2 de dezembro de 2009

"We, the people..."


Começa a atrair a atenção dos comentaristas políticos nos Estados Unidos o uso do 'plural majestoso' nos discursos oficiais do presidente Obama. Pronome tradicionalmente reservado para monarcas seculares ou religiosos.


Note a diferença:

'O governo dos Estados Unidos decidiu que...'

'Nós, o povo da América, decidimos que...'

O uso do plural majestoso não é uma tradição americana. Na história americana, esta empáfia sempre foi ridicularizada, pois era associada aos maneirismos da monarquia. Posteriormente isso foi incorporado no discurso republicano.

O uso da terceira pessoa por líderes populistas traz uma imagem de concordância impossível de milhões de indivíduos, opositores inclusive, que se aglutinam na pessoa sublime do líder democraticamente eleito. A risível empáfia da monarquia foi substituída pela empáfia democrática, que todos devem respeitar.

Em um de seus 'discursos históricos', que como notou o colega Victor, são declarados 'discursos históricos' mesmo antes de acontecerem, Obama citou os sábios Hopi:

'Nós somos a mudança que nós estávamos esperando'

Estamos diante de um mestre da retórica. Um manipulador de sonhos sem remorsos. Pois para líderes como Obama, a transformação do 'Eu' em 'Nós' é a apoteose tão almejada.

No Brasil vemos o uso desta retórica feita pelo governo Lula quando usa a expressão
"O Brasil decidiu...", "O Brasil não aceita...". Frases assim são proferidas especialmente em situações onde a opinião pública é fortemente contra a opinião do governo.

Em certa ocasião, Lula assumiu ares de um Luis XV populista e declarou uma frase majestosa: "O povo sou eu".

Entretanto, o uso do 'Nós' majestoso é evitado. Talvez fosse confundido com 'Nós, o PT'. Lula ainda não chegou no 'Nós, o presidente'. Talvez em seu caso tomassem o uso do plural majestoso como simples erro gramatical.

Um comentário:

Victor Carlson disse...

Na mosca! Esse papo majestoso é típico de "chantagistas sociais", que estão dominando até a presidência americada, quem diria.
Eles carregam o pressuposto de que são a solução, mesmo que isso nunda venha a ocorrer. Por isso, quando o Obama vai abrir a boca, ou vai viajar, já histórico, antes mesmo do conteúdo ou o resultados seja apresentado.