Miriam foi casada por dez anos com Celso Daniel, mas já estava separada dele quando o ex-prefeito foi assassinado. Ela foi secretária da prefeitura entre 1997 e 2002. As circunstâncias ligadas à morte ganharam contornos políticos quando se descobriu no curso das investigações que funcionava em Santo André uma quadrilha que tomava dinheiro de empresas de ônibus e mantinha um caixa dois que, segundo denúncia do irmão do prefeito Celso Daniel, financiava campanhas do PT. O irmão do prefeito morto, o médico João Francisco Daniel, chegou a apontar Miriam como uma das integrantes do esquema. Em depoimento ao Ministério Público, ela negou qualquer participação no caso.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/miriam-belchior-sera-a-nova-ministra-do-planejamento
25 de novembro de 2010
19 de novembro de 2010
A sorte e o azar dos irlandeses
Um tema econômico que me tornei especialista in loco é a crise irlandesa, pois morei em Dublin durante o boom espetacular que eles tiveram e retornei ao Brasil quando começou a crise, sabendo que ia levar algum tempo até toda a sujeira começar a sair de baixo do tapete, mas que daquele ponto em diante seria ladeira abaixo.
Em primeiro lugar, tenta-se esquivar da responsabilidade individual os milhões de irlandeses e também muitos estrangeiros que entraram de cabeça na bolha imobiliária irlandesa como se fosse uma aposta certa. A corrupção de um sistema econômico não é algo que esteja apenas delimitado entre grandes banqueiros e grandes redes de interesse. Praticamente todo mundo sem muita experiência e conhecimento financeiro participou da bolha imobiliária. Era impossível falar meia hora com um Irlandês sem que o tópico imobiliário aparecesse na conversa.
Muitos com um pouco mais de noção imaginavam os riscos. Mas como estes riscos levariam o país inteiro abaixo, acreditavam que havia uma garantia implícita do sistema. Ou seja, o mesmo tipo de moral hazard que afeta o comportamento econômico dos bancos também afeta a população inteira.
Bem poucos entendiam os mecanismos do Euro, ou o que realmente significa fazer parte da zona do Euro, para além das experiências mais quotidianas do uso desta moeda. Uma garantia do sistema bancário e da bolha imobiliária irlandesa não poderia vir do próprio tesouro irlandês.
Eles bem que tentaram cumprir o plano, e resgatar os bancos com fortes conexões políticas com verbas públicas. Mas a Irlanda é um país bastante pequeno, com um orçamento público bastante limitado. O professor Morgan Kelly do UCD resumiu bem: 'cada centavo de imposto dos próximos 2 ou 3 anos iria para cobrir a quebra do Anglo Irish Bank ( o mais 'financeiramente ousado' dos bancos irlandeses ). Cada centavo dos próximos 2 anos para cobrir o AIB. E cada centavo do ano em seguida para todos os outros.'.
Então agora que a situação mostra sua incorntonabilidade, a União Européia ( leia-se Alemanha ) vem oferecer ajuda financeira, e convencer o governo Irlandês a aceitar o pacote, coisa que traz também uma crise política e tem profundas consequências de longo-prazo na soberania irlandesa, pois pode significar a morte da Irlanda como paraíso fiscal e como uma plataforma eficiente para o estabelecimento de empresas globais no velho continente.
Entender o 'sistema' irlandês não é coisa fácil para um político alemão, francês ou mesmo um brasileiro. Acostumados a viver em grandes economias, com um grande mercado interno e sob a sombra onipotente de um governo devorador de recursos, eles acreditam que a carga tributária pode ser arbitrariamente alta sem quase nenhum efeito negativo na geração de renda e empregos. Porque eles acreditam - parcialmente com razão - que as empresas globais irão pagar qualquer coisa para entrar nestes mercados.
Mas imagine-se na posição de uma autoridade de praticamente uma cidade-estado, como Dubai ou Cingapura, ou de um pequeno e empobrecido país como a Irlanda. Para uma economia desse porte não há coação econômica possível, e nem arranjo sindical de poder econômico interno que ofereça ganhos comparáveis aos do mercado internacional. E vejam que eles já sabem isso por experiência própria. Já passaram por uma fase de impostos altíssimos, alto nível de atividade sindical e de estatização da economia. Obviamente que não funciona, nem para um país grande e muito menos para uma economia pequena.
Então a economia se desenvolveu em direção a um modelo bastante eficiente e enxuto, com baixa carga de impostos, muitos atrativos para que empresas globais estrangeiras se estabeleçam no país. Não é à toa que as zonas de Duty Free nos aeroportos foram inventadas na Irlanda. Nos anos 80 se estabeleceu um grande centro financeiro que praticamente fechava a contabilidade global de muitas empresas. E nos anos 90 e 2000 se consolidou a política de apoio ao investimento estrangeiro, com uma carga de impostos entre as mais baixas do mundo e certamente a mais baixa da Europa.
Como resultado temos a massiva entrada de investimentos estrangeiros e a criação de muitos empregos com alto valor agregado. Temos ampla oferta de emprego para a população nativa de todos os níveis. Destaca-se o grande investimento feito na Irlanda na área educacional. Mas, apesar disso, é natural que existam muitas vagas técnicas que não podem ser supridas internamente no tempo desejado. Aí começa a se delinear a política do país em relação à imigração.
A imigração em um país antigo é sempre um assunto complicado. A Irlanda experimentou historicamente emigração em massa, e recentemente imigração em massa, com grande entrada de especialistas de fora da EU, e grande entrada de trabalhadores internos da EU em todos os nível e praticamente de todos os países. Especialmente indicativo foi o ingresso dos jovens recém-formados de países do centro, assim ditos prósperos e ricos, como França, Itália e Alemanha, porém sem oportunidades de trabalho para quem, por ser jovem ou por não ter alto nível de formação, não está bem dentro do sistema caro que eles criaram.
Aí pensamos por um minuto: o que os irlandeses, e, principalmente, os grupos políticos e econômicos locais ganham com este processo?
Basta imaginar: entrada em massa de empresas estrangeiras, entrada de investimento estrangeiro. Vão precisar de escritórios, edifícios, transporte, serviços. Esta parte era majoritariamente executada por empresários irlandeses. O maior indicador do nível de integração de uma pessoa à sua cidade ou país é o quanto de propriedade, terras e imóveis, esta pessoa tem. Os impostos para empresas são baixos. Há um monte de imigrantes. A terra é controlada pelos interesses políticos nativos, e se valoriza naturalmente. E assim todos os locais se beneficiam, com a inflação de preços dos aluguéis e dos serviços para estes profissionais das empresas de alto-valor agregado.
Eles criaram um complicado sistema de licenças de construção, que eram reguladas e exploradas por empresários e indivíduos com conhecimento e trânsito por esta burocracia complicada. Para construir na Irlanda você praticamente tem que entrar em uma sociedade secreta. Acredite ou não, em algumas áreas do país apenas nativos podiam construir!
Logo é natural que o setor governamental, bancário, de construção, serviços e arquitetura fizesse a festa.
E o melhor ainda estava por vir. Com a entrada em massa de imigrantes especializados para ocupar estes postos de trabalho de alto valor, se criou um mercado enorme de aluguel para profissionais, sejam irlandeses de outras cidades ou estrangeiros. Qualquer irlandês com uma casa subitamente tinha uma fonte de renda. Muitos se tornaram 'landlords', ou proprietários de imóveis para alugar, algo que na cultura de influência britânica deles é um baita símbolo de status.
Isto tudo somado, evidentemente, às falhas do sistema monetário já bastante comentadas neste blog, criaram uma dinâmica que levou a uma das maiores bolhas imobiliárias da história.
No auge da coisa, pessoas compravam casas em lugares que elas não queriam porque tinham medo de nunca mais poder alcançar os preços dos imóveis. Eu vi isso com muita tristeza, porque afetava amigos e pessoas próximas. Tomavam crédito a pagar em 35-40 anos, com taxas promocionais de curta duração. Era evidente que haveria um problema. E se multiplicavam os programas na televisão contando as estórias de especuladores imobiliários de sucesso. E os irlandeses que ganharam dinheiro saiam Europa afora dobrando a aposta e comprando propriedade em outros países.
O maior indicador de que você está vivendo em uma bolha é quando você começa a evitar certos assuntos. E um assunto que daria o status de pária em qualquer roda de conversa em Dublin era o eventual colapso da bolha imobiliária irlandesa - que quebraria em sequência os bancos, as empresas de construção, e o tesouro público. O setor de serviços, como bares, restaurantes, seria fortemente afetado. Isto levaria a uma emigração dos estrangeiros não-especializados, o que enfraqueceria ainda mais a demanda por casas e imóveis. A sequência lógica destes acontecimentos era impressionante. E não é que a lógica, como sempre, estava correta?
