http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/quem-tem-medo-de-pedrinho/
Como com certeza os técnicos em engenharia social do MEC vão substituir o gigante Lobato por algum pigmeu do agrado deles, estou dando a minha contribuição à educação nacional traduzindo este texto de 'Politically Correct Bedtime Stories', James Finn Garner.
Era uma vez uma pessoa jovem chamada Chapeuzinho Vermelho que vivia com sua mãe na beira de uma grande floresta. Um dia sua mãe lhe pediu que levasse um cesto de frutas frescas e água mineral para a casa de sua avó - não por isto ser uma tarefa doméstica historicamente associada a uma pessoa feminina, mas sim movida por um genuíno sentimento de generosidade, e porque embutiria em sua filha sentimentos comunitários. Além do mais, sua avó NÃO ESTAVA doente, mas sim em plena condição física e mental, plenamente capaz de tomar conta de si mesma, enquanto adulto da terceira-idade.
Então Chapeuzinho saiu com sua cesta para a floresta. Muitos acreditavam que a floresta fosse um lugar impenetrável e perigoso, e nunca botaram os pés lá. Chapeuzinho, por outro lado, estava consciente de sua sexualidade em flor e não se intimidava com estas óbvias alegorias Freudianas.
No caminho para a casa da avó, Chapeuzinho foi abordada por um lobo, que perguntou o que havia no cesto. Ela respondeu: 'alguns lanches saudáveis para a minha avó, que com certeza é bem capaz de cuidar de si mesma enquanto adulto da terceira-idade. '
O lobo disse: "Minha querida, você não sabe que não é seguro para uma garotinha andar por aqui sozinha?"
Chapeuzinho disse: "Considero sua observação sexista e ofensiva ao extremo, mas vou ignorá-la por causa do seu status tradicional de marginalizado pela sociedade, o que certamente lhe causa muito estresse e lhe obriga a formar uma visão de mundo bastante distinta da minha, atitude inteiramente natural. Mas, se me permite, devo continuar meu caminho.
Chapeuzinho continuou caminhando pelo caminho principal. Mas por causa de seu status marginalizado perante a sociedade, o lobo não se restringia aos esquemas lineares automáticos do pensamento ocidental, e encontrou um caminho mais rápido até a casa da vovó. Ele invadiu a casa e comeu a vovó, uma linha de ação válida para um carnívoro como ele. Então, não se intimidando com a rígida divisão tradicional entre gêneros femininos e masculinos, vestiu os pijamas da vovó e se arrastou para a cama...
Chapeuzinho entrou na cabana e disse: "vovó, lhe trouxe uns lanchinhos orgânicos, sem gordura e livres de aditivos químicos, para saudá-la como sábia e encorajadora matriarca que é".
Da cama o lobo disse de mansinho, "chegue mais perto, criança, para que eu possa ver".
Chapeuzinho explamou "Oh, havia me esquecido que a vovó é mais portadora de deficiência visual do que um morcego! Vovó, mas que olhos grandes a senhora tem!"
"Eles já viram muitas coisas e perdoaram muito, minha querida."
"Vovó, mas que nariz grande a senhora tem, relativamente, é claro, e certamente atraente à sua maneira".
"Já cheirou muitas coisas e também perdoou muito, minha querida."
"Vovó, que dentes grandes a senhora tem!"
E o lobo disse "Estou muito satisfeito com o que sou e com quem sou", e pulou da cama, pulando em Chapeuzinho com suas garras, pronto para devorá-la. Chapeuzinho gritou, não porque estivesse assustada com sua aparente tendência à prática do 'cross-dressing', perfeitamente tolerável, mas por este ter completamente violado seu espaço pessoal.
Seus gritos foram ouvidos por um profissional cortador de madeira ( ou técnico em celulose renovável, como preferia ser chamado ). Quando este pulou para dentro da casa, avistou a cena e tentou intervir. Mas quando este levantou seu machado, tanto o lobo quanto Chapeuzinho ficaram imóveis.
"E o que você pensa que está fazendo?", perguntou Chapeuzinho.
O cortador de madeira piscou os olhos, e não conseguiu buscar palavras.
"Entrando aqui como um Neandertal, balançando esta arma de um lado para outro, como se ela fosse pensar para você?", exclamou. "Sexista! Racista! Como ousa assumir que uma jovem mulher e um lobo selvagem não possam resolver seus conflitos sem a ajuda de um homem?"
Emocionada com a fala vibrante de Chapeuzinho, a vovó pulou para fora da boca do lobo, pegou o machado do cortou de um lance a cabeça do homem. Depois destes exaustivos trabalhos, Chapeuzinho, Vovó e o lobo sentiram com satisfação que tinham atingido um propósito comum. Decidiram instalar uma comunidade alternativa baseada em cooperação e entendimento mútuo, e agora moram juntos na floresta, felizes para sempre.
29 de outubro de 2010
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