24 de setembro de 2010

Capitalização da Petrobras é decisão soberana da sociedade

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,capitalizacao-da-petrobras-e-decisao-soberana-da-sociedade--diz-lula,not_36537,0.htm

O governo teve grande sucesso na capitalização da Petrobras, e agora atira para a platéia, transformando em mais uma idéia ufanista o que em outros governos seria criticado como uma venda da empresa semi-estatal para investidores estrangeiros.

No universo dos jornais especializados, e dos que entendem o que está acontecendo - bem diferente da claque do Sr. Lula - a capitalização da Petrobrás é vista como uma grande oportunidade sob um grande risco político, que é a dessa empresa voltar a ser uma empresa estatal e hospedeira do partido - como já o é. E também de subestimar os riscos e acelerar no ufanismo, o que raramente é bom os negócios.

No mundo que lê o noticiário econômico ( 1% da população? ) é bem conhecido que houve uma acentuada queda das ações da petrobrás nos últimos meses, que reflete uma politização crescente da empresa de petróleo.

Quem novamente entende alguma coisa sabe que esta venda de ações no exterior, celebrada pelo governo, está provocando a entrada de bilhões de dólares de investimento, e até aí tudo bem, porque o país precisa desse investimento.

Só que aí o dólar naturalmente fica mais barato, valorizando o real e causando uma grande mudança macro-econômica. Até aí tudo bem. Seria um caminho sustentável para a redução dos juros.

Só que aí entra o governo 'esterilizando' esta entrada de capital, para não desagradar sindicatos e empresários, porque as importações iriam tomar espaço dos produtos feitos no Brasil, e o setor industrial, atualmente isolado de seus efeitos, ia receber em cheio o impacto da crise.

A esterilização força os juros a permanecerem elevados. Para cada dólar que entra há emissão de mais dívida pública para comprar estes dólares, o que causa uma expansão da base monetária do Real. Só que aí o BC tem como missão manter esta base em linha com as metas de índice de preço, e enxuga o crédito, contraindo a base.

Ou seja: a capitalização da petrobrás no final vai simplesmente tomar o escasso crédito em reais de todos os demais empreendimentos no Brasil (efeito crowding-out). A única diferença é que ao esterilizar estas entradas massivas de dólares o BC acumula grandes reservas. Só que isso também é uma péssima idéia, como sabe quem não esteve dormindo nos últimos anos. A tendência do dólar é de se desvalorizar cada vez mais para evitar o colapso fiscal americano.

Finalizando, quem entende algo sabe o significado da palavra soberano. Um dos ideólogos do estatismo, Rousseau, veio com a frase: o povo é soberano e súdito ao mesmo tempo. Seria soberano ao elaborar suas leis, e súdito na hora de segui-las. Rousseau era um idealista, no mal sentido da palavra, e tinha uma visão bastante peculiar da natureza humana. É evidente que 'o povo' não elabora lei alguma, mas delega para políticos a tarefa de legislador. E após ser convocado para este 'tie-break' entre os competidores do poder, ele volta à sua apática condição de súdito.

Ainda mais quando não tiver os requisitos básicos para ser um cidadão, que não é ter um cartão plástico do governo, mas sim ter educação e se informar sobre os assuntos políticos.

No caso do nosso regime extra-oficial, que é o paternalismo autoritário, há um líder que toma para si todas as funções do estado moderno, e muitas vezes desfruta de uma soberania, definida como liberdade de exercer o poder, muito além do que seria imaginável na monarquia.

É ele, o ungido, o próprio Lula, o nosso soberano.

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