Estava ontem ouvindo mais uma excelente análise do Peter Schiff no YouTube, em que ele comentou o provável caminho de desvalorização do euro, a monetização da dívida pública, termo técnico que descreve o processo de venda de títulos públicos bancados principalmente por 'compras' do banco central, prática conhecida popularmente como 'imprimir dinheiro'. Falou sobre 'moral hazard' e ressaltou que no final a sociedade inteira paga pelas perdas de terceiros, ao ter sua riqueza roubada pela inflação resultante de uma política de relaxamento monetário.
O BCE acenou para esta possibilidade ao garantir que aceitará como colateral, independente de fundamentos, títulos gregos, portugueses e demais títulos de governos europeus. Dizem as leis econômicas, ou melhor, diz o bom senso, que diante desta possibilidade, todos os bancos da Europa vão depositar tantos títulos podres quanto for possível debaixo da asa do BCE.
Mas, pensemos agora, qual será o efeito de um euro fraco para a Europa, dados os fundamentos econômicos dos países-membros? Será que a economia da Grécia vai se beneficiar a curto prazo com um euro fraco? Pode até ser, mas os fundamentos econômicos deste país não vão se alterar significativamente por causa disso. Porque a Grécia não possui tantas exportações, embora seja muito forte no trasporte marítimo. Por outro lado, a Grécia depende bastante do fluxo de turistas, que em sua maioria são provenientes da zona do euro.
Já a Alemanha é um dos maiores exportadores do mundo, e que por causa de sua produtividade maior, é tanto o principal exportador europeu quanto o maior 'exportador' para o mercado interno europeu. Alemães sempre pagaram preços menores na UE, por terem uma disponibilidade maior e mais competitiva de produtos de qualidade. Quem tem parentes ou amigos morando na Alemanha pode comprovar isso na prática.
Na prática o euro na Alemanha em termos de poder de compra sempre valeu uns 10% a mais. E na Espanha, Irlanda, Portugal, uns 20% a menos. É quando a realidade começa a entrar em choque com as hipóteses de mobilidade de produtos, empresas e mão-de-obra que os economistas assumem válidas na união monetária...
Resumindo, até agora a Alemanha foi a locomotiva da Europa, com grande exportação de produtos de alto valor agregado, como máquinas industriais. Este é um setor que se contrai bastante em uma crise, pois está mais distante de produtos finais na estrutura de produção. Mas a queda do euro vai efetivamente estimular este setor, bem como outros setores exportadores da Alemanha.
Alguns comentaristas apontaram que haverá deflação forte pela primeira vez na Espanha, Grécia. Isto é verdade. Mas não estou convencido que o pacote seja tão deflacionário assim. Porque precisamos ver o que vai acontecer com a oferta de crédito na Alemanha e outros países do centro. Se durante a fase de fundação do euro o crédito saiu do centro para o sul da Europa, agora é provável que este crédito invista mais nos países do centro, bem como nos mercados emergentes.
O sul da Europa teve seu maior influxo de capital em décadas. De agora em diante é só aperto para eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário