26 de abril de 2011

Definindo inflação para os camponeses

Krugman anda bastante irritado com os economistas de pijama, os inúmeros diletantes que tem obtido uma visão diferente e resgatado princípios básicos da ciência econômica, geralmente passando bem longe da versão oficial dele e de outros economistas laureados. Ele ficou particularmente irritado com esta de chamar inflação a uma expansão no crédito. Ele ignora, ou finge ignorar, que esta era a definição original. Em dicionários antigos ainda se encontra.

A confusão entre a inflação no sentido atual ou clássico pode ser facilmente remediada diferenciando entre inflação monetária e inflação de preços.

Um preço é simplesmente uma razão de troca entre uma coisa e outra. Sempre foi mais prático adotar algum produto como sendo o padrão de troca. Disto vem a moeda. Isto é tão velho quanto a humanidade, e existiu bem antes do processo ter sido sequestrado por um grupo de alquimistas.

É bem fácil de entender. Quando há mais moeda do que produto, o preço, ou quantidade de moeda dada em troca do produto, aumenta. Pura lei da oferta e da procura. Se a produção aumenta, aumentando a moeda na mesma proporção o preço se mantém mais ou menos constante.

É também compreensível o sequestro do termo. Ao redefinir inflação como aumento em um índice de preços, conceito sem base bem definida e que pode ser redefinido a qualquer momento, o governo, o sistema financeiro e os adeptos do crédito fácil podem criar verdaderias fortunas DO NADA, ludibriando as pessoas que trabalham na economia real. Porque obviamente alguém teve que otimizar processos produtivos ou trabalhar mais para aumentar a produção de algo em 10%, enquanto aos alquimistas do Fed não é trabalho nenhum criar 10% a mais de dinheiro na economia. Criar dígitos é um trabalho bem mais leve do que tirar metal de uma mina ou puxar uma enxada.

Este é o mundo em que vivemos, e este sistema é assim hoje no mundo todo.

É como se o senhor feudal, ao ver que a colheita dos seus servos aumenta 10% todo ano, tomasse estes 10% para 'capitalizar' a sua corte. Quando confrontado com uma turba revoltosa, chama seu bobo da corte e guru econômico favorito para explicar:

'Notem que não houve queda do padrão de vida médio do trabalhador. Temos estabilidade de produção. É o cenário ideal.'

Os camposeses ainda não estão convencidos.

'Isso não é justo. Quero minha produção extra! Já pagamos 1/5 em impostos!'.

Estes eram outros tempos, e 1/5 era um nível muito elevado para um servo. Por isso a necessidade de se 'capitalizar' de outra maneira. A carga de impostos só poderia ser dobrada posteriormente com a invenção da URNA, que fica para outra estória.

Mas, voltemos ao instante em que o nosso bobo, que não era nada tonto, teve uma idéia genial.

Cada saca de grão será armazenada no silo real, e trocada por um cupom com a cara do rei. Um saco custará um papel hoje. Mas isto não pode ser assim para sempre, meus caros campônios ( começa a desenhar figuras em um quadro ).

Vejam que como em alguns anos podemos ter mais produção e em outros menos, O preço do saco de grão será, huhum, regido por simples leis econômicas.

Mas, não se preocupem, o reino se compromete a perseguir uma meta de inflação, o que evitará que o número de cupons por saca aumente muito de um ano para outro.

É com isso que vocês camponeses deveriam se preocupar, ao invés de estudar economia ortodoxa pré-keynesiana ou querer saber quantas sacas foram produzidas e por quem.

E o melhor: com isso o nosso reino vai ter juros mais baixos! Nossa prosperidade está garantida. Agora voltem para os campos e façam o ‘nosso’ PIB aumentar.

Este raciocínio parecia bastante com economia de verdade. Enganou os camponeses direitinho. Os desenhos que ele fez no quadro foram impressionantes. Ninguém entendeu, pois ninguém sabia ler, mas este bobo obviamente é um gênio.

E isto garantiu 10% de grão extra para a corte ano após ano, vivendo felizes para sempre.

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