10 de maio de 2011

Como evitar a inflação da era Lula

Pensei que demoraria alguns meses até chegarmos a este tipo de sugestão, extraído de um comentário do blog do Kupfer:

http://blogs.estadao.com.br/jpkupfer/o-preco-dos-servicos/comment-page-1/#comment-32677


"Na componente da inflação provocada por serviços vejo pouco a fazer pelo governo. Depende mais é da mentalidade da população. Nem sequer serve de desculpa para aumento da tx Selic.

O(a) sujeito(a) vai precisar admitir cortar o cabelo sem aquela lavagem extra com os aditivos etc. ou então procurar um outro salão ….mais em conta.

Se o dentista está cobrando muito mais caro ele não tem motivos mesmo que use material importado pois o dólar está baixo ….será exploração mesmo! Ídem ao médico que nem material usa…."

...

Não compre o adiável e quero ver como o médico, dentista, etc. vão pagar o aluguel do consultório, da secretária, condomínio, etc. Vão ter que baixar.

Quanto a profissões como mecânicos, eletricistas, etc…vale a concorrência e a pechincha.


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O corte de cabelo de 10R$ entrou para a história, assim como o frango de 1 R$ e a nota de 1 Barão?

Sem problemas! Pegue a tesoura que o seu filho usava na aula de artes antes do aperto do orçamento doméstico. Você apenas precisa comprar um espelhinho na Casa China por apenas 5R$ e treinar na frente dele o seu próprio corte de cabelo!

Demora um tempo para ficar direito nas primeiras vezes, mas neste momento em que especuladores conspiram para trazer de volta o dragão da inflação, é justificável reduzir gastos com aparência e com serviços supérfluos.

Para que gastar com dentista? Com um rolo de barbante de 2R$ da Casa China você tem estoque o suficiente para muitas consultas! Basta usar uma maçaneta, um veículo, tente várias combinações, improvise, e se surpreenderá com o resultado.

Também serve para reduzir os custos de manutenção com o automóvel. Um pouco de Super-Bonder ( versão genérica da casa China ) e uns esparadrapos, e o seu carro zero comprado na era Lula vai funcionar por muitos anos! Talvez você até use ele, para se locomover até o banco e pagar a última prestação.

Alguma parente de idade avançada faleceu e você precisa de serviços funerários? Dado o atual panorama macroecônomico, que apesar de absolutamente sob controle sofre a ação de alguns oportunistas, o que que poderia criar um quadro inflacionário pressionado por maior demanda, não estivesse o governo tão vigilante, não seria o caso de esperar uma oferta melhor para enterrar a velhinha como ela merece?

Vá até a casa dela. No quartinho dos fundos você vai encontrar um artefato muito utilizado pelas famílias brasileiras nos anos 80. Se chama FREEZER HORIZONTAL CONSUL. As famílias brasileiras usavam este dispositivo para armazenar mantimentos no início do mês.

Coloque a velhinha dentro e diga com orgulho : TEM QUE DAR CERTO ! EU SOU FISCAL DO SARNEY!

5 de maio de 2011

Margin call nas commodities

Está sendo atribuído aos maus resultados da economia americana a recente queda nas commodities. Vou explicar porque não compro esta explicação, e indicar o verdadeiro responsável pelos movimentos do mercado nos últimos dias.

Em primeiro lugar, do jeito que funciona o mercado futuro, o investidor, seja um produtor ou comprador que usa o mercado futuro como garantia de preço, ou um especulador que assume um risco e tenta se antecipar à tendência de preços, não precisa depositar o valor total do contrato na bolsa de futuros. Ele deposita uma quantia 'de boa-fé', que na prática permite ao investidor se alavancar bastante.

No caso dos contratos futuros de prata, cujo contrato mais negociado é da Comex nos Estados Unidos, o colateral era cada vez menor em razão dos aumentos diários de até 5% no preço da prata. Isto atraiu grande número de especuladores que estavam brincando alavancados.

Muitos rumores e teorias conspiratórias se espalharam na Internet, alguns com um fundo de verdade. Nos anos 70 alguns especuladores quase quebraram o Comex nos EUA porque ao final do contrato quem está comprado tem a opção de receber a mercadoria, e quem está vendido e passar da data também tem a obrigação de entregar a mercadoria.

Em condições normais uma pequena percentagem destes contratos chegam à maturidade, coisa em torno de 2% ou 3%.

