Em geral chamam aos investidores de especuladores quando estes são portadores de más notícias, ou apostam contra o consenso estabelecido...
As pessoas agora se perguntam se existiram alertas antecipados sobre a Grécia, sobre os problemas do euro, sobre a crise imobiliária.
Claro que sim. Sempre existem alguns analistas que exercem o papel essencial no capitalismo de apostar contra o consenso, e que avisaram sobre o alto endividamento e a baixa competitividade das economias do sul, sobre o desprezo aos critérios de Maastricht, sobre a inviabilidade do euro sem maior controle europeu sobre os orçamentos.
Como sempre acontece, estes mensageiros são encarados como "estraga-prazeres"... Ninguém irá parar o agradável baile para ouvir a ladainha deles.
É como se o cara acreditasse fortemente que o Brasil não tem a mínima chance de ganhar a próxima copa, mesmo que este não seja o resultado que ele deseja, mas por causa disso e daquilo. Ninguém vai querer escutar esta opinião, mesmo que ele tenha toda a razão.
Assim como no mercado de apostas, a solução para esse dilema é o "do contra" casar dinheiro em suas previsões ( put your money where your mouth is) , apostando em um evento que, pela opinião majoritária, refletida pelo mercado, é altamente improvável.
Já ao colocar sua aposta, o 'do contra' está colocando no sistema o sinal de que este evento não é tão improvável assim, corrigindo um otimismo exacerbado. Talvez outros especuladores se animem a 'entrar junto', pois também desconfiam, ou querem simplesmente arriscar.
Se certos em sua análise, a ação dos investidores ‘do contra’ coloca as probabilidades e os riscos no radar e com o preço certo. Ele antecipa as crises e força os agentes públicos ou privados a lidarem com o problema.
Se errados, perdem suas fichas e saem deste negócio de especulação econômica. Se não forem bons nisso, saem desse jogo para sempre.
Especulação é uma palavra que para os leigos soa bastante pejorativa. Mas quem estudou economia ou já pensou um pouco sobre isso sabe como ela é absolutamente essencial para nos ajustarmos ao futuro, sempre incerto.
Infelizmente em um mercado com forte intervenção estes investidores tem uma ação mais limitada do que no mercado de apostas. Temos na última hora a intervenção de governos para salvar bancos podres, refinanciar empreendimentos infrutíferos, injetar liquidez em buracos de dinheiro, levando o ‘do contra’ a ter que lidar com fatos completamente arbitrários fora de suas previsões.
Quando o ambiente piora, vemos até mesmo decretos banindo suas estratégias de investimento, ou declarações públicas ameaçando financeiramente e até fisicamente os especuladores.
É como apostar em uma partida de futebol no time que está perdendo, mas sabendo que o juiz pode anular gols, pegar a bola e encerrar a partida a qualquer hora. Aí o mercado de apostas não funciona mais, e já não seria confiável nos basearmos nele.
O problema é que sem a ação do mercado, e a informação que tiramos dele, estamos no escuro. No escuro, em um carro sem farol, onde é proibido ligar a lanterna, e provavelmente ladeira abaixo...
19 de maio de 2010
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Um comentário:
Perfeito Julek. Jogar a culpa nos especuladores é o item número 1 do manual do governo corrupto, o número 2 é culpar o ganância dos comerciantes pela superinflação em tempos de crise.
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