Mas o pior ainda está por vir. Ao aceitar o pacote de ajuda europeu, a Irlanda vai praticamente renunciar à soberania fiscal. Aí o país deixa de ser um centro de atração para o capital estrangeiro, para empresas de ponta, que podem escolher outros países da Europa com carga tributária igualmente elevada. E o país voltaria a ser o que sempre foi, uma ilha da periferia da Europa.
Em primeiro lugar, tenta-se esquivar da responsabilidade individual os milhões de irlandeses e também muitos estrangeiros que entraram de cabeça na bolha imobiliária irlandesa como se fosse uma aposta certa. A corrupção de um sistema econômico não é algo que esteja apenas delimitado entre grandes banqueiros e grandes redes de interesse. Praticamente todo mundo sem muita experiência e conhecimento financeiro participou da bolha imobiliária. Era impossível falar meia hora com um Irlandês sem que o tópico imobiliário aparecesse na conversa.
Muitos com um pouco mais de noção imaginavam os riscos. Mas como estes riscos levariam o país inteiro abaixo, acreditavam que havia uma garantia implícita do sistema. Ou seja, o mesmo tipo de moral hazard que afeta o comportamento econômico dos bancos também afeta a população inteira.
Bem poucos entendiam os mecanismos do Euro, ou o que realmente significa fazer parte da zona do Euro, para além das experiências mais quotidianas do uso desta moeda. Uma garantia do sistema bancário e da bolha imobiliária irlandesa não poderia vir do próprio tesouro irlandês.
Eles bem que tentaram cumprir o plano, e resgatar os bancos com fortes conexões políticas com verbas públicas. Mas a Irlanda é um país bastante pequeno, com um orçamento público bastante limitado. O professor Morgan Kelly do UCD resumiu bem: 'cada centavo de imposto dos próximos 2 ou 3 anos iria para cobrir a quebra do Anglo Irish Bank ( o mais 'financeiramente ousado' dos bancos irlandeses ). Cada centavo dos próximos 2 anos para cobrir o AIB. E cada centavo do ano em seguida para todos os outros.'.
Então agora que a situação mostra sua incorntonabilidade, a União Européia ( leia-se Alemanha ) vem oferecer ajuda financeira, e convencer o governo Irlandês a aceitar o pacote, coisa que traz também uma crise política e tem profundas consequências de longo-prazo na soberania irlandesa, pois pode significar a morte da Irlanda como paraíso fiscal e como uma plataforma eficiente para o estabelecimento de empresas globais no velho continente.
Entender o 'sistema' irlandês não é coisa fácil para um político alemão, francês ou mesmo um brasileiro. Acostumados a viver em grandes economias, com um grande mercado interno e sob a sombra onipotente de um governo devorador de recursos, eles acreditam que a carga tributária pode ser arbitrariamente alta sem quase nenhum efeito negativo na geração de renda e empregos. Porque eles acreditam - parcialmente com razão - que as empresas globais irão pagar qualquer coisa para entrar nestes mercados.
Mas imagine-se na posição de uma autoridade de praticamente uma cidade-estado, como Dubai ou Cingapura, ou de um pequeno e empobrecido país como a Irlanda. Para uma economia desse porte não há coação econômica possível, e nem arranjo sindical de poder econômico interno que ofereça ganhos comparáveis aos do mercado internacional. E vejam que eles já sabem isso por experiência própria. Já passaram por uma fase de impostos altíssimos, alto nível de atividade sindical e de estatização da economia. Obviamente que não funciona, nem para um país grande e muito menos para uma economia pequena.
Então a economia se desenvolveu em direção a um modelo bastante eficiente e enxuto, com baixa carga de impostos, muitos atrativos para que empresas globais estrangeiras se estabeleçam no país. Não é à toa que as zonas de Duty Free nos aeroportos foram inventadas na Irlanda. Nos anos 80 se estabeleceu um grande centro financeiro que praticamente fechava a contabilidade global de muitas empresas. E nos anos 90 e 2000 se consolidou a política de apoio ao investimento estrangeiro, com uma carga de impostos entre as mais baixas do mundo e certamente a mais baixa da Europa.