Mas se boa parte dos que estão comprados resolverem receber a prata física, o Comex teria um grande problema. Por ser alavancado, este mercado demandaria quantidades imensas de prata, que não poderiam ser supridas mesmo em mais de um ano de produção.

Portanto a Comex mantém um estoque de prata registrada para realizar estas entregas. O vendedor paga o pato, ou a prata, e o Comex entrega ao comprador do seu estoque.

Os irmãos Hunt quase levaram o Comex abaixo de forma não muito diferente do que uma corrida bancária. Não havia prata no mercado à vista. Mas o Comex e o governo americano, como era de se esperar, mudaram as regras do jogo: entraram no campinho, deram um soco no goleiro do time adversário e roubaram a bola do jogo. Acusaram justa ou injustamente os irmãos Hunt de terem conspirado e manipulado o mercado.

Quando especuladores encontram estas falhas a coisa sempre rompe do lado mais fraco. Os especuladores sempre são acusados de crimes, reais ou imaginários, nem que as leis sejam passadas especialmente para isso.

Os irmãos Hunt foram auxiliados por um operador Libanês-brasileiro bastante famoso por aqui chamado Naji Nahas. Um dia quero entender melhor a estória deste mega-especulador que quebrou a Bolsa do Rio, quase quebrou a de São Paulo, e foi tratado como criminoso o resto da vida.

Desta vez, não tínhamos um alvo em potencial para acusar de manipular o mercado da prata. Tínhamos uma multidão. Sua ascenção meteórica decorria do fato de que a prata sempre foi o 'ouro do pobre', sendo bastante acessível a compra de moedas de prata em alguns países como México, Canadá, EUA, Austrália.

A demanda por moedas bullion, ou moedas de investimento, aumentou muito. E, silenciosamente aumentam os seguidores de pontos de vista políticos-econômicos semelhantes ao desse blog: descrentes das autoridades monetárias, conscientes da manipulação em massa exercida por governos, e sabedores da necessidade de buscar uma saída individual para a crise em que estamos, apesar das tentativas oficiais de tentar escondê-la.

Pois isto somado à inexperiência, à ganância e ao alavancamento deu ao Comex uma estratégia completamente válida para esmagar os novos especuladores em prata do mercado futuro. Os garotos mais velhos deram uma surra nos moleques.

Alguns dizem pela Internet que a Comex temia uma corrida à prata, como a dos irmãos Hunt. Mas a verdade é que poucos destes especuladores caseiros dispunham de 250K$ para pagar 100% de apenas um contrato de 5000 oz de prata.

Mas o fato é que pela forma que a bolsa de futuros opera, estava ridículo exigir menos de 5% de colateral. Só que como a prata subiu muito rápido, a resposta da Comex também veio rápida, e quebrou o mercado. A partir de segundo de maio, curiosamente bem depois do feriado, começaram a aumentar dia após dia as margens de segurança nos contratos de prata. E foi uma quebra atrás da outra.

Subiram as margens 5 vezes seguidas, e agora está em torno de 21K$ iniciais para um contrato, e uns 16K$ de margem mínima de manutenção. Isto corresponde a uns 8.4% do contrato de prata a 50$, mas 12% de um contrato de prata a 35$.

Esta sequência de aumentos de margem causou o mercado a desabar, com muitos especuladores vendendo tudo que podem para cobrir a margem e segurar seus contratos. É um movimento de curto-prazo, e não esta queda geral das commodities que muitos economistas pró-establishment querem acreditar, com seus óculos cor-de-rosa.

É temporariamente uma grande destruição de dinheiro alavancado, o que leva os preços abaixo.

É verdade que há uma percepção que os mercados emergentes pouco possam fazer para evitar aumentos de juros, porque se passarem aumentos de preços para seus eleitores, estão arriscando perder a cabeça.

Mas nos EUA, Europa e outros não há nenhuma vontade muito grande de sair aumentando juros. Este sim, seria a única coisa que fundamentalmente faria as commodities voltarem a um nível mais baixo.

Quando o governo culpa os especuladores por aumentos de preços, eles sempre se esquecem que para cada especulador comprado tem um vendido, ou seja, eles se cancelam. O que não é tão fácil de cancelar é o consumo maior das classes emergentes da China, Índia, Brasil, que demandam mais e mais e sem aumento de produção equivalente pressiona os preços.