estatais e para-estatais, que cada vez mais engloba todas as restantes. E os chineses tem seus bancos estatais, seus governos locais se endividando até não poder mais e seus programas de estímulo, investindo em novos brinquedinhos, trens de alta-velocidade, provavelmente já entre os mais avançados do planeta.

Se para algumas coisas o processo decisório das democracias deixa a desejar, para outras ela é uma bênção. O projeto do trem-bala no Brasil foi imediatamente atacado pela imprensa e pela oposição, porque, afinal de contas, não tem cabimento construir uma linha que custa 60 milhões por kilômetro para servir de cartaz de propaganda do governo, enquanto nossas estradas e aeroportos precisam de investimento. Os projetos caem no emaranhado da fiscalização do tribunal de contas, permissões ambientais, que se resolvem com a troca de favores e a pressão do governo. Como o nosso país afinal não é tão democrático assim, o projeto eventualmente prossegue. Só que a China é bem menos democrática que o Brasil, e sequer as críticas são toloradas. A coisa lá se resolve em uma canetada e para o bem ou para o mal não há muita discussão possível. E por isso por lá não apenas uma linha foi construída, mas muitas, todas esperando por passageiros.

Só que neste caso em particular a agilidade é pior para eles a longo prazo. Porque estão erguendo a um custo elevado infra-estrutura que não será usada por muitos anos, com o simples propósito de manter a economia a todo vapor, para manter o comando sobre a população, evitando revoluções e o descontentamentos semelhantes aos que eclodem no oriente médio. O autoritário regime chinês provavelmente precisa de uma alta taxa de crescimento apenas para manter o status-quo.

O passageiro das linhas de alta-velocidade deve ter um poder de compra elevado, deve ser um profissional de alto-valor, bem empregado e que tem como pagar o prêmio envolvido no transporte de alta-velocidade. O profissional paga 50 Euros no bilhete porque para ele uma hora a mais faz diferença. Para quem esta diferença não é tão grande, é possível esperar pelo próximo trem e pagar menos. É assim na Europa, que tem uma grande parte da população com renda suficiente para pagar esse preço extra, logo há um número de empresas de trens de alta-velocidade.

Não é assim no Brasil, e muito menos na China. A expansão de uma rede de trens de alta-velocidade é um destes projetos que jamais foi realizado no intuito de realmente dar lucro e ser sustentável, e sim com o intuito de deslumbrar a população, proporcionar contratos para empresas chinesas, muitas oportunidades de corrupção e de negócios. No final quem vai ficar com a conta são os governos locais da China, que vão dar o calote nos bancos estatais, e, no final, como sempre acontece, o governo de Beijing que aparentemente não tinha nada a ver com isso vai precisar usar seus muitos bilhões de reservas para resolver uma enorme crise financeira interna, inteiramente made-in-China.

No médio prazo a locomotiva chinesa continua forte, puxando a demanda por commodities no rastro de programas estatais de estímulo à economia. Mas este e outros desequilíbrios vão continuar aumentando, até a locomotiva chinesa começar a descarrilhar.

Ao menos eles possuem recursos o suficiente para um resgate de seus bancos. Acredito que ao longo prazo tendem a se consolidar na liderança global. Mas também terão seus tropeços, e ao cair mandarão grandes ondas de choque tanto para os países produtores de commodities como para os EUA, cujos títulos formam a base das resevas chineses.

http://en.wikipedia.org/wiki/High-speed_rail_in_China

3 de março de 2011

O fim do desenvolvimentismo está próximo

No meio de uma mudança de tom no governo, que agora tenta colocar o pé no freio e consertar o estrago que O Chefe fez nas contas nacionais, foi anunciado hoje um movimento na direção contrária, um aporte de 55 bilhões no BNDES, para continuar a linha de crédito que em grande parte comprou os sete pontos de meio de crescimento do PIB que foram anunciados recentemente.

Linhas de crédito que disponibilizam para as empresas brasileiras taxas abaixo da inflação para a compra de equipamentos, expansão de fábricas e outros projetos. O governo bem que tenta o discurso da austeridade. Mas nossa realidade econômica hoje não se sustenta sem estímulos artificiais. O surto desenvolvimentista que tomou o país é um pouco melhor do que o insustentável subsídio americano à habitação que gerou o subprime, porque por pior que seja a qualidade do gasto estatal, ao menos é um gasto em produção. Mas também isso não o livra das mesmas distorções.

Com uma economia completamente viciada nestes estímulos artificiais, o prospecto para as empresas brasileiras nos próximos meses é de grande euforia e forte crescimento. Porém um crescimento de má qualidade, com alto custo pelo benefício e que custará bastante caro no futuro, com a saturação dos mercados anos lá para a frente, sem nem entrar no problema da pressão inflacionária que já se faz sentir agora mesmo.

Um belo dia o tesouro não terá mais 50 bilhões para renovar os programas de estímulos artificiais. Um belo dia empresas brasileiras terão que conquistar mercados e fazer uma venda sem subsídios, e competindo com o mundo todo de igual para igual, sem contar com uma das maiores barreiras tarifárias do mundo. Terão que conquistar mercados externos para recuperar a desaceleração do mercado intero, e o terão de fazer baseados exclusivamente no mérito e no custo-benefício de seus produtos e descobrirão que suas vendas serão uma fração do que foi nos anos de estímulos, nos anos em que 'o melhor banco do mundo' estava operando em velocidade máxima.

Descobrirão que há pouca demanda externa para produtos industriais brasileiros, em geral caros e de qualidade pior. O mercado interno se retrairá, haverá cortes de produção, redução de investimentos, projetos inacabados, muitas demissões, o que retro-alimentará o quadro negativo para as contas nacionais em outras frentes, como o aumento do gasto com seguro-desemprego, e a perda por parte dos órgãos estatais dos recursos do FGTS.

