31 de março de 2011

Banco Central de volta para o passado

O BCB inaugura uma nova fase: uma volta para um passado não muito distante em que os políticos mandavam, eles obedeciam, e o dragão da inflação saia da toca, devorando sem piedade os camponeses do lado de fora, mas fazendo a alegria daqueles que se cercavam pelas muralhas do palácio real ou eram bons em finanças e sabiam se proteger.

Os analistas e palpiteiros econômicos que acreditam que um pouco de inflação seja bom para o crescimento estão vibrando com esta notícia. Bem como aqueles partidários que acham que a missão do atual governo é elevada demais para ser abortada por problemas de caixa. Frequentemente, estes dois conjuntos se intersectam.

Conseguiram o que sempre pediram: taxas reais negativas. Veja manchete do estadão hoje, inflação supera todos os investimentos no trimestre.
http://economia.estadao.com.br/noticias/suas-contas+brasil,inflacao-supera-investimentos-no-ano,not_60986,0.htm

Eles acreditam que a missão do BC não é parar de imprimir dinheiro, e sim deixar a máquina rodando 24 horas por dia e irem se preocupar com outras coisas. Para que meta então? É uma mudança total no rumo do BC, que efetivamente saiu da frente dos planos políticos do governo, rasgando uma credibilidade adquirida recentemente a um custo elevado.

O IGP-M está em 11% e mesmo o 'core inflation' do BCB se continuar como está chega o final do ano em 10%. Mas aí eles aumentam o salário mínimo em 12% e fica tudo por isso mesmo. Vão empurrando com a barriga até o país quebrar.

Os brasileiros leigos - e bota leigos nisso - ACREDITAM em um governo de picaretas, que obviamente atropelou o BC. Ministros sem nenhuma seriedade como este Sr. Mantega conseguiram o que tanto queriam: que o Brasil e o Real entrassem na 'guerra monetária' onde os governos irresponsáveis e seus eleitores infantilizados se recusam a admitir a péssima situação em que suas nações se encontram, e sem poder encarar a crise de frente, querem desvalorizar e destruir a credibilidade de suas moedas ainda mais rápido do que os seus pares.

Nós não precisávamos disto. Mas o governo sim.

Quando os preços começarem a aumentar, eles vão culpar o mercado, os especuladores, os lojistas, etc. Isto tudo é bem repetitivo, é sempre a mesma coisa. Se bobear vão até colocar o Banco Central e a Fazenda para vigiar preços e microgerenciar o mercado. Aliás, não podemos esquecer o controle governamental sobre o preço da gasolina, que não deixou que o aumento do petróleo chegasse no IPCA. Porque com o reajuste da gasolina o índice já teria batido nos 7%.

26 de março de 2011

Governo quer aumentar IOF em compra no exterior para mais de 6%

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,compras-no-exterior-terao-iof-maior,not_60192,0.htm

"O governo monitora e adota medidas se perceber distorções e excessos", disse ontem o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel.

Distorções e excessos por parte de quem? Porque o governo não cuida de suas contas e nos deixa em paz? Se eles estão com medo de uma vulnerabilidade maior das contas deles por causa dos fluxos externos, porque não equilibram suas contas? Como sempre, eles preferem controlar as nossas.

Parece ser uma medida bastante confusa, porque se desestimulam o consumo do brasileiro no exterior - incluindo aí, não esqueçamos, todo o comércio online com lojas no exterior - como é que o real vai parar de se fortalecer em relação ao dólar? Não é outra das intervenções favoritas do governo?

Aí eles inventam outra medida para 'corrigir excessos', por exemplo, pegando todos estes os bernankinhos que estão entrando a rodo e dando para seus industriais preferidos comprarem empresas no exterior. Aí pode, não é sr. Tulio Maciel?

Mas, enquanto a gente discute, previsão de mais 400 milhões nos cofres do governo, que é o que interessa pra eles.

24 de março de 2011

Austeridade, melhor agora do que tarde.

Ao ler algumas das declarações sobre a queda do primeiro-ministro e o agravamento da crise em Portugal, por um momento chegamos a pensar que entramos no túnel do tempo e chegamos ao Brasil em um futuro nada distante.

http://economico.sapo.pt/noticias/30-reaccoes-a-um-portugal-sem-governo_114193.html

Seguem abaixo alguns dos tickers para os títulos de 10 anos de alguns países europeus com problemas. Repare que já pagam juros reais bem acima do que se paga aqui no Brasil. Só não se sabe até quando.

http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GGGB10YR:IND
http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GIGB10YR:IND
http://www.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GSPT10YR:IND
http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GSPG10YR:IND
http://noir.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GBTPGR10:IND

22 de março de 2011

A Vale mais perto de suas origens

O governo esta semana retorna a um dos objetivos estratégicos de sua 'agenda secreta', que é exercer o controle da Vale. O atual presidente da empresa ousou contrariar os interesses do atual partido no governo, e agora paga um preço pesado.

Hoje ele foi sabatinado pela Previ, um dos maiores fundos de pensão brasileiros. Como sabemos, o capitalismo tupiniquim é financiado em grande parte pelo cofrinho dos funcionários públicos, com seus volumosos fundos, que são curiosamente gerenciados por pessoas indicadas pelo governo ou por sindicatos através também de pressões políticas.

Por aqui, coisa normal, e não causa nenhum espanto. Assim como não causa espanto um ministro pedindo a cabeça de um executivo de uma empresa privada em uma bandeja.

Não sou especialista em Vale, mas quando esta empresa ainda não tinha começado sua história de sucesso, era mais um buraco de dinheiro público entre os tantos que existem no nosso país.

Uma empresa estatal típica investe não apenas pelo lucro, mas para oferecer emprego em uma determinada região, aumentar a produção de aço, ter o melhor time de futebol do país, e para satisfazer objetivos políticos através do investimento em setores estratégicos.

O lucro e a eficiência são evitados, afinal, porque o objetivo da empresa estatal não é apenas o lucro, e sim produzir 'valor social'. Ou seja, é a tradução em um vocabulo progressista do as pessoas entendem vulgarmente por produção de 'tetas' e 'cabides'.

No final, as empresas estatais investem tanto por outros motivos que acabam por se tornar empresas que apresentam péssimo resultado financeiro. Não é raro que se tornem deficitárias, mesmo operando com baixa competição, e, em alguns casos, mesmo sob monopólio.

Imagine você, o pagador de imposto pagando para a Petrobrás tirar o petróleo da terra ou a Vale para cavar o minério. Inimaginável?

Bom, quando essa estória começou nosso país era mais estatizado do que hoje, e não havia a enorme fome por commodities chinesa. A situação deficitária era normal no setor de mineiração. As estatais produziam algo que, em termos simples, ninguém queria comprar pelo preço que à eles custava produzir. Aí o estado intervia, e enterrava dinheiro público nestes investimentos por causa do 'valor inestimável, etc'.

Aí tivemos a onda de privatizações, este tsunami benigno que mudou as bases economômicas de muitos países na nossa região, que saíram de uma base mais estatista para um sistema misto.

E o que a Vale fez após sua privatização? Começou a desfazer o emaranhado de negócios auxiliares que ocupavam o capital da empresa.

Ninguém no momento sabe quais são os planos do governo para a Vale. Mas acredito que envolvam um retorno às origens, à presença maior da empresa em várias outras frentes em que uma análise financeira diria que seria melhor não investir.

A China como descrevemos em um post anterior vive uma bolha de contrução e investimento em infra-estrutura, o que beneficiou bastante a Vale nos últimos anos. Mas o futuro, ninguém sabe. Talvez quando mais precisará de agilidade e de 'destruição criativa', a Vale se envolverá em um jogo político, tendo que tocar projetos para agradar a seus controladores, ou será apenas usada dentro de um plano estratégico político e econômico.

Assustam, por exemplo, declarações de um funcionário do governo revelando que o governo inveja a Vale por seu poder de barganha com a China. Ou seja, acreditam que este poder estaria melhor neles mesmos, para ser usado como moeda de troca.

16 de março de 2011

Dollar loses its safe-haven status

The events on the last weeks proved for the first time since at least WWII that the dollar lost its safe-haven status. Not only to the yen but also to the swiss franc, on record heights against the dollar. Well done, Mr Bernanke!

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Os eventos das últimas semanas revelaram pela primeira vez desde pelo menos o pós-guerra que o dólar perdeu o status de 'safe haven', aquela moeda para a qual todos correm no meio da volatilidade e da incerteza de uma crise. Não apenas o iene, mas também o franco suíço estão fortes em relação ao dólar em níveis jamais vistos. Parabéns, Mr Bernanke!

Dollar breaks record low against the Yen

Breaking news:

The dollar today reached new lows against the yen, at some moment being traded at 76.3 yen for the dollar, a level never seen on last decades. Strong money flows are going back in Japan from foreign subsidiaries in order to have adequate cash provisions for the reconstruction, and a possible carry-trade unwinding may be adding to the problem. The yen may strengthen in the short term and experience very high volatility.

