7 de abril de 2011

O combustível das ilusões

Quando o mercado sofre intervenção econômica do governo, as pessoas leigas não sabem disso, e tendem a aceitar o resultado como um retrato da realidade. Governos sempre tentam usar este fato a favor deles.

A gasolina aqui sempre foi cara. A nossa carga tributária só perde para a de alguns países europeus, como Turquia, Reino Unido e Alemanha. Estamos perto destes, cobrando uns 3$ em impostos por gallon, mais ou menos 50% do preço é imposto. Por isso é natural aos brasileiros pensar que a gasolina aqui é cara.

Só que para aumentar o controle social no país e a sensação de bem-estar, o governo Lula, ao invés de desonerar, em algum momento não muito definido decidiu controlar o preço da gasolina para que esse não estivesse mais aos sabores das variações do petróleo no mercado internacional. Um dia diziam que o barril ia cair, que era temporário. No outro dia diziam que iam manter por algum tempo à mais, fazer uma média. Quase ninguém ia achar ruim, não é mesmo? Aí quando a ficha cai você se dá conta: estamos sob controle de preços. E todo preço falso introduz distorções na economia.

Subsidiar combustíveis é um ítem manjado na agenda do político populista, muito usado em republiquetas mundo afora. É a velha política de pão e circo acrescida de gás, eletricidade e gasolina. Uma onda de prosperidade falsa tomou o país, e com o mercado aquecido com cortes de impostos, aumentamos nossa frota de carros para 38 milhões.

Produzi este gráfico com alguns dados do site da ANP, produção e consumo de derivados de petróleo.



A curva azul é a do consumo de combustíveis. A curva vermelha, por baixo, é a da produção de derivados do petróleo. O álcool fazia a diferença.

Só que com o maior preço do açúcar, a cana virou açúcar e não etanol.

O plano do governo para manter o estado de aparências é extraordinário. A Petrobrás importa gasolina e até mesmo etanol de milho, e enquanto a empresa diz que pode repassar aumentos do petróleo, nosso czar econômico ministro Mantega diz que não.

Enquanto este estado de negação da realidade persistir, mais intervenção e mais improvisação por parte do governo. Poderiam, por exemplo, a qualquer momento taxar o açúcar para obrigar os produtores de cana a venderem a produção para usinas de etanol. Os Kirchner obviamente fizeram escola entre os dirigentes petistas. A Argentina mostra o caminho do que vai se tornar este país com o agravamento da crise nos próximos meses.

Veja no gráfico da reportagem a disparidade de preço entre a gasolina e o álcool diminuindo ao longo do tempo, graças à intervenção estatal, que agora cobra seu preço. E será que tem algum brasileiro que pensa que aqui a gasolina está mais barata do que deveria ser seu preço real de mercado? É difícil encontrar alguém que entenda isso. Aí é quando a miragem se volta contra um governo.

Com uma frota maior, com o petróleo mais caro e sem capacidade de produção de gasolina, a única saída para o governo é o etanol.

Voltando ao nosso parágrafo inicial, quando as pessoas leigas enxergam os preços do mercado, elas não sabem o que está por trás, se há intervenção ou não. Elas assumem que é o preço de mercado. Os preços da gasolina no Brasil estão muito mais baratos do que seriam caso os preços estivessem livres, considerando a mesma carga de impostos, que obviamente é a última coisa que o governo iria mexer.

Os brasileiros ficarão furiosos nos próximos meses quando os controles no preço de gasolina forem abaixo, seja por causa de filas em postos e possíveis racionamentos, seja quando alguém no governo com um pouquinho mais de bom senso resolver deixar a Petrobrás desmontar a miragem da gasolina, para que a empresa possa equilibrar a oferta com a demanda, e o consumo comece a cair.

De alguma maneira, alguma coisa vai ceder, e espero que a experiência ajude para acordar os brasileiros da enorme ilusão que foi o governo Lula.

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