Em pleno processo de desvalorização do dólar, a balança comercial americana com a China cada vez mais negativa.
Eu penso que as autoridades americanas sabem que ao desvalorizar o dólar não há como criar empregos nos EUA, porque a economia dos dois países é bastante diferente.
Mas eu acredito que eles pretendam duas coisas: em primeiro lugar, desvalorizando o dólar eles desvalorizam a dívida americana. O Fed já é o maior detentor de títulos do tesouro americano. Sim, a isto se chama monetização da dívida. Por isso não há crise fiscal como na Europa, e há sempre um comprador garantido a juros zero para o governo americano: o Fed.
O outro grande motivo, vendo estes números alarmantes da balança comercial, parece ser uma tentativa desesperada de interromper este processo.
O que tudo isso mascara, na verdade, é a falta de competitividade da economia americana. Tirando algumas empresas estelares como as de tecnologia, sobra uma economia bem menos competitiva do que Coréia do Sul, Japão e Alemanha.
Estes, by the way, acumulam saldos no comércio com a China. Então vejam que nem tudo nos EUA é culpa do Yuan desvalorizado.
Hoje uma das maiores exportações dos EUA para a China é lixo para reciclagem. A maior parte provenientes do final da vida de produtos que vieram da China. Isto indica o tamanho da distorção comercial entre os dois países, que certamente existe, mas não parece ser tão fácil de resolver com passes de mágica monetários.
Mas uma coisa que pode acontecer com essa desvalorização é o aumento das exportações agrícolas. A China passou a ser um grande importador de grãos, com a melhora da nutrição da população chinesa e sua maior demanda por carne. Embora não tenham tido muito incentivo para repetir a revolução de décadas anteriores, os EUA ainda são uma potência agrícola. Vendo nos gráficos do desemprego americanos até 2009 vemos que os estados do meio não foram tão afetados quanto costa leste e oeste.
No mais, tomei conhecimento de um desdobramento positivo da crise na Europa nesta área de alimentação: está praticamente terminada a era do 'buy organic', que passou a ser visto como sinônimo de caro.
Lembro quando morava lá em Dublin e via nas prateleiras do Marks and Spencer (supermercado caro) embalagens quase dizendo coisas do tipo: "organically produced by monks in Tibet using socially responsible techniques with zero carbon footprint and carbon-offset-airshipped into Europe". Quanta frescura...
Fenômeno mais de comportamento do que alimentar, o que agora está na moda é encher a barriga por menos mantendo a mesma qualidade, e mostrar austeridade.
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