Update: The trading conditions were very thin, read more on
http://finance.yahoo.com/news/Japanese-Yen-Breaks-to-Record-fxcm-3753720745.html?x=0&.v=1

The puzzling question is how can Japan afford to keep a strong yen given the weak fiscal position of their government. The BOJ will intervene strongly creating trillions of yens on the next days, there are power shortages to persist in the next months, they will be importing materials for reconstruction, and many producers have suffered damages or shut down their plants to save energy.

We give our best wishes to the people affected by this terrible disaster that killed thousands of people and destroyed homes, factories and essential infrastructure. But while its toll in lives is certainly not comparable to, in financial terms there is an even bigger disaster hanging over Japan, which is the man-made disaster of its government record-high debt.

That debt is unsustainable given the prospects of a shrinking population base. All this was known before the tragedy happened. More than half of the japanese budget comes from rolling the debt. They have big saving rates, of course, and everybody knows that. But when a country pays only around 1% interest and still interest payments represent one third of all tax revenue, you see there is a big problem. A mere 3% interest rate and Japan would be broke, using all its tax revenue to roll its debt. On the japanese case, with domestically funded debt, there would be no other alternative than a massive devaluation on the Yen.

Japan will surely handle this nuclear crisis and the reconstruction after the earthquake. Many economists close to the 'broken window' school of economics even claim this is a big opportunity for recovery. Surely it will be a good opportunity for companies in the building and material sector, but for Japan and for the world the net result is obviously negative.

For they will have to spend what they do not have in order to rebuild what they already had. The nuclear power base is going to be reassessed all over the world, and the alternatives will certainly not be cheaper.

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O dólar hoje rompeu um récorde em relação ao iene, sendo negociado por 76.3 ienes por dólar, um nível jamais visto nas últimas décadas. Podemos observar um forte movimento de repatriação de capital em direção ao Japão, com a remessa das filiais estrangeiras para que as matrizes possam fazer caixa para arcar com custos de reconstrução. Há também uma possível reversão dos movimentos de carry-trade que podem estar se compondo a este problema. O iene pode se valorizar no curto-prazo e experimentar altos níveis de volatilidade.

Mas a grande questão no momento é como pode o Japão manter um iene forte dada a frágil posição fiscal de seu governo. O BOJ irá intervir nas próximas semanas como tem feito, criando trilhões de ienes. Teremos racionamentos e cortes de energia, o Japão estará importando matérias primas para a reconstrução, e muitos produtores sofreram danos ou fecharam as fábricas para contribuir com a economia de energia.

Neste momento fazemos votos de solidariendade à população afetada por este desastre terrível, que matou milhares de pessoas e causou a destruição de lares, fábricas e infra-estrutura essencial para o funcionamento de uma sociedade moderna. Mas se o custo em vidas é certamente imcomparável, o custo econômico pode ser maior ainda graças ao desastre ainda maior feito pelo homem, o desastre das contas públicas japonesas.

A dívida pública japonesa entrou em uma situação insustentável para um país com o quadro demográfico do Japão. Tudo isso é bem conhecido mesmo antes do terremoto. Mais da metade do orçamento japonês vem da rolagem dos títulos da dívida. Eles possuem umas das maiores taxas de poupança do mundo, e todos sabem disso. Mas o problema é que quando um país paga apenas 1% de juros em seus títulos, e mesmos assim isto compromete um terço de toda a arrecadação, temos claramente um problema. Meros 3% de juros comprometeriam a totalidade da arrecadação com o pagamento dos títulos da dívida. E quando um país chega a uma situação destas não há outra saída que não seja desvalorizar fortemente a sua moeda.

O Japão vai certamente contornar os problemas desta crise nuclear e realizar com sucesso um grande esforço de reconstrução após este terremoto. Muitos economistas do estilo 'janela quebrada' até mesmo clamam que isto será uma bênção para a recuperação econômica japonesa. Com certeza será uma oportunidade para empresas de contrução e de materiais, mas para o Japão em geral e para o mundo o efeito final é certamente negativo.

Pois o país precisará gastar o que não tem para reconstruir o que eles já tinham antes da catástrofe. A base nuclear do mundo todo será reavaliada em favor de outras alternativas certamente mais caras.

9 de março de 2011

A falível locomotiva chinesa

Esta é mais uma notícia pessimista da série 'notícias que você jamais vai ler no Brasil'.

