6 de agosto de 2010

Serra denuncia perseguição às APAEs

O debate presidencial de ontem transcorreu sem muitas surpresas, exceção seja feita aos comentários irônicos do comunista linha-dura Plínio Arruda.

Entretanto, José Serra em um dos blocos carregou sua munição e disparou contra Dilma que o governo federal estaria discriminando as APAE's, associações de pais e amigos dos excepcionais.

Fiquei surpreso. Mexer com assunto tão espinhoso não é uma boa idéia para o governo.

Ao averiguar hoje as notícias sobre o tema, vi que na verdade é muito pior.

Há uma verdadeira batalha ideológica ( mais uma ) entre grupos ligados às APAEs, que há anos prestam este importante apoio aos deficientes de forma comprovada, e as entidades favoráveis ao novo sistema segundo o qual os deficientes tem o direito(!) de desfrutarem da rede pública de ensino, da mesma maneira que os outros estudantes.

Que direito seria este, já que a rede de escolas públicas não é nada mais que um depósito de crianças? As crianças normais já não aprendem sequer a ler e escrever. Temos os piores resultados em aritmética. O que alunos que precisam de cuidados especiais teriam a ganhar com este 'direito'? Temos aí a primeira cegueira ideológica. A incapacidade de assumir a desigualdade, e simplesmente ignorá-la. Um aluno com deficiência precisa de uma educação adequada para que consiga justamente suprir sua deficiência. Mas como é bonito ignorar a realidade e falar de inclusão e igualdade, ou dizer que não há deficiência alguma e que tudo não passa de preconceito.

Longe do mundo de faz-de-conta do governo e de entidades a favor da 'igualdade', temos o choque de realidade : a desigualdade de aprendizado, a segregação entre os alunos normais e os alunos com deficiência. O conflito nas salas de aula é inevitável. As crianças são implacáveis. Algumas escolas privadas já tem condições de gerenciar esta nova demanda. Mas o que esperar da rede pública, se nem suas funções mais básicas ela é capaz de prover.

Aí temos a segunda cegueira ideológica. Nos países de língua inglesa e alguns outros, hospitais, bibliotecas, universidades e escolas podem ser abertos ao público, e administrados por entidades independentes. Como acontece no Brasil com hospitais privados ligados ao SUS, ou com universidades privadas ligadas ao ProUNI. Idéias estas muito boas que economizam recursos públicos, formam uma ponte entre o mundo estatal e o mundo privado - que geralmente é o benchmark, e catalizam uma rede de serviços privados já existente.

Exatamente também o caso das APAEs. Mas neste caso, para o governo federal as APAEs não passam de 'escolas privadas' que segregam os deficientes. Estas escolas, que supriram uma lacuna, agora já não servem mais e tem sua verba cortada.

Já é comum no Brasil, por causa dos decretos do governo, a inclusão obrigatória de alunos deficientes em salas de aula comuns, seja da rede pública ou privada. Os professores ou diretores não podem simplesmente falar nada. Nos planos do governo, tudo muito lindo. Na prática, uma verdadeira batalha no dia-a-dia das escolas para os professores conciliarem o aprendizado de crianças normais com as portadoras de deficiência. E, provavelmente, recebendo apoio zero para lidar com a demanda muito maior. Uma criança com Down, por exemplo, tem um retardo mental de leve a moderado. Precisam aprender com técnicas mais lúdicas e que lidem com sua capacidade menor de concentração e reter conhecimentos.

Mas que diferença faz, para um modelo de escola pública baseado em depósitos de crianças, onde ninguém aprende nada e onde outras preocupações políticas e ideológicas se sobrepõem às educacionais? Aí realmente tanto faz. Mas para as escolas e professores sérios no meio dessa bagunça, só fica a sensação de ter sido deixado na frente de batalha sem nenhum auxílio e em uma guerra comandada por loucos.

Fiquei bastante decepcionado ao ver que um tema tão sensível possa ser politizado e polarizado desta forma. Os pais das crianças é que deveriam optar por um sistema ou outro, dependendo do que acharem que funciona melhor. Entidade nenhuma pode se arrogar este direito. Muito menos o governo. Parece uma estupidez tremenda cortar uma rede que já existe em prol de uma nova visão de 'como deveria ser'. Mas a ideologia é assim, não poupa nada.

Referência:

Documento do Ministério da Educação, contrário à educação especial

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