8 de outubro de 2010

“Os Institutos de pesquisa devem uma explicação”

EXCLUSIVA PARA O TRILHA LIBERAL

A cobrança é do professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Manuel Rosa de Oliveira Lino, responsável pela disciplina de Estatística e com experiência em pesquisas eleitorais municipais e estaduais em Santa Catarina no período entre 1982 e 2002. Formado em Matemática e com doutorado em Engenharia de Produção, o professor Manuel Lino faz uma dura cobrança no trabalho realizado pelos institutos de pesquisa nestas eleições.



Podemos afirmar que os Institutos de Pesquisa foram os grandes derrotados nesta eleição?

Eu diria que sim. Os institutos que deveriam dar uma opinião abalizada daquilo que é a tendência do eleitorado e com certeza erraram.

Houve má fé ou incompetência?
Eu não posso afirmar, mas a gente sabe que o brasileiro não gosta de torcer para o time que está perdendo. E isso gera algum dano para o político que está na segunda colocação. Aquele que as pesquisas apontam como primeiro, tendo o seu percentual majorado, isso sempre leva mais pessoas a votarem nele.

Além da influência das pesquisas sobre o eleitor, se nota também que muitos candidatos a deputado acabam abandonando os candidatos da majoritária para evitar a vinculação com quem aparentemente perderia as eleições. O senhor concorda com esse efeito das pesquisas?
Sim, houve isso declaradamente, em vários Estados, inclusive em Santa Catarina.

Recentemente surgiram vários institutos de pesquisa, o que em um primeiro momento parece bom, pois haveria confrontação nos resultados, mas as pesquisas, em geral, apresentaram os mesmos números. O que aconteceu?
Meu sentimento é que quando um instituto sai na frente e publica uma pesquisa ninguém vai divulgar um resultado diferente. De lá para cá, todos os institutos publicaram números quase que paralelos. Não houve alterações significativas. E por que a Dilma começou a cair nas pesquisas? Porque nenhum instituto teria como aguentar aquele percentual de votos. Aqueles números não eram viáveis. Assim, a partir de um determinado momento começou a se trazer os números para um resultado que indicava a possibilidade de segundo turno. Mas isso só foi indicado na última pesquisa.

A sensação que fica é que, só é possível verificar que os institutos de pesquisa erraram quando ocorreu a eleição. Durante todo o período anterior os institutos podem direcionar os números até um valor perto do real no final da eleição? Eles possuem esses dados?
Meu sentimento, novamente, é que eles ajustam os números no final aos dados que eles tinham. Afirmo que há um grande indício de que pode ter havido isso.

As diferenças no cenário estadual foram gritantes. Tudo indicava que haveria segundo turno. A candidata Ideli, por exemplo, reclamou muito. Ela tem razão?
O aspecto curioso é que a Ideli reclamou pra ela, mas não reclamou para Dilma! O que cada um ganha ou perde é que se reflete na reclamação. O Colombo teria mais razão para reclamar. O Instituto pode errar também, por isso existe a margem de erro. A não ser que ocorra algum fato extraordinário, mas isso não ocorreu. É muito provável que eles não trabalharam com amostras adequadas. Algum problema houve.

Há várias eleições atrás, um instituto de pesquisa publicou que em um município da Grande Florianópolis, determinado candidato tinha mais de 50% dos votos. Mas a sua pesquisa indicava empate técnico com vantagem para o outro candidato. O que ocorreu nesse caso?
Final de campanha todo mundo precisa mostrar um resultado favorável. Na ocasião foi apresentado um resultado, e eu disse que não eram verdadeiros, pois nós tínhamos uma pesquisa paralela com dados diferentes. Na época houve a contestação dos advogados do partido e eles questionaram o trabalho da universidade. Mas na eleição os números das urnas avalizaram o nosso trabalho. Na nossa pesquisa, a amostra tem que ser significativa e representativa sem pender para nenhum lado. Desta forma, dificilmente a gente erra no resultado de uma pesquisa. Um erro de 3% é aceitável, mas errar 10% não tem como. Tem que errar muito durante a pesquisa para chegar nesse número. Por que esse ano teve tanto erro? Os Institutos de pesquisa devem uma explicação.

Um comentário:

Julek disse...

Bem que você já tinha comentado antes da eleição que isso poderia acontecer.

Parabéns pela entrevista!