Como resultado temos a massiva entrada de investimentos estrangeiros e a criação de muitos empregos com alto valor agregado. Temos ampla oferta de emprego para a população nativa de todos os níveis. Destaca-se o grande investimento feito na Irlanda na área educacional. Mas, apesar disso, é natural que existam muitas vagas técnicas que não podem ser supridas internamente no tempo desejado. Aí começa a se delinear a política do país em relação à imigração.
A imigração em um país antigo é sempre um assunto complicado. A Irlanda experimentou historicamente emigração em massa, e recentemente imigração em massa, com grande entrada de especialistas de fora da EU, e grande entrada de trabalhadores internos da EU em todos os nível e praticamente de todos os países. Especialmente indicativo foi o ingresso dos jovens recém-formados de países do centro, assim ditos prósperos e ricos, como França, Itália e Alemanha, porém sem oportunidades de trabalho para quem, por ser jovem ou por não ter alto nível de formação, não está bem dentro do sistema caro que eles criaram.
Aí pensamos por um minuto: o que os irlandeses, e, principalmente, os grupos políticos e econômicos locais ganham com este processo?
Basta imaginar: entrada em massa de empresas estrangeiras, entrada de investimento estrangeiro. Vão precisar de escritórios, edifícios, transporte, serviços. Esta parte era majoritariamente executada por empresários irlandeses. O maior indicador do nível de integração de uma pessoa à sua cidade ou país é o quanto de propriedade, terras e imóveis, esta pessoa tem. Os impostos para empresas são baixos. Há um monte de imigrantes. A terra é controlada pelos interesses políticos nativos, e se valoriza naturalmente. E assim todos os locais se beneficiam, com a inflação de preços dos aluguéis e dos serviços para estes profissionais das empresas de alto-valor agregado.
Eles criaram um complicado sistema de licenças de construção, que eram reguladas e exploradas por empresários e indivíduos com conhecimento e trânsito por esta burocracia complicada. Para construir na Irlanda você praticamente tem que entrar em uma sociedade secreta. Acredite ou não, em algumas áreas do país apenas nativos podiam construir!
Logo é natural que o setor governamental, bancário, de construção, serviços e arquitetura fizesse a festa.
E o melhor ainda estava por vir. Com a entrada em massa de imigrantes especializados para ocupar estes postos de trabalho de alto valor, se criou um mercado enorme de aluguel para profissionais, sejam irlandeses de outras cidades ou estrangeiros. Qualquer irlandês com uma casa subitamente tinha uma fonte de renda. Muitos se tornaram 'landlords', ou proprietários de imóveis para alugar, algo que na cultura de influência britânica deles é um baita símbolo de status.
Isto tudo somado, evidentemente, às falhas do sistema monetário já bastante comentadas neste blog, criaram uma dinâmica que levou a uma das maiores bolhas imobiliárias da história.
No auge da coisa, pessoas compravam casas em lugares que elas não queriam porque tinham medo de nunca mais poder alcançar os preços dos imóveis. Eu vi isso com muita tristeza, porque afetava amigos e pessoas próximas. Tomavam crédito a pagar em 35-40 anos, com taxas promocionais de curta duração. Era evidente que haveria um problema. E se multiplicavam os programas na televisão contando as estórias de especuladores imobiliários de sucesso. E os irlandeses que ganharam dinheiro saiam Europa afora dobrando a aposta e comprando propriedade em outros países.
O maior indicador de que você está vivendo em uma bolha é quando você começa a evitar certos assuntos. E um assunto que daria o status de pária em qualquer roda de conversa em Dublin era o eventual colapso da bolha imobiliária irlandesa - que quebraria em sequência os bancos, as empresas de construção, e o tesouro público. O setor de serviços, como bares, restaurantes, seria fortemente afetado. Isto levaria a uma emigração dos estrangeiros não-especializados, o que enfraqueceria ainda mais a demanda por casas e imóveis. A sequência lógica destes acontecimentos era impressionante. E não é que a lógica, como sempre, estava correta?
Mas o pior ainda está por vir. Ao aceitar o pacote de ajuda europeu, a Irlanda vai praticamente renunciar à soberania fiscal. Aí o país deixa de ser um centro de atração para o capital estrangeiro, para empresas de ponta, que podem escolher outros países da Europa com carga tributária igualmente elevada. E o país voltaria a ser o que sempre foi, uma ilha da periferia da Europa.