Uma das razões para o aquecimento da economia brasileira nos últimos anos é a fome chinesa por commodities. Isso todos sabemos. Para construir, precisam de aço. Para o aço, precisam do minério de ferro, e para isso precisam da Vale e das australianas.

O que a nossa imprensa econômica não enfatiza é que a exemplo de várias outras nações após o estouro da crise econômica, a China entrou em um vasto programa de estímulo na área de construção, com o governo mandando os bancos estatais emprestarem bilhões para os mais diversos projetos de habitação e infra-estrutura. Ao mesmo tempo eles estão tendo problemas de super-aquecimento da economia, de inflação, de explosão do crédito imobiliário, problemas estes bastante familiares com os nossos.

Até se lê um pouco sobre os programas de habitação chineses na imprensa nacional. Sabemos que o governo chinês vem restringindo o crédito. Mas sobre o incomparável programa de construção de linhas de trem de alta-velocidade ainda não havia lido nada.

Precisei de um programa do Discovery Channel, elogiando a alta-tecnologia e eficiência do novo sistema, de um feriado de carnaval e do meu desconfiômetro para analisar a experiência chinesa em infra-estrutura, programas de estímulo, e o caminho mais certo para eles se perderem em seu próprio colapso bancário, inteiramente made in China, com sua tradição bem comunista de comando unificado da economia e controle de bancos estatais, enterrando bilhões em cidades-fantasma e projetos ao agrado dos burocratas do partido.

Muitos ocidentais acham que a China é infalível. Alguns acham que eles inventaram um novo sistema. O ocidente já perdeu a superioridade moral, tecnológica e financeira em parte e ao menos simbolicamente. E o esporte favorito do agora humilde observador ocidental é se curvar ao modelo chinês, tanto por admiração pelo supostamente bem-sucedido modelo de comando-e-controle quanto pelo mesmo motivo que os europeus se curvavam aos pés dos imperadores da dinastia Ming, para conseguir concessões e favores dos novos imperadores.

Os americanos tem suas agências estatais de fomento à habitação. Os europeus tem seu falido sistema de bem-estar-social. Os brasileiros tem seu INSS e seu BNDES, suas empresas estatais e para-estatais, que cada vez mais engloba todas as restantes. E os chineses tem seus bancos estatais, seus governos locais se endividando até não poder mais e seus programas de estímulo, investindo em novos brinquedinhos, trens de alta-velocidade, provavelmente já entre os mais avançados do planeta.

Se para algumas coisas o processo decisório das democracias deixa a desejar, para outras ela é uma bênção. O projeto do trem-bala no Brasil foi imediatamente atacado pela imprensa e pela oposição, porque, afinal de contas, não tem cabimento construir uma linha que custa 60 milhões por kilômetro para servir de cartaz de propaganda do governo, enquanto nossas estradas e aeroportos precisam de investimento. Os projetos caem no emaranhado da fiscalização do tribunal de contas, permissões ambientais, que se resolvem com a troca de favores e a pressão do governo. Como o nosso país afinal não é tão democrático assim, o projeto eventualmente prossegue. Só que a China é bem menos democrática que o Brasil, e sequer as críticas são toloradas. A coisa lá se resolve em uma canetada e para o bem ou para o mal não há muita discussão possível. E por isso por lá não apenas uma linha foi construída, mas muitas, todas esperando por passageiros.

Só que neste caso em particular a agilidade é pior para eles a longo prazo. Porque estão erguendo a um custo elevado infra-estrutura que não será usada por muitos anos, com o simples propósito de manter a economia a todo vapor, para manter o comando sobre a população, evitando revoluções e o descontentamentos semelhantes aos que eclodem no oriente médio. O autoritário regime chinês provavelmente precisa de uma alta taxa de crescimento apenas para manter o status-quo.

O passageiro das linhas de alta-velocidade deve ter um poder de compra elevado, deve ser um profissional de alto-valor, bem empregado e que tem como pagar o prêmio envolvido no transporte de alta-velocidade. O profissional paga 50 Euros no bilhete porque para ele uma hora a mais faz diferença. Para quem esta diferença não é tão grande, é possível esperar pelo próximo trem e pagar menos. É assim na Europa, que tem uma grande parte da população com renda suficiente para pagar esse preço extra, logo há um número de empresas de trens de alta-velocidade.

