Schiff aceitou o debate, mas sabia que tinha entrado para perder.
É verdade que os EUA tem caminhado em direção ao capitalismo de estado, e a China saiu do comunismo para o capitalismo de estado. Mas a distância entre os dois ainda é muito grande.
É claro que em muitas coisas na China seria impossível ou impraticável copiar os modelos do estado social do ocidente. Eles não tem como implementar um esquema de pirâmide que distribua benefícios, por exemplo. Quebraria muito rápido. Eles estão muito mais restritos pelas realidades econômicas do que os EUA.
Eles não tem como coordenar a concessão de benefícios para a população imigrante, e qual província pagaria por isso, então tem uma situação em que as pessoas precisam economizar para prover para o futuro - o que contrói uma base de capital, onde certamente Schiff tem razão, porque sem capital não há como falar em capitalismo. E o primeiro problema é definir o que se entende por capitalismo, coisa que apenas o Schiff teve base para fazer.
Só que alguém com mais conhecimento prático da China, como Minxin Pei, pode facilmente citar dezenas de coisas que acontecem na China que não tem nada a ver com capitalismo, a mais gritante sendo a falta da segurança jurídica, com um estado autoritário que toma o lado de quem tem os melhores contatos, coisa que não aconteceria jamais nos EUA com o mesmo nível de descaramento. Os EUA caminha para um vasto controle estatal do sistema financeiro e parte da indústria? Bem, é exatamente esta a situação na China HOJE.
Poderia ser um de nós a argumentar como ele que, não, o Brasil não é mais capitalista que os EUA, apesar das mudanças relativas, e apesar de realmente ter um quesito ou outro onde temos mais capitalismo.
E chegamos a uma situação hoje de desgaste deste sistema, onde com um passo a mais em direção ao capitalismo poderia se enfraquecer demais a autoridade do governo chinês. Depois da crise mundial vimos uma reversão também na China.
Por outro lado, como observou bem Ian Bremmer, se é verdade que os EUA tem mudado seu modelo em direção ao capitalismo de estado, também teriam algumas dificuldade para se adaptar neste sistema, porque não está na estrutura do estado americano um número de instituições que conhecemos bem, que servem para controlar as coisas de cima para baixo. Obama tem controlado o que pode através do FED e de outras maneiras indiretas. Imagine o quanto ele gostaria de ter uma Petrobras ou um BNDES na mao. Mas para a sorte dos americanos, eles ainda não tem.
Talvez no final das contas nos EUA eles fiquem mesmo brigando entre si e jamais entrem em um consenso necessário para se tornarem ainda mais estatistas do que já tem acontecido nos últimos anos, como vimos no debate sobre a dívida.
E aí vem o lado humorístico do debate : para Orville Schell, sentado ao lado do Schiff, esta indecisão americana é que é a verdadeira desgraça, e o fato de ter que lidar com uma bancada religiosa do meio-oeste. Ele na verdade é admirador da tecnocracia e da visão homogênea e de longo prazo do estado forte chinês, que, na cabeça dele, é o que significa capitalismo. É a visão do intelectual americano, que provavelmente acredita em decisões tomadas pela junta do partido comunista bem mais do que os chineses.
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