Um belo dia - nada distante - não haverá mais como cobrir déficits da previdência, aumentar SM, aumentar Bolsa-Família e o bolsa-empresário do BNDES, tudo ao mesmo tempo e em progressões geométricas. Caminhamos para um quadro de total falência das contas públicas, e o governo aparentemente sabe disso e busca minimizar o impacto e tentar desarmar este mecanismo, antes que aconteça e promova uma versão tupiniquim do que acontece no mundo árabe. A perda do controle do governo sobre a sociedade é o pior que pode ocorrer para qualquer governo, especialmente este, que provavelmente não planeja se aposentar tão cedo.

Entretanto isto é que pode acontecer, a menos que da cartola do governo periodicamente saiam centenas e centenas de bilhões para cobrir todas estas demandas, ano após ano. Não parece ser o caso nem mesmo agora, já que o BNDES está sendo capitalizado com ações da Petrobrás.

28 de fevereiro de 2011

A punhalada Líbia

Golpe duro para o coronel Gaddafi, o ditador amigo do peito de Tony Blair e Berlusconi, assim como de Chávez e Lula. Recebe de um subordinado notícias do conflito.

'Coronel, o exército nos abandonou'.

Esses traidores. Ainda bem que contratamos mercenários. Não precisamos deles.

'Coronel, os rebeldes tomaram os poços de petróleo e as empresas de petróleo abandonaram suas instalações. Nossos recursos esão acabando'.

Malditos capitalistas. Reclamam quando nacionalizamos a propriedade deles e a abandonam quando aparece qualquer probleminha. Mas isso não importa, vai ser melhor sem eles.

'Coronel, a situação é pior ainda. Os rebeldes estão armados e a poucos quilômetros da nossa base.'

Isto também não é importante. Você não entende? Uma guerra se ganha hoje em dia com diplomacia. Precisamos continuar pressionando as nações amigas para que nos apóiem moralmente. Qual é a nossa posição no cenário internacional?

'Coronel, más notícias. Nossos antigos aliados estão dando declarações contra o nosso governo. E, o pior, Coronel...'

Fale logo!

'Coronel, fomos expulsos do conselho de direitos humanos da ONU!'.

Inconsolável e magoado com esse golpe mortal, o coronel recolhe-se a sua tenda.

21 de fevereiro de 2011

Primeiros malabarismos fiscais

O governo Dilma segue na tradição do chefe e começa seus primeiros malabarismos fiscais para burlar as restrições ao crescimento do gasto estatal. Para injetar uns bilhões a mais de capital na Caixa, aquele banco estatal que coincidentemente perdeu alguns bilhões no caso Panamericano, e enterrar mais uns bilhões no BNDES, o maior banco de desenvolvimento estatal do mundo.

A maneira encontrada desta vez, que deveria dar arrepios no pessoal da esquerda, se os mesmos entendessem algo de finanças, foi repassar a estes bancos ações da petrobrás e eletrobrás para que possam ser vendidas no mercado ou dadas de garantia.

Se o governo então tiver grana, compra de volta estas ações. Mas se o pior acontecer estas ações vão ser liquidadas, o que significa uma diminuição da fatia estatal na Petrobras. Isto coloca um risco de baixa de preço na petrobrás se Caixa e BNDES e Gov. federal tiverem problemas de caixa nos próximos anos, o que parece uma boa aposta.

E o pessoal anti-privatização? Ah, esses estão bem contentes com as atuais 'boquinhas', e celebram mais este avanço do governo Dilma.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=147795

17 de fevereiro de 2011

Efeitos colaterais dos aumentos reais no salário mínimo

“Se me dissessem há 14 anos que o salário mínimo iria dobrar em termos reais e que a taxa de desemprego ia cair de 15% para 7%, eu não ia acreditar” Samuel Pessoa

A constituição de 88 entre outros problemas a longo prazo para o país estipulou que o SM serve para indexar o programa de auxílio a quem jamais contribuiu no sistema de previdência. Isto não é pensão, mas sim caridade estatal (LOAS), e deveria ser sujeita a outros critérios e reajustada de acordo com as possibilidades, e não indexada. É uma quantia bastante elevada, mesmo comparando com a quantia equivalente oferecida em países da Europa.

A outra distorção é o aumento do valor mínimo das pensões do INSS. O camarada pagou 300 R$, mas recebe 500 R$, obviamente não há possibilidade alguma de um sistema desses absorver sucessivos aumentos reais do SM. Como os pensionistas do INSS sabem bem, se a sua pensão é acima de 1 SM os reajustes não são automaticamente indexados ao SM, assim como na economia real o SM não faz diferença para aquelas áreas acima do SM, e apenas serve para destruir vagas formais de emprego abaixo do SM. Qualquer economista sério sabe o efeito do SM na economia, e porque os sindicatos curiosamente se preocupam tanto com ele, já que seus membros ganham acima do SM.

A famosa frase do Samuel Pessoa eu leio assim: se me dissessem há 14 anos que o Brasil ia entrar na bolha econômica mundial e ia poder pagar por tudo isso durante algum tempo, eu também não iria acreditar. O governo Dilma está obviamente limpando o lixo tóxico que o chefe deixou e se preparando para o pior. Porque o Brasil seria apenas mais um país em crise fiscal caso sejamos surpreendidos pelos desenlaces da crise mundial, caso nada seja feito agora. E eles sabem que nessa situação a popularidade despenca tão rápido quanto subiu.