7 de junho de 2010

Pela liberdade dos agitadores e pseudo-intelectuais

Neste artigo, um Mises bastante frustrado com a situação européia de sua época culpa o estado de coisas pela sedução da opinião pública pelas idéias dos pseudo-intelectuais. Idéias utópicas, destrutivas, e que levariam à formação de regimes totalitários, alguma vez circularam pela Europa como a 'última moda'.

Entretanto, conclui Mises, o ambiente de liberdade que possibilita o aparecimento de artistas decadentes, o agitar frenético dos ativistas de toda espécie, e a supremacia dos pseudo-intelectuais é o preço a pagar para que os verdadeiros pensadores possam respirar e produzir as boas idéias. A liberdade serve para propagar tanto idéias boas quanto idéias ruins, que podem no final colocar em risco a própria liberdade de que estes grupos desfrutam. Isto parece escrito sob medida para a nossa era de 'chantagistas sociais'. O problema não é de hoje...

Em seguida, nossa tradução de um trecho do livro 'A mentalidade anti-capitalista':


No universo não há estabilidade nunca, e em nenhum lugar encontramos imobilidade. A mudança e a transformação são componentes essenciais da vida. Cada estado de coisas é transiente. Cada era é uma era de transição. Na vida humana nunca há calma e repouso. A vida é um processo, e não perseverança no 'status quo'. Ainda assim, a mente humana sempre foi iludida por uma imagem de existência imutável. O fim declarado de todos os movimentos utópicos é o de colocar um fim à história e estabelecer uma calma final e permanente.

As razões psicológicas para esta tendência são óbvias. Cada mudança altera as condições de vida e de bem-estar e obriga as pessoas a se ajustarem continuamente à modificação em seus ambientes. Isto fere os interesses estabelecidos e ameaça os modos tradicionais de produção e consumo. Incomoda a todos os que são inertes intelectualmente e se abstém de revisar as suas formas de pensamento.

O conservadorismo é contrário à própria natureza da ação humana. Mas é sempre a plataforma favorita das maiorias, dos inertes que estupidamente resistem contra avanços em suas próprias condições, proporcionado pelas ações de uma ação de uma minoria alerta. Ao empregar o termo 'reacionário' alguém se refere em geral aos padres e aristocratas que se reúnem sob a bandeira de um partido conservador. Entretanto, os exemplos mais notáveis do espírito reacionário nos são exibidos por outros grupos. Pelas guildas de artesãos que bloqueiam o acesso dos novos entrantes. Pelos fazendeiros que pedem proteção tarifária, subsídios e 'preços justos'. Pelos assalariados que são hostis às inovações tecnológicas, e estimulam programas de cabides de emprego e similares.

A arrogância vulgar dos 'estudados' e dos artistas boêmios considera a atividade do homem de negócios como uma mera atividade pecuniária. A verdade é que os empreendedores e empresários exibem mais faculdades intelectuais e intuição do que o intelectual ou artista médio. A inferioridade destes intelectuais reside justamente no fato que eles falham completamente em reconhecer que para operar um empreendimento comercial é preciso poder de raciocínio.

A emergência de uma classe numerosa de intelectuais frívolos é um dos fenômenos mais infelizes do capitalismo moderno. Seu notável agitar causa repulsa às pessoas de bom senso. Eles são uma constante incomodação. Não causaria dano a ninguém se algo fosse feito para reprimir o agitar deles, ou mesmo varrer para fora deste mundo os seus grupos e panelinhas.

Entretanto, a liberdade é indivisível. Qualquer tentativa de restringir a liberdade de pseudo-artistas e intelectuais decadentes colocaria nas autoridades o poder de determinar o que é bom e o que é mau. Isto socializaria o esforço intelectual e artístico. É questionável que isto fosse suficiente para extirpar os desagradáveis e inúteis, e seria quase certo que colocaria obstáculos intransponíveis no caminho dos verdadeiros gênios. Pois os poderes constituídos não gostam de novas idéias, novas formas de pensar e novos estilos artísticos. Eles se opoem a qualquer tipo de inovação. A supremacia cultural das autoridades resultaria em uma arregimentação cultural, o que traria estagnação e decadência.

A corrupção moral, a licenciosidade e esterilidade intelectuais de uma classe de pretensos autores e artistas vagabundos é o resgate que a humanidade precisa pagar para que os pioneiros criativos estejam livres para realizar seu trabalho. A liberdade deve ser garantida à todos, mesmo para as pessoas de baixa índole. Em particular para aqueles que usam a liberdade apenas para trazer mal à humanidade. As licenças de que desfrutam os boêmios maltrapilhos do 'quartier latin' de Paris é uma das condições necessárias à ascenção de uns poucos escritores, pintores e escultores verdadeiramente geniais. A primeira coisa que um gênio precisa é de espaço livre.

No final das contas, não é a atitude frívola dos intelectuais boêmios que gera o desastre. Mas sim a vontade por parte do público de aceitar suas opiniões favoravelmente. O mal reside na adoção sempre rápida por parte dos formadores da opinião pública, e no final, pelas massas sem rumo, das idéias defendidas por pseudo-filosofias. As pessoas estão sempre ansiosas para subscrever a última moda, ou correm o risco de parecerem chatas ou 'quadradas'.

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