11 de novembro de 2010
O que a imprensa nacional não disse sobre o caso Panamericano
De acordo com o blog do FT, o Panamericano passou a colocar carteiras de créditos que já havia vendido em seu balanço, por causa daquela famosa 'marolinha', que ia quebrar o banco.
Aí, surpresa, a cavalaria aparece e o estado compra o Banco Votorantim, a Caixa compra metade do Panamericano, deixando o controle na mão de um genro do Sílvio Santos formado em Educação Física.
http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/11/11/panamericano-affair-turns-spotlight-on-brazils-credit-boom/
http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/08/12/consumer-defaults-on-the-rise-in-brazil/
Aí, surpresa, a cavalaria aparece e o estado compra o Banco Votorantim, a Caixa compra metade do Panamericano, deixando o controle na mão de um genro do Sílvio Santos formado em Educação Física.
http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/11/11/panamericano-affair-turns-spotlight-on-brazils-credit-boom/
http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/08/12/consumer-defaults-on-the-rise-in-brazil/
8 de novembro de 2010
Presidente do Banco Mundial sugere o retorno ao padrão ouro
O cenário monetário e financeiro muda rapidamente com a crise. Não espere que ninguém venha explicar na grande mídia ou na televisão, mas líderes de Rússia, Arábia Saudita e China, países que controlam grandes reservas de investimentos e são credores líquidos, são recebidos com tapete vermelho na Europa, enquanto Obama concretizou sua liderança histórica barranco-abaixo, e os emissários americanos são atacados no G20 por suas tentativas de inflacionar o dólar de maneiras pouco convencionais. Temos uma rápida mudança na estrutura de poder.
Governos da periferia da Europa como o irlandês estão tendo grandes problemas para vender títulos sem pagar altas taxas de juros. 8% em um título Irlandês é, para eles, algo inimaginável. Isto nos dá um bom exemplo da resistência do Brasil à crise. A Europa se viciou no crédito fácil tanto quanto os EUA, mas agora tentam reorganizar as finanças públicas do jeito difícil, passando por uma fase de aperto e de reajuste econômico.
Já nos EUA a situação é desoladora. O que toma conta do pensamento econômico americano são os velhos conselhos Keynesianos. Os velhos erros fundamentais que partem de uma concepção errada dos processos econômicos e dão origem ao que se entende por macroeconomia. A macroeconomia é uma teoria em frangalhos, após todos os golpes que a realidade econômica lhe desferiu nas últimas décadas, e especialmente nesta crise.
Articulistas como Paul Krugman e DeLong, e em geral qualquer um de Princeton, Yale e demais departamentos econômicos fortemente keynesianos, recomendam do alto de suas torres-de-marfim uma estratégia que no longo prazo vai levar ao colapso do dólar e da américa. Já lavam as mãos desde já: se não funcionar, é porque os americanos não se jogaram de um penhasco alto o suficiente.
É uma grande pena que uma economia tão rica como a americana pereça como cobaia da pseudo-ciência Keynesiana. Estão estimulando a inflação porque acreditam no consumo como a mola propulsora da economia. Subcrevem àquela opinião imbecil de que na divisão global do trabalho cabe aos EUA o papel de se especializar em consumo, enquanto cabe ao resto do mundo, especialmente a China, competir para supri-los com capital, crédito e, principalmente, com os produtos que eles importam.
Agora eles querem tentar através de uma inflação de preços mais alta sabotar o reestabelecimento da poupança nos EUA, que rapidamente se recuperou por causa da crise. Os americanos tem cortado as dívidas, economizado, e isso vai contra os planos do Fed.
Só que desta maneira o capital do país continuará sendo dilapidado pelo consumo, como tem acontecido nas últimas décadas, e como naquela estória em que os trabalhadores da fazenda resolvem comer as vacas leiteiras para ver se a produção da fazenda aumenta. Só o que os Keynesianos enxergam são efeitos de curto-prazo. E no curto prazo, os QE's do Fed vão causar um retorno momentâneo à euforia pré-crise. Por quantos meses isto pode ser sustentado, não cabe perguntar.
Mas como a carruagem da economia mundial deve prosseguir, algumas vozes dissidentes tem se levantado contra aqueles cegos que dizem que 'não há nada de errado' com a macroeconomia ou com o sistema monetário. Uma nova declaração que me causou muita surpresa foi a do presidente do banco mundial, sugerindo que o ouro deveria ter um papel maior na estabilização do sistema monetário internacional.
http://www.ft.com/cms/s/0/e669c7dc-eb43-11df-811d-00144feab49a.html#axzz14ivBoA7r
Isto mesmo. Isto não é opinião de Peter Schiff, nem de Jim Rogers, Marc Faber ou outros analistas de sucesso, com grande experiência prática ou forte base austríaca. Vem de um presidente do banco mundial.
