5 de março de 2012

Pirataria no Brasil não perdoa mais nem presente de criança



Quem poderá nos defender?

Assim como na estória contada no Mises Brasil, http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1216, o presente da vovó também foi interceptado pelos Privateers.

Desta forma, uma mensagem da vovó e uns carrinhos de presente para meu filho de 2 anos são insidiosamente uma ameaça à indústria desta ilha tropical, só poderão ser liberados se eu comparecer pessoalmente ao centro da província, munido do resgate, apenas em dinheiro, na quantia de 478,56 R$ - valor que nos estranha bastante, mas é quanto os imediatos do Barba-Azul acham que deveria ser desta vez - atropelando os meandros dos códigos oficiais da pirataria que eles mesmos deveriam seguir.


Pelo livro, eles calculam o resgate incluindo também o valor do frete, que, aliás, é interrompido antes do destino final em minha casa. E as custas do almoxarifado-pirata correm por minha conta, é claro. Ahoy!

Já tive cargas sem valor mercantil algum reviradas, confiscadas, e que precisaram ser resgatadas. Tinha acabado de voltar do velho continente cheio de idéias, trazendo a última tecnologia. Amostras, materiais e experimentos.

Coitado, tinha me esquecido como a coisa funcionava nessas terras tropicais - onde em se plantando, tudo realmente dá, mas é preciso antes laudo técnico, e em seguida dar entrada com um despachante no processo de admissão temporária das sementes, junto ao covil de piratas mais próximo da sua casa.

Para quem é pequeno e iniciante nas artes do buccaneering, melhor não plantar sob este sistema. Você vai precisar contratar vários assistentes só para lidar com os piratas, entender e interpretar o que eles dizem. A cada semana muda.

Precisará sentir muito cheiro de rum, pagar muitas taxas e produzir evidências e documentos, traduzí-los, estampá-los de selinhos dourados, comparecer pessoalmente perante um de seus ajudandes. Ou, se preferir, contratar o serviço de empresas especializadas em lidar com os piratas - e acostumadas ao cheiro deles.

Estes serviços são uma especialidade local, e movimentam bastante a economia da ilha, que graças ao trabalho de seus incessantes corsários, permanece protegida contra a perda de competividade global.

Se quiser, poderá gastar tempo e dinheiro, e com muita astúcia, nas horas em que a coruja pia, atravessar a fronteira no breu, ou passando os barris pela mão de algum pirata mancomunado, recebendo um por fora, longe do olho do capitão. Mas isto seria um delito extremamente sério.

Já os piratas legalizados são bastante cívicos. Dizem que a pirataria possui como interesse último nada menos que o bem geral da colônia. Aliás, isto nem se chama mais desta maneira. Somos livres, não estamos mais em tempos de reis. Ou estamos?

E se você achar que houve algum engano, pode até mesmo reclamar com um subordinado do capitão. É o seu DIREITO.

Com todos os seus documentos de alforria em mãos, aguarde pacientemente por uma audiência.

Será então introduzido à uma prática ainda mais perversa do que andar na prancha : terá que gesticular perante o atendente-marujo, convencê-lo da existência de formulários de revisão da Receita Federal, preenchê-los e aguardar por uns meses. Macacos me mordam...

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