Não é assim no Brasil, e muito menos na China. A expansão de uma rede de trens de alta-velocidade é um destes projetos que jamais foi realizado no intuito de realmente dar lucro e ser sustentável, e sim com o intuito de deslumbrar a população, proporcionar contratos para empresas chinesas, muitas oportunidades de corrupção e de negócios. No final quem vai ficar com a conta são os governos locais da China, que vão dar o calote nos bancos estatais, e, no final, como sempre acontece, o governo de Beijing que aparentemente não tinha nada a ver com isso vai precisar usar seus muitos bilhões de reservas para resolver uma enorme crise financeira interna, inteiramente made-in-China.

No médio prazo a locomotiva chinesa continua forte, puxando a demanda por commodities no rastro de programas estatais de estímulo à economia. Mas este e outros desequilíbrios vão continuar aumentando, até a locomotiva chinesa começar a descarrilhar.

Ao menos eles possuem recursos o suficiente para um resgate de seus bancos. Acredito que ao longo prazo tendem a se consolidar na liderança global. Mas também terão seus tropeços, e ao cair mandarão grandes ondas de choque tanto para os países produtores de commodities como para os EUA, cujos títulos formam a base das resevas chineses.

http://en.wikipedia.org/wiki/High-speed_rail_in_China

3 de março de 2011

O fim do desenvolvimentismo está próximo

No meio de uma mudança de tom no governo, que agora tenta colocar o pé no freio e consertar o estrago que O Chefe fez nas contas nacionais, foi anunciado hoje um movimento na direção contrária, um aporte de 55 bilhões no BNDES, para continuar a linha de crédito que em grande parte comprou os sete pontos de meio de crescimento do PIB que foram anunciados recentemente.

Linhas de crédito que disponibilizam para as empresas brasileiras taxas abaixo da inflação para a compra de equipamentos, expansão de fábricas e outros projetos. O governo bem que tenta o discurso da austeridade. Mas nossa realidade econômica hoje não se sustenta sem estímulos artificiais. O surto desenvolvimentista que tomou o país é um pouco melhor do que o insustentável subsídio americano à habitação que gerou o subprime, porque por pior que seja a qualidade do gasto estatal, ao menos é um gasto em produção. Mas também isso não o livra das mesmas distorções.

Com uma economia completamente viciada nestes estímulos artificiais, o prospecto para as empresas brasileiras nos próximos meses é de grande euforia e forte crescimento. Porém um crescimento de má qualidade, com alto custo pelo benefício e que custará bastante caro no futuro, com a saturação dos mercados anos lá para a frente, sem nem entrar no problema da pressão inflacionária que já se faz sentir agora mesmo.

Um belo dia o tesouro não terá mais 50 bilhões para renovar os programas de estímulos artificiais. Um belo dia empresas brasileiras terão que conquistar mercados e fazer uma venda sem subsídios, e competindo com o mundo todo de igual para igual, sem contar com uma das maiores barreiras tarifárias do mundo. Terão que conquistar mercados externos para recuperar a desaceleração do mercado intero, e o terão de fazer baseados exclusivamente no mérito e no custo-benefício de seus produtos e descobrirão que suas vendas serão uma fração do que foi nos anos de estímulos, nos anos em que 'o melhor banco do mundo' estava operando em velocidade máxima.

Descobrirão que há pouca demanda externa para produtos industriais brasileiros, em geral caros e de qualidade pior. O mercado interno se retrairá, haverá cortes de produção, redução de investimentos, projetos inacabados, muitas demissões, o que retro-alimentará o quadro negativo para as contas nacionais em outras frentes, como o aumento do gasto com seguro-desemprego, e a perda por parte dos órgãos estatais dos recursos do FGTS.

Um belo dia - nada distante - não haverá mais como cobrir déficits da previdência, aumentar SM, aumentar Bolsa-Família e o bolsa-empresário do BNDES, tudo ao mesmo tempo e em progressões geométricas. Caminhamos para um quadro de total falência das contas públicas, e o governo aparentemente sabe disso e busca minimizar o impacto e tentar desarmar este mecanismo, antes que aconteça e promova uma versão tupiniquim do que acontece no mundo árabe. A perda do controle do governo sobre a sociedade é o pior que pode ocorrer para qualquer governo, especialmente este, que provavelmente não planeja se aposentar tão cedo.

Entretanto isto é que pode acontecer, a menos que da cartola do governo periodicamente saiam centenas e centenas de bilhões para cobrir todas estas demandas, ano após ano. Não parece ser o caso nem mesmo agora, já que o BNDES está sendo capitalizado com ações da Petrobrás.