O maior medo dos Keynesianos é a deflação de preços. Eles vivem em um mundo econômico onde salários sempre sobem e nunca podem ser negociados. Isso na época de Keynes tinha uma certa razão de ser, com forte atuação de sindicatos. A desvalorização da moeda através da inflação é, neste esquema, uma trapaça que ajuda os preços a atingirem o valor correto.
Como escrevi em um post anterior, não consigo ver problema nenhum com o padrão ouro. Uma moeda com 6000 anos de uso certamente é mais estável do que a nossa moeda fiat com no máximo 200 anos de uso. Bancos e estados precisam de um laço forte com as possibilidades do mundo real, e a moeda fiat nos traz rápido crescimento de baixa qualidade, com sucessivas crises, maiores e piores.
Sob um padrão ouro a importação americana da China seria paga com ouro. Não há deficit, porque o ouro é a exportação americana para a China. Logo diriam que há uma 'fuga de ouro', e justamente por bater nestas amarras é que o padrão-ouro foi abandonado. A moral da estória é: estados precisam destas amarras. Você remover as amarras só torna o problema pior.
Com mais ouro a China naturalmente construiria um estoque de capital ao invés de um estoque de dívida pública americana. Emprestariam ao mundo com os juros mais baixos. Ou, se preferirem, guardariam estas pilhas de ouro sem ter retorno nenhum. Os preços nos EUA cairiam bastante, e a taxa de juros aumentaria, como deve ser. O contrário do que acontece no sistema monetário atual, onde quanto mais os EUA importa, mais abaixam as taxas de juros em dólar.
Os Keynesianos entendem o fluxo econômico como um ciclo. Mas é evidente a qualquer matemático ou engenheiro que este ciclo dos EUA com a China e os incentivos trocados nas taxas de juros constroem o que se chama de sistema de feedback positivo. O que isto causa em qualquer sistema, seja econômico, seja em um circuito eletrônico ou em uma manada de animais? Crise, imprevisibilidade, caos, colapso total.
Governos da periferia da Europa como o irlandês estão tendo grandes problemas para vender títulos sem pagar altas taxas de juros. 8% em um título Irlandês é, para eles, algo inimaginável. Isto nos dá um bom exemplo da resistência do Brasil à crise. A Europa se viciou no crédito fácil tanto quanto os EUA, mas agora tentam reorganizar as finanças públicas do jeito difícil, passando por uma fase de aperto e de reajuste econômico.
Já nos EUA a situação é desoladora. O que toma conta do pensamento econômico americano são os velhos conselhos Keynesianos. Os velhos erros fundamentais que partem de uma concepção errada dos processos econômicos e dão origem ao que se entende por macroeconomia. A macroeconomia é uma teoria em frangalhos, após todos os golpes que a realidade econômica lhe desferiu nas últimas décadas, e especialmente nesta crise.
Articulistas como Paul Krugman e DeLong, e em geral qualquer um de Princeton, Yale e demais departamentos econômicos fortemente keynesianos, recomendam do alto de suas torres-de-marfim uma estratégia que no longo prazo vai levar ao colapso do dólar e da américa. Já lavam as mãos desde já: se não funcionar, é porque os americanos não se jogaram de um penhasco alto o suficiente.
É uma grande pena que uma economia tão rica como a americana pereça como cobaia da pseudo-ciência Keynesiana. Estão estimulando a inflação porque acreditam no consumo como a mola propulsora da economia. Subcrevem àquela opinião imbecil de que na divisão global do trabalho cabe aos EUA o papel de se especializar em consumo, enquanto cabe ao resto do mundo, especialmente a China, competir para supri-los com capital, crédito e, principalmente, com os produtos que eles importam.
Agora eles querem tentar através de uma inflação de preços mais alta sabotar o reestabelecimento da poupança nos EUA, que rapidamente se recuperou por causa da crise. Os americanos tem cortado as dívidas, economizado, e isso vai contra os planos do Fed.
