21 de setembro de 2010

Desvalorização competitiva e o custo da brincadeira

Entramos definitivamente na era da desvalorização competitiva, igualzinho ao que aconteceu na grande depressão. Bancos centrais antes coordenados partem para o cada um por si, todos tentando desvalorizar a sua moeda mais rápido do que os demais.

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2009/mar/17/g20-globalrecession

Como em um boteco onde todos bêbados se recusassem a parar de beber, pois quem levanta da mesa vai ter que pagar a conta.

Os países ricos já fizeram o dúbio convite aos emergentes de assumirem a liderança nesta recuperação da crise. Suíça(!) e Grã-Bretanhã(!), potências monetárias há não muito tempo atrás, foram os primeiros países a entrar em uma forte desvalorização. No jogo da inflação ganha quem sai primeiro.

Recentemente vimos a mudança de postura do Japão. A China diz também que não quer ter moeda forte. A Alemanha tem que carregar a Europa nas costas, monetariamente falando. Todos estão reféns de políticas industriais orientadas às exportações para... Europa e EUA em crise. O retrato não podia ser pior.

Mas pode ficar pior. Porque ninguém vai querer continuar com a moeda valorizada, e então um vai querer superar o outro na ânsia de pular mais fundo no abismo inflacionário.

Com todas as moedas principais do mundo desvalorizando ao mesmo tempo, a vantagem temporária cessa, porque as taxas entre uma moeda e outra ficam constantes, mas será preciso quantidades maiores tanto uma moeda quanto da outra para comprar os mesmos bens. Você sacrifica estabilidade de preços em troca de... nada. Mas também a alternativa é terrível.

Nós já conhecemos bem os males da inflação. Com inflação, há mais incertezas, e com isso mais desperdício. O cálculo econômico se torna impossível e há menos crescimento econômico. O Brasil sabe bem a importância de um ambiente com inflação controlada.

Acho que até por isso Gustavo Franco e depois o BC deram declarações de que a valorização do Real seria 'o preço do sucesso'. Será que o Real, que, pasmem, hoje é moeda muito mais forte do que as alternativas, com um sistema bancário saneado e forte correlação com as commodities, poderia assumir um lugar de moeda 'major'?

As 'majors' são as moedas mais negociadas, e atualmente o real está longe deste posto. Com esta ascenção viria uma série de dificuldades para nossa já pouco competitiva indústria. Ah, que novidade. A fazenda e o BC já deram outros sinais iniciando a desvalorização do Real.

Só que para fazer isto eles precisam comprar os dólares que entram em volumes crescentes, como na mega-captação da Petrobrás. Porque esta entrada de dólares no mercado faria a o preço do dólar caminharia para o patamar do início do plano Real, e as importações entrariam fortemente.

A fazenda diz, como sempre, que a brincadeira não custa nada. Custa sim. Vejam no link do FT uma excelente análise desta piada pronta que é o Fundo Soberano do Brasil, fundo este que supostamente gerencia as 'economias' de um país que tem déficits anuais.

Bom, soberano ao menos parece que nós temos. E este soberano decidiu gastar 40bi$ por ano para pagar 10% de juros em real em uma ponta e receber 2% de juros em dólar na outra ponta, evitando assim que o dólar fique mais e mais barato em real, e mantendo o trabalhador e a indústria bem contentes.

http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/09/21/the-rising-brl-brazil%E2%80%99s-sovereign-debt-sorry-wealth-fund-to-the-rescue/

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