20 de julho de 2010

A revolução das tomadas

O Inmetro resolveu há alguns anos introduzir um formato brasileiro de tomadas. O familiar formato usado atualmente é um híbrido entre o europeu e o americano, permitindo a conexão de aparelhos tanto com plugue chato quanto cilíndrico. Mas isso não estava bem com o Inmetro.

Resolveram padronizar, e agora em 2010, e agora, com o típico autoritarismo que é considerado normal por essas bandas, simplesmente proibíram a produção e a importação de aparelhos que não se conformam ao novo padrão.

Ou seja, se você for a uma loja de material elétrico procurar por adaptadores antigos, não vai encontrar. Agora sei porque. Porque sua comercialização é proibida.

Assim, com mil justificativas, o Inmetro ajuda a criar mais um enclave nacional. O das tomadas. A indústria nacional teve que engolir, e decerto alguns vêem com bons olhos o isolamento dos importados, que virão com o plugue errado e precisarão de adaptadores.

Ignoram a resposta não tão compreensiva dos consumidores - vozes as quais que governo e inmetro estão isolados, mas os fabricantes de eletrodomésticos não. Eu me impressiono com a quantidade de empresário oportunista que se leva pela conversa do governo no Brasil. Depois quebram a cara, como no caso da TV Digital.

E enquanto perdem dias e dias falando com políticos, vão inevitavelmente perdendo liderança tecnológica, pois não estão ouvindo aos mercados nem trabalhando em novos produtos.

Já os fabricantes de tomadas devem estar contentes, pois muitos terão que gastar e trocar tomadas em sua casa, a maioria em perfeito estado de funcionamento. E, novamente, se protegem momentaneamente dos produtos chineses, mais baratos.

Lá em casa, por causa do protecionismo e dos altos impostos, evitamos a todo custo comprar elétricos e eletrônicos no Brasil. Compramos tudo no exterior em uma eventual viagem, ou através de conhecidos. Alguns sites na internet aproveitam algumas brechas e enviam coisas pequenas para o Brasil, furando o bloqueio dos galeões do protecionismo brasileiro.

Já morei fora do Brasil e tenho uma penca de aparelhos importados. Pelo jeito, da próxima vez vamos comprar também os plugues e tomadas universais para instalar na nossa casa.

O objetivo desses fabricantes e do governo deve ser mesmo esfolar o povão, que ainda não viaja, não tem informação, e que na maior parte das vezes não sabe que está pagando 70% a mais do que o preço de mercado internacional, por um produto obsoleto em 3-5 anos, e vota feliz nos atuais incumbentes.

A nossa indústria eletro-eletrônica é anacrônica. Existe com o único objetivo de esfolar o grande mercado interno. Porque não é do jeito brasileiro que este setor de eletro-eletrônica opera. E todas as fábricas européias e americanas estão na Ásia, e só aqui na contramão. Claro, aqui não se investe muito nem em design nem em tecnologia, então iriam fazer o quê na China? E o pior, obrigaram os empresários a se instalar na Amazônia, no meio do nada e longe dos mercados consumidores. E sequer se questiona isso hoje em dia.

Somos completamente irrelevantes para o resto do mundo neste setor. O modelo protecionista adotado pelo estado brasileiro não permite que empreendedores brasileiros comprem máquinas, tecnologia e tragam pessoal especializado e possam agregar valor a uma cadeia que é internacionalizada há décadas. Então ficamos fingindo que o mundo não existe, comprando produto obsoleto, e, para mostrar que o Inmetro faz alguma coisa, mudando o formato das tomadas. Só falta agora mudar a tensão da nossa tomada para 150V e 30Hz.

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