9 de agosto de 2010

Indústria nacional x juros subsidiados : alguma coisa tem que ceder

A taxa Selic é definida pelo Copom. Tem uma entrada do mercado, porque se fixarem uma meta muito distante do que o mercado está pedindo vão ter que intervir muito fortemente, com injeções muito grandes de dinheiro novo ( ou retiradas massivas de liquidez do sistema ). Esta quantidade de moeda da economia é um dos principais determinantes do poder de compra da moeda.

Se o país abandonasse o protecionismo e abrisse as fronteiras, quebraria as nossas 'abimaqs', mas os preços cairíam tanto que durante anos teríamos uma queda acentuada dos juros. Porque a política do BC nunca deixa os preços caírem. Eles injetam liquidez no sistema para que os preços sempre subam 4% ao ano, que é a meta. Funciona pros dois lados. Quando os preços estão com viés de alta, eles precisam enxugar, que é a situação de praxe.

Mas se o estado brasileiro não cobrasse 50% de imposto para um pobre comprar uma roupa de cama importada da China, este produto teria uma queda de preço vertiginosa. Aí o BC colocaria a taxa de juros lá embaixo, o que financiaria novas atividades econômicas no Brasil alinhadas com esta abertura comercial. Obviamente neste novo mundo o setor industrial brasileiro teria que se adaptar e encontrar seu novo espaço. O Brasil se uniria ao rol de países que se desindustralizaram por causa da competição chinesa, ganhando grande poder de compra, e migrando para commodities e serviços.

Não acredito que vá viver para ver esta mudança. A mentalidade aqui é fortemente protecionista. As entidades patronais falam, e todos abaixam a cabeça. Especialmente os socialistas, herdeiros do poder, que defendem a política de bolsa- empresário porque para eles este arranjo com forte presença estatal é muito mais familiar do que um sistema de mercado. Vamos continuar fingindo que o mundo não existe.

Partilho da preocupação com os altos juros, e com a expansão sem fim da dívida pública. Mas não concordo com apontar um único bode expiatório (bancos malvados). Ora, o governo é o principal responsável por sua crescente dívida interna. Se ele não estivesse sempre tão ávido em se endividar, até, como vimos, para financiar o BNDES, petro-sal e outros projetos, aí os juros cairiam.

Se você pensar, se o BC realmente fosse fazer a vontade dos bancos, levaria as reservas bancárias, chamadas pro aqui pelo confuso nome de 'empréstimo compulsório' para perto de zero. É o que a Febraban vive pedindo. Pense bem: vale mais ao banco operar como na europa e EUA - com reservas quase próximas de zero, e com multiplicadores monetários para 10x, 20x. Ou seja, cada 1000R$ no banco circula e vira 10.000R$.

Vale mais pro banco cobrar 5% ao ano desses 10.000 R$ alavancados em cima de 1000R$ do que cobrar 20% ao ano em cima de 2.000 R$ alavancados em 1000R$.

O resultado disso é o que nós vimos nos últimos dois anos: crédito ultra-barato, bolhas, e no final, corridas bancárias, e o salvamento em tempo recorde do sistema bancário para impedir uma implosão do sistema. O Brasil já passou por tudo isso, e tem hoje um sistema monetário bastante conservador.

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