No meio de uma mudança de tom no governo, que agora tenta colocar o pé no freio e consertar o estrago que O Chefe fez nas contas nacionais, foi anunciado hoje um movimento na direção contrária, um aporte de 55 bilhões no BNDES, para continuar a linha de crédito que em grande parte comprou os sete pontos de meio de crescimento do PIB que foram anunciados recentemente.
Linhas de crédito que disponibilizam para as empresas brasileiras taxas abaixo da inflação para a compra de equipamentos, expansão de fábricas e outros projetos. O governo bem que tenta o discurso da austeridade. Mas nossa realidade econômica hoje não se sustenta sem estímulos artificiais. O surto desenvolvimentista que tomou o país é um pouco melhor do que o insustentável subsídio americano à habitação que gerou o subprime, porque por pior que seja a qualidade do gasto estatal, ao menos é um gasto em produção. Mas também isso não o livra das mesmas distorções.
Com uma economia completamente viciada nestes estímulos artificiais, o prospecto para as empresas brasileiras nos próximos meses é de grande euforia e forte crescimento. Porém um crescimento de má qualidade, com alto custo pelo benefício e que custará bastante caro no futuro, com a saturação dos mercados anos lá para a frente, sem nem entrar no problema da pressão inflacionária que já se faz sentir agora mesmo.
Um belo dia o tesouro não terá mais 50 bilhões para renovar os programas de estímulos artificiais. Um belo dia empresas brasileiras terão que conquistar mercados e fazer uma venda sem subsídios, e competindo com o mundo todo de igual para igual, sem contar com uma das maiores barreiras tarifárias do mundo. Terão que conquistar mercados externos para recuperar a desaceleração do mercado intero, e o terão de fazer baseados exclusivamente no mérito e no custo-benefício de seus produtos e descobrirão que suas vendas serão uma fração do que foi nos anos de estímulos, nos anos em que 'o melhor banco do mundo' estava operando em velocidade máxima.
Descobrirão que há pouca demanda externa para produtos industriais brasileiros, em geral caros e de qualidade pior. O mercado interno se retrairá, haverá cortes de produção, redução de investimentos, projetos inacabados, muitas demissões, o que retro-alimentará o quadro negativo para as contas nacionais em outras frentes, como o aumento do gasto com seguro-desemprego, e a perda por parte dos órgãos estatais dos recursos do FGTS.
Um belo dia - nada distante - não haverá mais como cobrir déficits da previdência, aumentar SM, aumentar Bolsa-Família e o bolsa-empresário do BNDES, tudo ao mesmo tempo e em progressões geométricas. Caminhamos para um quadro de total falência das contas públicas, e o governo aparentemente sabe disso e busca minimizar o impacto e tentar desarmar este mecanismo, antes que aconteça e promova uma versão tupiniquim do que acontece no mundo árabe. A perda do controle do governo sobre a sociedade é o pior que pode ocorrer para qualquer governo, especialmente este, que provavelmente não planeja se aposentar tão cedo.
Entretanto isto é que pode acontecer, a menos que da cartola do governo periodicamente saiam centenas e centenas de bilhões para cobrir todas estas demandas, ano após ano. Não parece ser o caso nem mesmo agora, já que o BNDES está sendo capitalizado com ações da Petrobrás.
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