Só que desta maneira o capital do país continuará sendo dilapidado pelo consumo, como tem acontecido nas últimas décadas, e como naquela estória em que os trabalhadores da fazenda resolvem comer as vacas leiteiras para ver se a produção da fazenda aumenta. Só o que os Keynesianos enxergam são efeitos de curto-prazo. E no curto prazo, os QE's do Fed vão causar um retorno momentâneo à euforia pré-crise. Por quantos meses isto pode ser sustentado, não cabe perguntar.
Mas como a carruagem da economia mundial deve prosseguir, algumas vozes dissidentes tem se levantado contra aqueles cegos que dizem que 'não há nada de errado' com a macroeconomia ou com o sistema monetário. Uma nova declaração que me causou muita surpresa foi a do presidente do banco mundial, sugerindo que o ouro deveria ter um papel maior na estabilização do sistema monetário internacional.
http://www.ft.com/cms/s/0/e669c7dc-eb43-11df-811d-00144feab49a.html#axzz14ivBoA7r
Isto mesmo. Isto não é opinião de Peter Schiff, nem de Jim Rogers, Marc Faber ou outros analistas de sucesso, com grande experiência prática ou forte base austríaca. Vem de um presidente do banco mundial.
O maior medo dos Keynesianos é a deflação de preços. Eles vivem em um mundo econômico onde salários sempre sobem e nunca podem ser negociados. Isso na época de Keynes tinha uma certa razão de ser, com forte atuação de sindicatos. A desvalorização da moeda através da inflação é, neste esquema, uma trapaça que ajuda os preços a atingirem o valor correto.
Como escrevi em um post anterior, não consigo ver problema nenhum com o padrão ouro. Uma moeda com 6000 anos de uso certamente é mais estável do que a nossa moeda fiat com no máximo 200 anos de uso. Bancos e estados precisam de um laço forte com as possibilidades do mundo real, e a moeda fiat nos traz rápido crescimento de baixa qualidade, com sucessivas crises, maiores e piores.
Sob um padrão ouro a importação americana da China seria paga com ouro. Não há deficit, porque o ouro é a exportação americana para a China. Logo diriam que há uma 'fuga de ouro', e justamente por bater nestas amarras é que o padrão-ouro foi abandonado. A moral da estória é: estados precisam destas amarras. Você remover as amarras só torna o problema pior.
Com mais ouro a China naturalmente construiria um estoque de capital ao invés de um estoque de dívida pública americana. Emprestariam ao mundo com os juros mais baixos. Ou, se preferirem, guardariam estas pilhas de ouro sem ter retorno nenhum. Os preços nos EUA cairiam bastante, e a taxa de juros aumentaria, como deve ser. O contrário do que acontece no sistema monetário atual, onde quanto mais os EUA importa, mais abaixam as taxas de juros em dólar.
Os Keynesianos entendem o fluxo econômico como um ciclo. Mas é evidente a qualquer matemático ou engenheiro que este ciclo dos EUA com a China e os incentivos trocados nas taxas de juros constroem o que se chama de sistema de feedback positivo. O que isto causa em qualquer sistema, seja econômico, seja em um circuito eletrônico ou em uma manada de animais? Crise, imprevisibilidade, caos, colapso total.
5 de novembro de 2010
Depois de eleita a mulher do Lula, vem a conta
Depois da eleição vem a conta: governadores alinhados ao governo federal buscam ressussitar a CPMF. A arrecadação cresce, o governo gasta mais e mais. Para fazer frente às promessas eleitoreiras, tais como o aumento do salário mínimo, seguem pelo caminho que acreditam ser de menor resistência.
Notem que o PSDB adotou claramente a bem-sucedida estratégia petista de, quando confrontado com promessas feitas pelo PT, aumentar estas promessas. Com o PT se acostumando a ser dono da estrutura de governo por um período mais longo de tempo, há uma transição natural do comportamento de lobo para o de pastor de ovelhas, o que exige uma moderação fiscal maior. Já quem está fora do poder tem a vantagem de oferecer à população uma agenda irrealizável.
O salário mínimo impacta em cheio este que é o maior programa de distribuição de benefícios do Brasil : o 'bolsa-idoso', a concessão de pensões estatais de um salário mínimo sem contrapartidas, e com contínuos reajustes reais sendo oferecidos ao longo da última década. Há uma clara tendência de achatamento de aposentadorias dos que contribuíram ao sistema em direção ao salário mínimo. Ora, para receber um salário mínimo não precisavam ter contribuído nada. Imaginem o que esta mudança de comportamento representará em breve para as contas já bastante inviáveis do INSS.
Mas o salário mínimo é um dos principais motores de popularidade do governo Lulista, e é outra das bombas que este deixa para sua sucessora, junto com a inflação crescente (IGP-M acumulado em quase 8% ), a mudança do cenário externo, a deterioração da situação fiscal, resolvida com gambiarras não vistas desde a era Sarney.
Há também uma visível mudança de discurso oficial. Depois do discurso anestésico aplicado na população até as eleições, agora vem as autoridades alertar para o fato que há uma grave crise no mundo, que temos grandes desequilíbrios, temos um grande desafio cambial e fiscal. Vem chumbo grosso por aí, e eles mesmo já estão tentando acordar as suas ovelhas da hipnose.
Eu vejo basicamente dois cenários para o governo da mulher do Lula, até o retorno do Chefe ao poder. Na primeira hipótese, tudo continua no estilo do Chefe, e nada faz além de reformas pontuais que possibilitem empurrar com a barriga mais um pouquinho.
Um segundo cenário mais inesperado seria a realização de reformas impopulares e necessárias, porque sem estas reformas o brinquedo corre o risco de quebrar na mão do Chefe. Nesta hipótese, aparecerá o nome Dilma, que assim como Erenice será sacrificada pelo chefe, e entrará para a história como um dos governos mais odiados, justamente por ter feito todas as reformas impopulares absolutamente necessárias ao país e ao domínio petista por mais uma década. A população, sem entender patavina, poderia culpar Dilma e ... votar em Lula.
Dependendo do que eles fizerem com a CPMF, taxa de juros, e com os aumentos de salário mínimo, já vai dar para ver qual caminho desejam seguir.
Notem que o PSDB adotou claramente a bem-sucedida estratégia petista de, quando confrontado com promessas feitas pelo PT, aumentar estas promessas. Com o PT se acostumando a ser dono da estrutura de governo por um período mais longo de tempo, há uma transição natural do comportamento de lobo para o de pastor de ovelhas, o que exige uma moderação fiscal maior. Já quem está fora do poder tem a vantagem de oferecer à população uma agenda irrealizável.
O salário mínimo impacta em cheio este que é o maior programa de distribuição de benefícios do Brasil : o 'bolsa-idoso', a concessão de pensões estatais de um salário mínimo sem contrapartidas, e com contínuos reajustes reais sendo oferecidos ao longo da última década. Há uma clara tendência de achatamento de aposentadorias dos que contribuíram ao sistema em direção ao salário mínimo. Ora, para receber um salário mínimo não precisavam ter contribuído nada. Imaginem o que esta mudança de comportamento representará em breve para as contas já bastante inviáveis do INSS.
Mas o salário mínimo é um dos principais motores de popularidade do governo Lulista, e é outra das bombas que este deixa para sua sucessora, junto com a inflação crescente (IGP-M acumulado em quase 8% ), a mudança do cenário externo, a deterioração da situação fiscal, resolvida com gambiarras não vistas desde a era Sarney.
Há também uma visível mudança de discurso oficial. Depois do discurso anestésico aplicado na população até as eleições, agora vem as autoridades alertar para o fato que há uma grave crise no mundo, que temos grandes desequilíbrios, temos um grande desafio cambial e fiscal. Vem chumbo grosso por aí, e eles mesmo já estão tentando acordar as suas ovelhas da hipnose.
Eu vejo basicamente dois cenários para o governo da mulher do Lula, até o retorno do Chefe ao poder. Na primeira hipótese, tudo continua no estilo do Chefe, e nada faz além de reformas pontuais que possibilitem empurrar com a barriga mais um pouquinho.
Um segundo cenário mais inesperado seria a realização de reformas impopulares e necessárias, porque sem estas reformas o brinquedo corre o risco de quebrar na mão do Chefe. Nesta hipótese, aparecerá o nome Dilma, que assim como Erenice será sacrificada pelo chefe, e entrará para a história como um dos governos mais odiados, justamente por ter feito todas as reformas impopulares absolutamente necessárias ao país e ao domínio petista por mais uma década. A população, sem entender patavina, poderia culpar Dilma e ... votar em Lula.
Dependendo do que eles fizerem com a CPMF, taxa de juros, e com os aumentos de salário mínimo, já vai dar para ver qual caminho desejam seguir.
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